As piores coisas do transporte coletivo

Além da morte e dos impostos, nós temos outra certeza na vida: pegar transporte público lotado no Brasil. Se você mora em São Paulo, já consegue visualizar as filas quilométricas para carregar seu bilhete ou pra pegar aquele busão que passa só de 30 em 30 minutos e vem carregado de gente do primeiro ao último ponto.

A experiência de andar de transporte público é comum a todos os brasileiros que andam ou já andaram neles. Tem horas que você tem sorte de ter uma viagem tranquila, ouvindo música ou lendo seu livro separado especificamente para você aguentar a volta pra casa. Mas tem dias que o transporte público é democrático e infernal para todo mundo. Ele está superlotado, sujo e cheio de gente que não respeita o famoso senso de viver em comunidade.

Eis as piores coisas que todo brasileiro precisa passar diariamente ao utilizar o transporte público.

Já vi mulheres fazendo a mesma coisa, mas homens parecem ser muito especiais para sentarem com as pernas um pouco mais fechadas, roubando todo o espaço e fazendo você se encolher inteira no assento por causa do Sr. Bolas Murchas.

Sou a favor de você ter sua religião, mas colar às 19 horas berrando no meio do coletivo palavras como “pecado” e “Jesus” só me faz querer cada vez mais me converter ao satanismo e sacrificar o sangue dos inocentes.

Você agora vai passar toda sua viagem olhando para a rua ou para o nada pensando em tudo de ruim que você fez no verão de 2014.

Sempre está alto demais para o bolso brasileiro, já gerou (muitos) protestos e nunca vale todo o estresse e cansaço que você passa para se deslocar.

São os terminais de ônibus e algumas estações de metrô e trem de São Paulo que sofrem com esse alimento oriundo de Chernobyl. O cheiro deles começa a se manifestar quando os quiosques de salgadinhos começam a assá-los e precisa de alguns minutos para esse cheiro se alojar para sempre naquela sua parte do cérebro que cataloga odores.

Algumas vezes eles são vistos nas mãos de gente que acha que o ônibus é mesa de janta.

Você até tenta se desviar dele. Sai de casa um pouco mais cedo para ser menos espremido no transporte, mas é impossível. Sete da manhã e o bagulho já tá 100% micareta do trabalhador. O brasileiro pode dizer que todos os dias tem uma experiência fora do corpo que é se tornar uma sardinha espremida numa lata velha junto com outras sardinhas tristes.

Feliz é aquele que consegue ir e voltar do trabalho sentado ou com um espaço de 1m² sem ser ocupado por mais três pessoas.

A sensação de quando isso acontece é parecida com a morte. Você pegou as chaves, celular e o fone de ouvido. Carteira tá no bolso. O ônibus tá até um pouco vazio e você tem esperanças de poder ir sentadinho até o trabalho. Na hora de passar a catraca vem aquele suor frio que desce cruel na sua testa: o passe ficou em casa.

Mesmo consciente da sua desgraça, você ainda dá aquela olhada na carteira para ver se rola de pagar com dinheiro. Não dá, você tá zerado. Até achar um caixa eletrônico são mais de vinte minutos de atraso. Agora você precisa voltar até sua casa, derrotado e se sentindo um imbecil para pegar o maldito passe.

Todo mundo está com pressa para ir ao trabalho ou voltar pra casa. Mas o Senhor Eu-Quero-Chegar-Antes-Que-Todo-Mundo faz questão de não só bloquear a porta de saída, como faz cara feia quando alguém reclama que precisa passar.

Ei você aí, tô te vendo, cara. Eu sei que você tá fingindo dormir pra não precisar dar lugar para uma velhinha ou para uma moça que está segurando o filho pequeno no colo. Eu sei que você tá cansado, eu sei que você também acha que todos os lugares são preferenciais e que os outros também deveriam dar lugar. Mas isso que você tá fazendo não só é uma prova cabal de que és um baita arrombado, como também mostra que você quer mais que se foda o resto.

