Joguei Pokémon Go sem um celular
Todas as fotos por Chris Bethell/VICE.

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Joguei Pokémon Go sem um celular

Meu celular é um verdadeiro lixo então não consigo usar o aplicativo, mas isso não me impediu de ‘catch’em all’.

Matéria original da VICE UK.

Não dava mais para esperar. Eu já não ligava pra mais nada. Eu só queria ter a sensação de perseguir um Vulpix por um campo, alimentar um Rattata com um Candy e ver ele evoluir, trocar dicas com outros aspirantes a mestres pokémon. Eu queria estar numa matéria do Huffington Post sobre ser assaltado na frente de um ginásio pokémon em Dalston. Eu precisava de Pokémon Go.

Só tinha um problema: meu celular é uma bosta. Bem bosta mesmo. A tela está rachada, só consigo guardar umas quatro fotos, e às vezes ele trava sem eu nem ter feito nada. Ele só serve para mandar mensagem mesmo. A câmera quebrou. Não consigo logar na loja de aplicativos. Era impossível baixar o jogo assim.

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Foto por Chris Bethell/VICE.

Mas a falta de um aplicativo deveria me impedir? Pokémon Go é mais que um mero aplicativo. É uma força que fez o impensável; que acordou uma geração. Que fez a gente se levantar das nossas cadeiras ergonômicas, que nos fez parar de pensar em sexo e chutou nossas bundas porta afora. Eu ia deixar a falta de uma porra de um aplicativo obstruir o meu caminho? Ou eu seguiria o chamado da minha geração, sairia de casa e faria acontecer? Só havia uma opção e essa era meu destino: sair pelas ruas de Londres sem aplicativo, e jogar o jogo com uma simples tarefa em mente — pegar todos eles. Eu só precisava de alguns itens:

Foto por Chris Bethell/VICE.

Pokébolas, check, Pokérroupa, check — eu estava quase pronto para começar minha jornada. Mas faltava uma coisa imperativa, embarcar no mesmo ritual que 70 milhões de pessoas passaram antes para entrar nesse universo: entregar todas as minhas informações pessoais. Então dei um beijo de adeus no meu passaporte e na minha conta no banco, e os deixei no jardim de casa, disponíveis para o consumo público. Essas coisas não tinham mais importância, eu estava pronto para ser consumido, para começar minha nova vida: eu estava pronto para me tornar um mestre pokémon.

Foto por Chris Bethell/VICE.

Agora eu tinha muitas capturas a fazer. O mundo está jogando Pokémon Go há quase uma semana e cada postagem de um Rattata com nome engraçadinho e avistamento de um Articuno raro no Reddit era uma tortura. Eu não tinha nem pokémon nem senso de humor pra isso. Então fui atrás de uma comunidade de treinadores. E depois de andar pelas ruas, observar por cima de muros e cabriolar por becos, acabei achando um grupo de candidatos.

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Foto por Chris Bethell/VICE.

"Oi, gente. Por acaso vocês sabem onde é um bom lugar para pegar pokémons por aqui?"

"Desculpe, o quê?", respondeu esse cara, jogando um saco de cascalho no chão.

"Sou um treinador de pokémons e estou procurando um lugar para capturar pokémons, de preferência um pokémon de fogo, mas não sou muito exigente."

"Não tô entendendo nada, cara." Olhando para os amigos, ele continuou. "Sério, parece que você está falando outra língua."

Meus alarmes dispararam, então fugi de lá correndo. Conheço essa conversa e conheço esses três rostos — Jessie, James e, claro, Meowth — um golpe clássico da Equipe Rocket. Mas eles iam precisar de disfarces melhores para enganar este treinador aqui. Ainda assim, eu precisava de conselhos de alguém envolvido nos procedimentos desse universo. Eu precisava falar com o Professor Carvalho.

Comecei a procurar no Google e depois de alguma pesquisa, encontrei. O professor estava trabalhando na Universidade Northampton, mas usando o nome "Dra. Carvalho Berridge", disfarçado de mulher e de especialista em história do Sudão. Clássico Dr. Carvalho. Então escrevi um e-mail com todas as minhas dúvidas.

Apesar de o professor ter ignorado meu e-mail, acho que ele deixou sua mensagem clara: ninguém vai te pegar pela mão pra te ensinar tudo nessa vida. Às vezes você é levado até a porta e precisa confiar em si mesmo para dar um passo além. Agradeci o professor, já que agora entendia que precisava dar esses passos sozinho.

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Foto por Chris Bethell/VICE.

Então me fechei para o resto do mundo, encarei minha pokébola e segui apenas meu faro para encontrar os pokémons. E depois de altos e baixos, de acompanhar rios e de entrar em muitas ruas sem saída, como por mágica, cheguei exatamente onde precisava estar: o parque. O tipo do lugar onde você lê tuítes sobre Magicarpas borbulhando nas fontes e Nidorans brincando na grama. Olhando para o horizonte e respirando pokéar, não consegui acreditar nos meus olhos: outro treinador!.

Foto por Chris Bethell/VICE.

"Você está jogando, colega?"

"Pokémon Go", ele sorriu. "Estou sim. Meu nome é Doug."

"Eu também!", eu disse. "Meu nome é Oobah. Podemos jogar?"

"Sim, claro."

"Onde está o pokémon?"

"Eles estão por todo lado aqui."

"Mas onde?"

"Bom, tem um Vulpix bem aí?"

