Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.
“Cock Hero” é um velho amigo dos aficcionados da masturbação interactiva. Basicamente, são vídeos porno que imitam o funcionamento básico do Guitar Hero, mas substituem a guitarra pela pila - normalmente fazem sempre referência a ejaculações e não a orgasmos, por isso estão maioritariamente dedicados a um público masculino. Seguindo o ritmo do vídeo porno, o espectador terá que sincronizar as suas sacudidelas fálicas com as diferentes frequências e intensidades que o vídeo vai propondo mediante umas representações gráficas muito intuitivas.
A origem deste género remonta ao longínquo mês de Fevereiro de 2009, quando no portal Milovana - uma comunidade online dedicada à investigação, desenvolvimento e aproveitamento de novas formas interactivas de masturbação que a tecnologia pode proporcionar - um utilizador publicou a génese daquilo que viria a ser o género “Cock Hero”. Podes saber mais sobre a origem deste formato no artigo que os nossos colegas da Motherboard lhe dedicaram em 2015.
Em baixo, a verde, está o ritmo de sacudidelas que deves acompanhar. Imagem via Pornhub.
O “Cock Hero” é uma variante do vídeo JOI (Jerk Off Instruction, no qual uma pessoa - normalmente nua - te dá instruções de como te masturbares), mas levado de forma mais drástica para a esfera dos videojogos. Ainda assim, ao contrário das aventuras gráficas eróticas (vem-me à cabeça Leisure Suit Larry) ou dos videojogos explicitamente porno (como as aventuras hentai ofensivamente simples), o "Cock Hero" propõe uma nova forma de interagir com o porno e de o "gamificar".
Ao contrário de todos esses jogos, que agarram no conteúdo dos filmes pornográficos e o levam para um ambiente de jogabilidade, o “Cock Hero” parte do vídeo porno (a fonte original) para propor em cima deste um sistema de jogo, como uma espécie de add-on ao vídeo e, definitivamente, à punheta. Uma diferença importante é que os videojogos eróticos insinuam a punheta enquanto o “Cock Hero” a evidencia; uma pessoa pode ou não masturbar-se com uma aventura gráfica erótica, mas num vídeo porno interactivo o objectivo é sempre que te venhas.
E isto leva-nos às regras fundamentais do “Cock Hero”:
1) Masturba-te o tempo todo.
2) Segue sempre o ritmo proposto.
3) Vem-te no fim.
Para o utilizador, o objectivo seria, evidentemente, poder aguentar toda esta sucessão de ritmos e frequências e vir-se no fim do vídeo, convertendo-se assim num "herói da pila".
Vê: "Porno Tecnológico"

Alguns vídeos têm até um sistema de pontos, experiência, melhorias e castigos, que se regem pelas falhas ou êxitos do jogador, tudo configurado através de um sistema de controlo puramente pessoal e baseado na sinceridade para consigo próprio, porque só aquele que se masturba sabe os pontos que está a ganhar ou a perder e como os aplicar. Não há nenhum sistema de pontos integrado nos vídeos porque, afinal de contas, são só vídeos e a comunicação é unidirecional. O utilizador não pode fornecer dados ao jogo durante o desenrolar da gravação, só pode "ver" e educar este visionamento para chegar a um pacto tácito com a sua própria pessoa ao longo do filme.
A questão é que só agora é que o Pornhub decidiu prestar atenção a este género e revelar uns quantos dados sobre o assunto. A popularidade do formato não é uma loucura, mas também não é de se subestimar. Actualmente, podem encontrar-se mais de mil vídeos etiquetados desta forma, entre os quase oito milhões de vídeos alojados no portal. Durante 2018 pesquisou-se mais de 10 milhões de vezes este género e alguns dos vídeos foram reproduzidos milhões de vezes, números nada maus para um vídeo do Porhub, já que os mais vistos rondam, habitualmente, o meio milhão de views.
Para sublinhar que este jogo é coisa de homens - ou de pessoas com pila -, o Pornhub informa-nos que são precisamente os homens que têm mais do dobro de probabilidades de ver estes vídeos. E estes tipos levam a coisa a sério, porque normalmente vêem-nos durante mais do dobro do tempo do que a média dos outros vídeos do Pornhub.

Espanha está no décimo primeiro lugar entre os países que mais vêem este género (empatada com Portugal), sendo que é a Finlândia quem leva a medalha de ouro, com mais do dobro de visitas do que os vizinhos ibéricos.
Ainda assim, apesar desse boom inesperado que o género alcançou em Março de 2017 - coincidindo precisamente com o lançamento do último Rock Band VR, o videojogo -, ultimamente o interesse por este tipo de masturbação interactiva parece ter diminuído fortemente, talvez devido ao desconhecimento por parte das pessoas - ao fim e ao cabo a pouca gente se lhe ocorreria procurar "cock" e "hero" no Pornhub -, ou simplesmente porque o formato chegou a um ponto sem retorno, em que estancou porque a novidade já não é suficiente para atrair novos clientes. Mas, quem sabe, pode ser que ainda volte aos seus tempos de glória; pessoalmente, a ideia de um "Guitar Hero" com a pila nunca deixará de me fascinar.
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