Espero que ninguém te dê lugar quando você for idoso e querer sentar. Dá o lugar aí, cacete.

Sim, está frio. Ah sim, claro, está chovendo. Não estou te pedindo para escancarar todas as janelas, tô pedindo para abrir um pouco algumas para que depois ninguém fique com tuberculose ou com uma gripe pesada.

Costumam ser homens na sua maioria. São homens tão certos de que nada irá acontecer com eles que vão lá e assediam mulheres, seja encoxando ou tentando raspar o pênis nelas.

Vocês têm sorte é que cortar piroca não é pena prevista no Código Penal por abuso sexual.

Ele te viu. Ele viu sua mão levantada. Viu também a do colega ao seu lado que vai pegar o mesmo coletivo. O motorista até ensaia uma brecada no ponto, mas ele acelera de última hora te deixando sozinho de mão estendida, se sentindo um imbecil por ter sido ignorado e com pensamentos homicidas.

Eu te respeito, mas se você veio sentar do meu lado falar da minha tatuagem ou da sua sobrinha que não toma jeito, você veio no lugar errado. Eu quero só paz na minha vida.

Não basta desembolsar uma pequena fortuna todo dia para ir e voltar do trabalho. Não, imagina. Os ônibus precisam ser também velhos, sujos e algumas vezes infestados de baratas e outros bichos duvidosos que crescem nos cantos sujos e ensebados por causa das comidas e restos esquecidos no transporte público.

Isso quando ele não quebra no caminho de casa.

Você é que nem o cara que fica na porta do transporte mesmo quando não precisa descer: só pensa em si mesmo. Tire a porra da sua mochila e leve ela na mão quando estiver no transporte público. Não é lá muito difícil fazer isso, cazzo.

Houve uma época da minha vida que eu demorava quase três horas diárias para voltar pra casa. Eu saía morta de fome e só pensando na minha cama. Quando o negócio estava grave, comia antes de entrar no ônibus. Sabe por quê? Porque é uma merda sentir cheiro da comida alheia dentro de um espaço apertado, cheio de odores diferentes e gente empilhada

Você simplesmente não compra um yakissoba da barraca da rua e come como se fosse sua casa no meio do coletivo. Isso acaba com a paz de qualquer pessoa sã.

Ok, chato, mas diz aí se você já no leu por acidente o zap alheio? Às vezes tem uma pessoa na sua frente falando com a cheirosa e quando você menos espera já está acompanhando ao vivo o papo e já acha que os dois precisam melhorar mais a parte da comunicação do relacionamento.

Você para de ler sempre quando pensa que é bem esquisito quando um completo estranho também lê suas coisas sem você perceber no transporte.

Tudo bem que essa mania de ouvir áudio sem fone de ouvido no transporte coletivo está quase extinta depois do fenômeno do gemidão do zap, mas vira e mexe vem um sem noção ouvindo música ou falando com alguém no viva voz.

Parece esporte. Você acaba de subir no ônibus e o motorista acelera como se não houvesse um futuro próximo. Você mal consegue se equilibrar. Embora ônibus não tenha cinto de segurança, você passa a viagem toda desejando que tivesse porque o motorista faz curva fechada em alta velocidade, passa sinal vermelho e coloca à prova aquele ônibus sanfonado que mais parece um acidente em potencial.

Entendo que deve ser um saco o trabalho do cara, mas seria melhor se ele não matasse os passageiros dentro dele.

Se você é uma pessoa normal que não participa de maratonas pelo prazer de correr, sabe o tamanho da humilhação que é correr cheio de coisa na mão e com a mochila nas costas para não perder o coletivo. Todo mundo olha pra você. Tem gente que nem sai da sua frente. É a pior sensação, depois de esquecer o passe em casa. É a morte súbita da vida real. Você tem que escolher entre não correr e ficar mais um tempão parado pra pegar o coletivo ou ter um derrame no meio do ônibus depois de correr 100m que nem um maratonista da São Silvestre para conseguir pegá-lo.

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