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O que alguns dos maiores colecionadores da 'Playboy' acham do fim da nudez na revista

Falamos com três colecionadores com níveis variados de fanatismo para saber a sua perspectiva sobre o passado, presente e futuro da publicação.

Imagem cortesia de James Hyman do Hyman Archive.

Ano passado, a Playboy causou alvoroço ao anunciar que a famosa revista de mulher pelada não teria mais mulheres peladas. Bom, eles ainda têm algumas moças nuas, como o New York Times apontou, mas é o tipo de nudez que você encontra na GQ ou na Esquire, com as partes mais provocativas escondidas sob o equivalente a uma folha de figueira. A estratégia aqui é óbvia: as pessoas que querem ver peladezas encontram muito mais disso na internet; e como Gloria Steinem disse a Time: "E como se o NRA dissesse que não vai mais vender revólveres porque já tem muitos fuzis disponíveis no mercado".

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Ainda assim, a primeira edição completamente sem nudez da Playboy, que sai em março, representa uma baita guinada para a marca. O filho de 24 anos do fundador Hugh Hefner até rompeu publicamente com a empresa porque ficou puto com a decisão de não publicar mais fotos de vaginas. Mas o pessoal no comando da revista está apostando que os millennials no geral vão aprovar a decisão. O site da Playboy se tornou SFW em agosto passado e, segundo os executivos disseram ao Times, o tráfico quadruplicou. A esperança parece ser que tirando os últimos vestígios das perversões dos baby boomers das páginas, pessoas mais jovens vão ler e assinar a revista.

Mas e as pessoas que já são obcecadas pela Playboy, os colecionadores que viram a revista ir das pinups curvilíneas para as loiras oxigenadas com silicone, até a combinação nebulosa de celebridades e supostas quebras de tabu? O que eles acham dessa mudança? Para descobrir, falamos com três colecionadores da Playboy de fanatismos variados para saber a perspectiva deles do passado, presente e futuro da revista, e se a eliminação do conteúdo explícito vai ajudar a Playboy a recuperar seu antigo status.

Imagem cortesia de Hyman Archive.

James Hyman
45 anos, Londres
Recordista mundial do Guinness de maior coleção de revistas
866 Playboys na coleção

VICE: Por que você coleciona revistas?
James Hyman: Uma das razões iniciais para colecionar é que eu era roteirista da MTV no final dos anos 80, começo dos 90. Eu escrevia coisas para os VJs, e a melhor coisa que você tinha antes da internet eram as revistas. Vamos dizer que um tópico da mídia estava rotacionando e você precisava continuar escrevendo sobre o Prince, a Madonna ou seja lá quem fosse — que lugar melhor para conseguir informação do que numa entrevista para a Rolling Stone? As revistas eram riquíssimas em informação que não estava tão facilmente acessível.

E quando você começou a colecionar Playboys?
Vi a revista numa banca e achei que isso seria outra coisa interessante relacionada a cultura pop, e o que eu queria era colecionar cultura pop. A Playboy tinha uma mulher nua na capa, mas essa mulher era sempre alguém envolvida na cultura pop, como Bo Derek, Kim Basinger, Janet Jackson, etc. Eu estava colecionando as novas, mas depois de conhecer algumas lojas muito doidas em Londres, descobri as emoções de procurar pelas edições passadas. Eles tinham Playboys dos anos 50 até os 80. E eu pensei: "Certo, tenho que completar minha coleção de revistas [de cultura pop]", e foi isso que fiz.

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O que você gosta nas Playboys vintage?
Acho que elas realmente capturavam sua época. O texto era sempre fantástico; eles publicavam entrevistas incríveis. A última entrevista de John Lennon foi para a Playboy. Malcolm X e Martin Luther King estiveram na Playboy… Eles tinham uma série do James Bond! As pessoas vão dizer que isso é clichê, mas eu lia a Playboy pelas matérias.

Você acha que tirar a nudez é uma boa decisão para a Playboy?
Sendo uma ação desesperada ou não, não acho que seja uma boa decisão para a revista, porque você espera ver nudez na Playboy. Agora, os parâmetros precisam ser esclarecidos porque entendo que a Playboy Brasil e a Playboy Alemanha vão manter a nudez. Sem a nudez, você pode dizer que isso é tipo batata frita sem ketchup. Eu tenho essa revista aqui, Horse and Hound, e você não pode chamar isso só de Hound. As pessoas esperam algo disso.

