Fazer coisas sozinho pode ser um desafio pra muita gente. Eu mesma me incluo nesse grupo. Os motivos são basicamente: a solidão e o medo, sem contar aquele desconforto de achar que estou sendo julgada ao fazer algo que meio mundo acha que eu deveria fazer acompanhada (sim, estou tentando tratar tudo isso na terapia), como sair pra jantar ou ir ao cinema, por exemplo.Quando o assunto é viajar sozinha, me preocupo menos, mas confesso que nem sempre é fácil. Estar naquele lugar maravilhoso e não ter do lado alguém pra curtir junto (e dividir os perrengues também) é meio frustrante. E, como mulher, às vezes também tenho que encarar as mesmas tretas machistas de sempre: olhares e investidas nojentas, pessoas perguntando onde está o meu namorado e o receio de ser estuprada ou assaltada andando sozinha à noite.
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Mas olha, viajar sozinha pode ser bem bom: me perder pelas ruas de Praga simplesmente porque me deu vontade, passar 20 minutos olhando embasbacada pro Código de Hamurábi no Museu do Louvre sem me preocupar com quem estivesse me esperando impaciente, chegar em Arequipa às 5h da manhã, sem hospedagem reservada, escolher um hostel por intuição e conhecer pessoas incríveis e loucas que vou lembrar pra sempre, ficar pelo menos duas horas sentada em um morro, entre as ruínas de Machu Pichu, desenhando, porque queria, do meu jeito, aproveitar cada segundo daquele que foi o meu sonho desde os 10 anos de idade.Então, neste fim de ano, antes da temporada oficial de férias, conversei com mulheres que viajaram sozinhas. São exemplos de várias jornadas que nos lembram que você pode ser, sim, sua melhor companhia.
Mariana Rydlewski, 29 anos
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Goldie Aragão, 37
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Cris Marques, 33
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Camila Mont’Alverne, 25
Juliana Diógenes, 27
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Gabriele Lamarck, 25
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Thaís Carneiro, 27
Lívia Aguiar, 30
Quando fui viajar pela primeira vez sozinha, em 2008, eu tinha uma longa lista de dúvidas e medos, mas também um enorme desejo por aventura. O desejo de liberdade venceu, fiz minha mochila e fui. Eu tinha 21 anos, estava morando no Paraguai, num intercâmbio pela universidade, e conheci várias mulheres mochileiras que me mostraram que viajar sozinha não era complicado nem mais perigoso do que viver no Brasil (ou no Paraguai). No final da minha estadia em Assunção, decidi ir por terra até Lima, no Peru, e pegar meu voo para BH de lá. Naquela época, não tinha acesso tão fácil à internet, mas essas mulheres desbravadoras que me inspiraram também me incentivaram e deram dicas de cidades, passeios, albergues e restaurantes que caberiam no meu orçamento de estudante. Montei um roteiro, mas o trajeto mesmo eu desenhei em tempo real, enquanto viajava. Lá fui eu América Latina adentro com meu caderninho recheado de recomendações que eu completei com minhas próprias experiências. A cada cidade que eu visitava, eu me libertava dos medos que alimentava na minha cabeça e vivia experiências que nunca tinha imaginado, como fazer um tour de jipe pelo Salar de Uyuni na Bolívia, andar pelos trilhos do trem até Machu Picchu e encontrar de novo e de novo vários conhecidos da estrada em diferentes cidades, já que a maioria das pessoas está fazendo mais ou menos o mesmo roteiro. Terminei esse mochilão de um mês viciada em viajar sozinha. Três anos depois, depois de experimentar o mercado de trabalho e juntar dinheiro, saí para fazer uma volta ao mundo durante 9 meses. Hoje, tenho 30 anos, 27 países carimbados no passaporte e 13 estados do Brasil visitados. Ainda falta muito para conhecer o mundo inteiro, mas não tenho pressa: mais importante que riscar um lugar da lista é o que eu vejo, ouço, sinto, conheço e aprendo no caminho.(Lívia é autora do blog de viagens www.eusouatoa.com)Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.