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Explicando as acusações contra o 'pharma bro' Martin Shkreli

O CEO ficou conhecido quando aumentou o preço de um remédio em 5.000%, por comprar a única cópia de um disco lendário do Wu-Tang Clan e quando deu uma entrevista dizendo que seu comportamento escroto e sua ganância se qualificavam como arte...

Martin Shkreli sendo preso. (AP Photo/Craig Ruttle).

Na quinta-feira passada, o mundo acordou com a notícia de que um dos homens mais odiados dos EUA, Martin Shkreli, 32 anos, tinha sido preso. O CEO da Turing Phamaceuticals ficou conhecido em setembro, quando aumentou o preço de um remédio em 5.000%. Em dezembro, o CEO foi notícia mais uma vez por comprar a única cópia de um disco lendário do Wu-Tang Clan e, no dia 16, deu uma entrevista bizarra para um blog de hip-hop dizendo que seu comportamento escroto e sua ganância se qualificavam como arte performática.

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Entretanto, quando os federais levaram o empresário com cara de bebê de seu apartamento em Manhattan algemado, a prisão não teve nada a ver com as coisas pelas quais ele virou manchete alguns meses atrás. Apesar de o público estar pirando com a perspectiva de justiça para as pessoas com toxoplasmose – a doença tratada com o Daraprim, que subiu de US$ 13,50 para US$ 750 –, explorar doentes é perfeitamente legal nos EUA.

Então, o que Shkreli fez exatamente para ser preso? Na tarde de quinta, o novo promotor federal Robert Capers presidiu uma entrevista coletiva lotada no Brooklyn. Lá, o promotor mostrou um fluxograma descrevendo o "esquema estilo Ponzi" que Shkreli teria perpetrado quando era gestor de fundos.

As sete acusações contra Shkreli são de que ele bolou um esquema em três partes com ajuda de um advogado chamado Evan Greebel. Basicamente, segundo o governo, ele, em 2009, deu início a um fundo de investimento chamado MSMB Capital Management LP que perdeu muito dinheiro. Apesar de ter dito aos investidores que tinha US$ 35 milhões em ativos sob sua gestão, o fundo tinha menos de US$ 700 no banco em certo momento.

Em 2011, segundo a promotoria, Shkreli começou outro fundo de investimento chamado MSMB Healthcare LP e usou os US$ 5 milhões de investimentos desse negócio para pagar os investidores do projeto anterior.

"Mas, como Shkreli tinha mentido para seus investidores sobre a performance excepcional de seus investimentos, ele se viu numa encruzilhada", explicou Capers na entrevista coletiva. "Ele podia admitir ter perdido o dinheiro e ter todas as outras mentiras descobertas, ou podia continuar mentindo e pagar os investidores de outro jeito. E, como Shkreli já tinha feito no passado, ele decidiu mentir."

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Aí Shkreli cofundou mais um empreendimento, a companhia biofarmacêutica Retrophin, que teve as ações abertas para o público em 2012. Em seguida, ele teria usado ações da Retrophin para pagar seus investidores anteriores, dando a ilusão de que não tinha perdido o dinheiro deles, de acordo com o promotor. Depois, ele mexeu em seus relatórios para parecer que estava cobrando taxas de consultoria aos investidores quando, na verdade, estava usando sua empresa como cofrinho pessoal.

Em 2014, a Retrophin tirou Shkreli da posição de CEO e depois o processou, alegando que ele tinha começado a empresa apenas para pagar as pessoas enganadas pela MSMB. (Shkreli chamou essas alegações de "despropositadas".) A acusação atual espelha esse processo civil.

Greeble, um advogado de 42 anos que atuava como conselho externo da Retrophin, foi acusado de conspiração para cometer fraude eletrônica por sua participação nisso. Quando Shkreli subiu o preço do Daraprim, ele fez isso como CEO da Turing Pharmaceuticals. Durante a entrevista coletiva, Capers não especulou se o aumento do preço do remédio tinha algo a ver com a suposta conduta criminosa do acusado, porém, em qualquer caso, Shkreli renunciou a seu posto na Turing.

O artista performático wannabe pode pegar 20 anos de cana por fraude de títulos, conspiração para cometer fraude de títulos e conspiração para cometer fraude eletrônica – e há a possibilidade de mais prisões enquanto o caso se desenrola, completou Capers.

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Advogado, ex-membro da Assembleia Estadual de Nova York e ex-candidato a promotor geral, Richard Brodsky frisou que não vale a pena se apegar à palavra Ponzi e que esse caso "não tem nada de complicado". Afinal de contas, como ele acrescentou: "Não precisa ser um mago das finanças para entender que mentir sobre um investimento é crime.

"A questão interessante é por que ele continuou chamando atenção mesmo sabendo o que estava acontecendo", continuou Brodsky. "Quer dizer, sabendo que está cometendo um crime, você teria de ter uma sensação de impunidade induzida por LSD ou se manter longe do olho público."

Shkreli foi solto na tarde de quinta-feira, depois de pagar uma fiança de US$ 5 milhões, e divulgou uma declaração desafiadora:

Não é coincidência que essas acusações, resultado de investigações que vinham definhando há muito tempo, foram feitas no mesmo instante que as atividades públicas controversas e não relacionadas do Sr. Shkreli. Numa entrevista coletiva, o governo sugeriu que o Sr. Shkreli estava envolvido num esquema Ponzi. Vítimas de esquema Ponzi não ganham dinheiro, mas os investidores do Sr. Shkreli desfrutavam de resultados fortes.

Em resumo, o Sr. Shkreli espera ser totalmente inocentado.

Stephanie Clifford (@stephcliff) – 18 de dezembro de 2015

Capers, o promotor de 45 anos recém-empossado, deixou claro que está comprometido em combater fraudes financeiras de todo tipo.

"Esperamos deixar clara uma mensagem para gestores de fundos, executivos corporativos e advogados que estejam cometendo crimes similares ou pensando nisso", ele disse. "E, se não ficou claro, a mensagem é a seguinte: nós (a promotoria, o FBI e nossos parceiros no SEC) vamos trabalhar implacavelmente para descobrir esses esquemas. Não importa quão sofisticado seja o crime ou quanto tempo leve, vamos fazer justiça."

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Tradução: Marina Schnoor

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