Eu tinha que confiar no Doug nessa. Estávamos no mesmo time agora. Lancei minha pokébola instintivamente no Vulpix.

Foto por Chris Bethell/VICE.

"Eureca!", gritei, pulando no ar e correndo atrás da minha pokébola. "Peguei meu primeiro pokémon!"

"Você está me zoando?", perguntou Doug. Mas olhei feio para ele e fui embora — ele era um competidor agora, e claramente havia mais pokémons por ali. "Tipo ali", espantei os pássaros do meu caminho. "Acho que vi um Gyarados!"

Foto por Chris Bethell/VICE.

Boom! Pesquei minha pokébola do rio e, depois de uma hora, eu tinha um arsenal completo de pokémons no meu bolso. O sonho estava ganhando vida. Evoluí de uma mera pessoa para um treinador. Só havia um próximo passo lógico a dar: eu tinha que conquistar um ginásio. Mas para isso, eu precisava estocar alguns Sweet Candys para os meus pokémons e me aliviar. Eu precisada de uma Pokéstop. Então fui até a mais próximo.

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Foto por Chris Bethell/VICE.

É meio estranho esse negócio de Pokéstop. Parece uma loja do mundo real, mas sem nenhuma lei. Por exemplo, li na internet que você pode trocar um pokémon que não quer por um Sweet Candy, mas quando fiz essa pergunta ao balconista, ele balançou a cabeça vigorosamente. Então peguei uma caixa de ovos e perguntei ao homem se eles chocavam a 5 km ou 10 km. Ele só suspirou. Comprei os ovos.

Era hora de conquistar o ginásio. Era hora de clamar o que era meu por direito, então respirei fundo e entrei pela porta.

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Passei pelas quadras de badminton, os treinadores beta e fui direto para o pessoal foda: os alfas. Era isso, o anfiteatro que decidiria meu destino, comecei a chamar as pessoas.

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"Quem quer batalhar com meus pokémons?", vociferei. "Cansei de treinar, estou pronto para dominar esse ginásio." As pessoas nem conseguiam me olhar nos olhos: elas estavam apavoradas. Andei no meio delas, entre os poképesos, girando minha pokébola enquanto os olhos deles acompanhavam cada movimento. Eles estavam implorando por piedade, um deles até me pediu pra sair. Então resolvi atendê-los, porque não havia treinador capaz de me desafiar. Venci a batalha.

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O ginásio era meu! Eu estava no topo do mundo; um mestre em ascensão. Eu não conseguia nem imaginar o que podia alcançar desse dia em diante, eu ia —

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Que merda! Que puta merda! A coisa toda voou direto na minha cara. "Você tá falando sério?", uma mulher perguntou, e eu queria gritar a mesma coisa: perdi todos os meus pokémons, meu ginásio e tudo que dei tão duro para conseguir num instante. Puta mundo injusto! Pokémon Go é uma bosta mesmo.

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Pelo menos eu ainda tinha meus ovos. Eu já devia ter andado 5 km agora.

Foto por Chris Bethell/VICE.

Continua abaixo.

Foto por Chris Bethell/VICE.

Era inútil. O que eu estava pensando? A mulher que gritou comigo na rua estava certa: Eu estava falando sério? Claro que não, olhe só pra mim! Desertei meus próprios pokémons, e agora não tinha motivo pra viver. Tentei furar a fila com Pokémon Go: definir uma geração e me tornar um mestre, mas eu não era um mestre pokémon. Eu era só um moleque com um boné descolado. Mas então. Então olhei pra cima.

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Claro! O zoológico infantil Battersea Park. Entrei correndo pelos portões e me vi num oásis. Eu não conseguia acreditar nos meus olhos: era uma Valhalla Pokémon! Passei de jaula em jaula, cantarolando a música tema de Pokémon.

Psyduck!

Growlithe!

MEGAMULE!

Foto por Chris Bethell/VICE.

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Eu estava certo! Eles estavam todos aqui; todos os pokémons da Terra, e eu, o único humano à vista. Em poucas horas, me tornei o maior mestre da história! Doce vitória, eu sentiria seu gosto por toda a eternidade. "Sou o melhor, o melhor de todos!", cantei a plenos pulmões e apontei para o Megamule, "Te capturar é meu derradeiro teste, te treinar é minha causa!"

Foi quando um treinador do zoológico surgiu de um prédio próximo, certamente para me parabenizar ou reclamar da cantoria. Ele veio caminhando na minha direção, cada passo mais hesitante. Sua expressão explodiu num sorriso maldoso: ele estava com o celular na mão. Ele apontou diretamente para mim. E isso só podia significar uma coisa: eu não era um treinador de pokémons. Eu era um pokémon!

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"Você achou que ia se safar, né, Oobah? E veja só agora, você está em minhas mãos. A verdade é: se você não tem o aplicativo, o aplicativo tem você."

"Por favor, senhor, não!"

"Sim, Oobah. Você fez todas essas patifarias achando que era um pokécaçador, Oobah, mas acontece que você é a poképresa. Como o resto do mundo: apenas uma parte do jogo. E só tem uma coisa que devo dizer sobre as poképresas, Oobah: tenho que pegar todas."

"Essa é minha fala!"

"Oobah selvagem: seu CP é baixo, mas é hora de ir!", ele gritou.

"Não, não, nããããããão!!!"

Foto por Chris Bethell/VICE.

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