Carta aberta ao bombista suicida de Manchester

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Opinião

Carta aberta ao bombista suicida de Manchester

O que eu diria se pudesse falar com o autor do atentado na Manchester Arena.
EF Sama
ilustração por EF Sama

"Evil loser",

Estejas onde estiveres, chamuscado ainda pela total estupidez do acto perpetrado há dias, gostaria de saber o que te levou a fazer o que fizeste. Sempre tive esperança de que o mais cobarde dos humanos não fosse tão vil nos seus actos, mas ao ver o que aconteceu no Holocausto perco logo vontade de ser um anti-pena de morte. Bem, no teu caso, isso não valia a pena, pois já foste desta e, julgas tu, para melhor.

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E se isso acabou mesmo por acontecer, que te tenham saído na rifa as "virgens" mais feiosas do suposto paraíso. Se fores um daqueles homofóbicos com medo de apanhar o sabonete do chão, que te tenha saído o tiro pela culatra e, ao chegares ao destino, tenhas apanhado homens musculados que te façam a folha de todas as formas possíveis e imaginárias. Sodomizado diariamente com chicotadas é o que, no mínimo, merecias. Isso ou aquele sofrimento lento oferecido por Hannibal Lecter a algumas das suas vítimas. O tipo do Silêncio dos Inocentes teria todo o gosto nisso. E, logo tu, que de inocente não tens nada.

Quaisquer palavras utilizadas por mim em relação à tua pessoa, serão sempre entendidas como soft, quando comparadas com o sucedido às portas do concerto na Arena de Manchester. Acho até que as milhões de pessoas que estão do meu lado, nem teriam pachorra para te dar tempo de antena e, se pudessem, te atirariam directamente para um qualquer fogo, ou reuniriam os vizinhos para te pontapear e foder o focinho.


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Abri esta carta com uma expressão dita por alguém que nada admiro (yup, "Mr. Trumpalhadas") e que, provavelmente, seria o alvo preferido dos que te fizeram a cabeça. Mas, ao contrário de ti e dos gajos que te deram a volta, quando não gosto de um político uso o meu voto, participo em manifestações, ou faço parte de alguma organização que, através de críticas construtivas, pretenda lutar contra o poder instituído. De certeza não vou reagir à "lei da bala" ou, como tu fizeste, explodir-me no meio de gente completamente indefesa e atropelar indiscriminadamente pessoas na via pública, como os teus "companheiros" fizeram em tempos recentes.

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Bem sei que, desde há alguns anos a esta parte, para a nova vaga terrorista na Europa vale tudo – caso não saibas, antes tivemos, entre outros, o IRA e a ETA. Nesta segunda-feira à noite, ao ver o noticiário, das muitas coisas que me passaram pelo cérebro – algo que tu definitivamente perdeste no dia em que começaste a engendrar o plano diabólico -, só pensei no que se segue. Um ataque a um infantário? A uma maternidade?

Independentemente da idade, credo, raça, ou classe social, ninguém merece ter a sua vida em jogo porque tu, em nome de qualquer coisa inenarrável (please, nem me venhas com o raio da desculpa religiosa), acha que todos os meios justificam os fins.


Vê também: "Luz em lugares sombrios"


Pelo que vejo, és filho de refugiados. Sei que não pensaste nisso e que te estás a marimbar para os que vêm para a Europa refazer as suas vidas. No entanto, por causa de ti, os incautos irão culpar todos que procurem oportunidades no Velho Continente. Só espero que não se meta tudo no mesmo saco e que não haja indivíduos que vejam, por cada refugiado, um potencial malfeitor ou bombista.

Tal como os teus comparsas de outros actos similares, se o teu objectivo foi chamar a atenção para reclamares as tuas frustrações pessoais e o vazio do teu quotidiano - mascarado por alguma reivindicação que aches nobre -, conseguiste ter o habitual circo mediático neste género de eventos.

Mesmo assim, podes ter a certeza de uma coisa. A sociedade onde causaste dor e sofrimento pode elevar o nível de segurança ao máximo, como se tivesse em plena Segunda Guerra Mundial, mas jamais deixará de seguir o trilho da espuma dos dias. A vida não é perfeita, é certo, mas não é por causa de desequilibrados como tu que iremos torná-la pouco atractiva. Eu e os "normais" deste Planeta, preferimos utilizar somente o termo "terror" quando assistimos a um filme, ou quando a nossa equipa de futebol apanha pela frente um ponta-de-lança com a eficácia como middle name.

A liberdade nunca pode ser definida por excrementos iguais a ti.

Para terminar, aos teus sucessores, um só desejo. Que se expludam no momento em que estejam a preparar o dito cujo, seus cabrões do… !