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O Tufão Haiyan Me Transformou de Turista em Médico

Mark Dashwood, um médico de Devon, Inglaterra, fez o que milhares de turistas ocidentais fazem todo ano e foi viajar pelo Sudeste Asiático. Só que o tufão Haiyan chegou lá na mesma época.

Todas as fotos cortesia de Mark Dashwood.

Mark Dashwood, um médico de Devon, Inglaterra, fez o que milhares de turistas ocidentais fazem todo ano e foi viajar pelo Sudeste Asiático. Só que o tufão Haiyan chegou lá na mesma época, matando milhares de pessoas e destruindo casas e meios de vida de outras dezenas de milhares. Nem preciso dizer que as férias do meu amigo Mark acabaram aí. Ele decidiu, então, usar suas habilidades médicas para ajudar as vítimas do desastre do melhor jeito possível. Liguei para ele recentemente para saber como as coisas estão indo.

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VICE: Onde você estava quando a tempestade chegou?
Mark Dashwood: Eu estava em Boracay, uma ilha bem turística no centro das Filipinas.

As pessoas tinham ideia de que seria assim tão ruim?
Li sobre a tempestade no site da BBC dois dias antes, mas ninguém mais tinha ouvido falar nisso. Falei com o dono do hostel onde eu estava hospedado e ele organizou uma reunião para avisar o resto [dos hóspedes]. Li o máximo que pude on-line e, assim que percebi quão grande a tempestade seria, marquei um voo para Manila na manhã seguinte. Muita gente queria ficar, dizendo que não ia ser tão ruim assim, mas eu queria dar o fora logo.

Compreensível. E você conseguiu?
Fui até o porto no dia seguinte, para tentar deixar a ilha, mas ele estava fechado. Centenas de pessoas estavam tentando fazer a mesma coisa e não conseguiram sair.

Que merda. Por que eles fecharam o porto?
Acho que foram ordens do governo. Eles receberam o sinal de quão forte a tempestade ia ser e Boracay recebeu sinal 4, que é o pior. O governo mandou fechar tudo. Naquele momento, fiquei muito frustrado, pois eu tinha um voo marcado para o continente e o aeroporto fica a somente 10 minutos de barco da ilha. Pensando agora, acho que foi melhor assim, as pessoas que conseguiram cruzar tiveram os voos cancelados. Havia uma falta de infraestrutura no continente, o que significa que muitos tiveram que ficar em cabanas, só esperando o tufão passar. Faz sentido eles terem tentando conter as pessoas.

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Acho que sim. Onde você está agora?
Estou em Cebu, uma cidade que não foi tão afetada pela tempestade; as áreas mais destruídas estão ao norte de Cebu e nas ilhas do leste, como Tacloban. Há muitas áreas rurais onde ninguém tem certeza do tamanho dos danos até agora. Cebu está meio que se tornando o centro de onde todo o esforço de ajuda está sendo coordenado. Os lugares atingidos de forma mais grave ficam a apenas duas ou três horas de carro daqui.

As pessoas estão indo para Cebu, então?
Sim, o aeroporto está bem movimentado. Muitas organizações de ajuda começaram a chegar, [e também] os militares. Apesar disso, ainda está difícil chegar aqui; muitas estradas estão fechadas.

Qual é o papel dos militares?
Os militares foram acionados principalmente para tentar controlar a situação – tem havido muitos saques em lugares como Tacloban. Ouvi histórias de que os militares estão atirando nas pessoas. Todo mundo está preocupado. Cebu não foi tão afetada, mas há muitas pessoas vindo de lugares remotos – pessoas que perderam toda a família. É muito trágico.

Passei os últimos dias tentando encontrar maneiras de ajudar as organizações médicas. Ontem, eu estava num prédio do governo ajudando a embalar comida e arroz – toneladas e mais toneladas estão chegando. Amanhã viajo para o norte e não sei exatamente o que esperar.

Então a ajuda estrangeira está chegando?
Sim, está. Há um aeroporto em Cebu, mas é muito mais difícil levar ajuda para as áreas remotas. Todas as estradas estão destruídas, há escombros por toda parte. Eu estava no aeroporto e me sentei ao lado de uma pessoa da ONU. A Organização Mundial de Saúde está chegando – então, sim, as pessoas estão começando a aparecer. Mesmo em Tacloban, os aviões ainda conseguem entrar. Mas levou muito tempo – quer dizer, faz mais de uma semana agora. As pessoas estão famintas e desesperadas.

Você não é mais um turista, é?
Tem sido algo muito surreal ser arrastado por essa coisa toda. Boracay não foi tão afetada, então, fiquei me sentindo meio inútil sentado lá na praia. Um dinamarquês recebeu dinheiro de casa e alugou um caminhão, aí ele e mais algumas pessoas estavam tentando levar ajuda para as áreas mais afetadas sozinhos. Muita gente foi para casa, mas ainda tem algumas pessoas tentando seguir com as férias.

Você planeja ficar por aí?
Fico aqui até dezembro, então acho que vou ajudar até lá. Quando você se envolve é difícil partir. Você vê e ouve falar sobre desastres assim o tempo todo, mas quando você realmente passa por isso, é muito pior do que você poderia imaginar. Tenho um pouco de experiência médica, então é minha obrigação fazer alguma coisa.

Siga o Tristan no Twitter: @tristanjamesme