Pamela Anderson : "a França nunca me levou a sério"

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Pamela Anderson : "a França nunca me levou a sério"

Em 2016, se você ainda veste casaco de pele e come carne, gameover pra você. Foi a Pamela que disse. Nós nos encontramos com este eterno objeto de fetiche na apresentação da sua coleção de calçados veganos, feita em parceria com Amélie Pichard.

Quem é Pamela Anderson? Um maiô vermelho? Uma capa da Playboy? Um outdoor da PETA? Falando sobre Greta Garbo, Roland Barthes analisava, em seu livro cult Mythologies, que a febre da telona do começo do século passado ilustrava o início da fetichização de um rosto no cinema, transformado em um "admirável rosto-objeto", inalterado, posto que destituído de realidade. Pamela Anderson é o totem dos anos 1990, década da transformação decisiva na civilização da imagem. Assim como Garbo, o rosto de Pamela não pode envelhecer, já que ele não parece existir realmente. Mas Pamela Anderson não é uma estrela de cinema. Nem mesmo de televisão. Quantos de nós assistimos de verdade a "S.O.S. Malibu"? A gente lembra sobretudo das imagens congeladas, dos video loops sempre em modo "replay" no imaginário coletivo: Pamela Anderson é um rosto-objeto em formato .gif. Primeiro gif: ela correndo na praia. Segundo: seus olhos carvoentos nos dão uma piscadinha. Terceiro: sua silhueta pixelizada chacoalhando numa sex-tape pré-Youporn.

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Os gifs não envelhecem jamais. Certo. Mas em geral eles nos cansam. Formato adaptado ao consumo ultrarrápido, olhamos rapidamente e passamos pro próximo. Menos, talvez, no caso de Pamela.gif. Se, ao longo dos anos 2000, ela foi meio deixada de lado, perdida entre um remake do filme "Scooby-Doo" e uma participação relâmpago na versão americana de Dança dos Famosos, nos últimos anos ela ensaiou uns comebacks bem surpreendentes. Teve aquela participação na campanha primavera/verão 2010 de Vivienne Westwood por Juergen Teller, toda desvairada, cheia de humor, fotografada num terreno baldio de Miami entre trailers e lavanderias. Mais recentemente, em setembro do ano passado, apareceu nas páginas da revista "Out of Order", irreconhecível, tamanha a sobriedade minimalista, vestida pela jovem marca Y/PROJECT. Depois, último episódio: sua colaboração com a francesa Amélie Pichard para uma linha de sapatos veganos. Seria um revival dos nineties de modo geral ou uma verdadeira mudança de imagem da parte da mais eminente representante dos usos e abusos do delineador castanho para lábios?

A antiga sereia de "S.O.S. Malibu" esteve em Paris para o lançamento, com toda pompa e circunstância, no dia 21 de fevereiro. Mas foi ao aparecer na Assembleia Nacional para apoiar o projeto de lei contra a alimentação forçada de gansos e patos que Pam garantiu as manchetes da imprensa - menção especial para a do Obs: "Um jornalista bate em seus colegas para ver Pamela Anderson". Nós a encontramos para falar de mídias, reinvenção de si e de sexismo made in France.

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Você tem muito talento para se reinventar e usar a imagem de loiraça belzebu que as mídias fazem de você em benefício das causas que você apoia. Falo especialmente das campanhas para a PETA para as quais você posou nua para incitar as pessoas a não usar roupas de pele animal.
Obrigada pelo elogio, mas eu não diria que eu me reinventei! Na verdade, as pessoas me conhecem mal. Eles sabem que eu fiz "S.O.S. Malibu", eles leram todos os pseudo-escândalos safados publicados pelos tabloides e acompanharam minhas aventuras com diferentes roqueiros. Mas eu sou uma garota normal que cresceu numa pequena cidade americana e que sempre se interessou pelos animais. Sim, eu me deixei levar pela máquina infernal de Hollywood durante um bom tempo. Mas agora eu estou com 48 anos. Com o tempo, eu aprendi coisas novas, fiz novas experiências. São as pessoas ao meu redor que passam a ter outra imagem de mim porque eles se dão conta de que me conhecem mal, ou apenas alguns aspectos de mim. Eu só evolui com a idade, como todo mundo.

A colaboração com Amélie Pichard e a excitação em torno dela antes mesmo do lançamento mostram uma volta do hype um tanto incomum, numa indústria da moda conhecida por consumir a juventude, nos dois sentidos do verbo, de forma bem feroz. Na sua opinião, por que isso acontece?
Porque eu sou sincera e aceitei envelhecer. Nunca quis correr atrás da juventude, como faz toda Hollywood. Eu saí desse sistema por causa desse impasse: já que vamos todos envelhecer, melhor aceitar. Eu vivo o envelhecimento muito bem, e também acho que entramos numa nova época muito positiva, porque estamos finalmente nos dando conta de que o que importa é salvar o planeta. Pouco importa a idade, cada um deve fazer a sua parte. A moda pode ser uma das formas de contribuir.

Faz pouco tempo que seu engajamento ecológico, seja para a PETA, Greenpeace ou para a sua própria fundação, criada em 2014, começou a chamar a atenção da mídia…
Faz vinte anos que eu faço esse trabalho. Quando peguei meu papel em "S.O.S. Malibu" eu queria aproveitar de toda essa atenção midiática para chamar a atenção para uma causa que me é muito cara. Então fui me informar sobre os problemas ecológicos próprios a cada país: o desmatamento, a poluição dos oceanos, a criação intensiva de animais… a série era transmitida em mais de 150 países, então eu viajava enormemente para participar dos eventos de promoção. Em cada país eu entrei em contato com os braços locais da PETA, a associação de defesa dos animais. Falar na Assembleia Nacional nessa terça-feira [19 de janeiro] para apoiar o projeto de lei contra a alimentação forçada de gansos e patos é algo que eu fiz em vários outros países. Escrevi cartas aos governos de onde estive pessoalmente. Virou uma segunda natureza para mim. Fazer uma coleção de sapatos veganos é tão importante quanto: devemos oferecer alternativas às pessoas para que elas possam usar roupas fabricadas sem que os animais tenham que sofrer. A moda vegana não é barata. Ela pode ser muito luxuosa. Nossa coleção é inteiramente feita na França, e todo mundo sabe que tudo o que é francês é sinônimo de luxo.

Quando você falou na terça-feira na Assembleia, composta na maioria de homens, não demorou para virem as reações sexistas. Você tem a impressão de que é difícil para você ser levada a sério quando você vem falar de proteção aos animais e ecologia?
Eu estou no ativismo há muito tempo, falei com vários governos e todos me levaram muito a sério. Menos, talvez, na França! A França sempre teve essa atitude descarada comigo. Já nos tempos de "S.O.S. Malibu" os franceses gostavam de zombar de mim. Isso certamente não vai me fazer parar de defender as causas em que acredito. Além disso, foi Brigitte Bardot, que eu admiro enormemente, quem me chamou para vir à França várias vezes e me pediu para falar na Assembleia. Eu fiz por ela, também.

Você tem uma mensagem para dar aos jovens que têm 16 anos em 2016?Façam suas escolhas deixando-se guiar pela compaixão. Tem tantas opções hoje que quase sempre dá para fazer uma escolha que respeite o meio ambiente. A compaixão é sexy e está na moda! Em 2016, se você ainda veste casaco de pele e come carne, gameover pra você.