Sua coleção é atualizada? Você ainda é assinante?
Sim, ainda coleciono a revista, recebo todo mês. Vou manter minha assinatura depois que ela for relançada.

Mas você ainda as lê, ou só arquiva na sua coleção?
Não leio toda revista que consigo. Não leio mais toneladas de revistas como eu fazia antes, mas ainda leio as matérias da Playboy. Leio a Playboy esperando encontrar alguma coisa interessante. Às vezes acho, sei lá, uma entrevista extensa com o Quentin Tarantino ou algo assim. Mas sim, estranhamente, ainda leio a revista.

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Saiba mais sobre o Hyman Archive no site ou siga-o no Twitter.

Danny Bowes
37 anos, Nova York
Centenas de Playboys na coleção

VICE: Quando você começou a colecionar?
Danny Bowes: Comecei em 1992, quando tinha 13 anos. Meu pai me deu uma cópia com uma entrevista do Michael Jordan. [A entrevista] foi meio que um ponto significativo da relação dele com a mídia. Meu pai sentiu a significância disso na época e me deu a revista, porque achava que eu já era velho o suficiente para não ficar tipo "Ai, meu deus, tem peitos nessa revista!" Mas claro, li a entrevista e depois pensei "Bom, tem mesmo peitos nessa revista". Então meu interesse aumentou.

Como a sua coleção cresceu depois disso?
Mais tarde naquele ano, fiz 14. Como presente de aniversário, acho que minha mãe viu a revista no meu quarto e pensou "É, vou assinar pra ele". Então, durante o colegial e toda a faculdade, fui assinante da Playboy, e acho que só tem um mês de todo esse tempo perdido da minha coleção.

E porque você guardou essas edições antigas?
Não curto muito jogar coisas fora no geral, mas em cada uma delas sempre tinha alguma coisa que valia a pena guardar. Como uma entrevista dessa edição que era interessante, ou a matéria dessa outra edição que era muito boa. Tinha algo de interessante todo mês — na maioria das vezes isso não tinha nada a ver com as fotos, mas, admito, eu a folheava algumas vezes.

Seu pai colecionava a revista também?
Ele tinha comprado várias e as guardava pela casa, mas ele não tinha uma coleção formal. E a revista era ainda melhor nos anos 70. Os anos 90 foram uma época bem estranha para colecionar a Playboy, porque ela estava numa trajetória estranha para a plasticidade, o que me deixava desconfortável esteticamente. A revista promovia esse visual muito estranho e eu não o achava saudável filosoficamente naquele ponto.

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Como você descreveria essa estética dos anos 90?
Tudo era muito exagerado e artificial. Do nada, todas as modelos tinham essas plásticas pouco naturais, e pareciam fotografadas do ponto de vista de alguém que tinha uma visão ligeiramente distorcida da feminilidade. E nunca senti isso nos primeiros anos, quando eram apenas mulheres nuas bonitas.

O que você acha da Playboy eliminar a nudez total?
Acho que estamos nessa época do momento cultural. O valor da revista nunca esteve inteiramente na nudez; isso sempre foi uma grande parte do lance, sabe, porque ela foi fundada para ser isso. Mas, da maneira como as coisas evoluíram, com a impressão dando lugar ao digital, é hora de fazer essa transição se eles querem continuar. E a revista tem mérito suficiente para tornar isso possível. A nova direção editorial que eles tomaram nos últimos anos é muito mais progressista. Parei de assinar nos anos 90, mas agora meio que ainda queria estar assinando. Durante os anos de Viagra do Hefner, eu pensava "Jesus Cristo!" Mas agora eles publicam muitos textos bons e progressista.

Uma imagem da Playboy dos anos 60 via conta do Etsy de Lysette.

Lysette Simmons
30 anos, Los Angeles

VICE: Fale mais sobre a sua coleção de Playboys.
Lysette Simmons: Bem, ela é muito louca. Eu a adoro e nem sei quantas tenho — pelo menos umas 100, talvez 200. Só coleciono os 30 primeiros anos. Só recentemente entendi por que gosto tanto dessa era — Art Paul era o diretor de arte daqueles anos. Algumas capas são simplesmente… arte. Não tenho o santo graal delas, que é a primeira edição, de outubro de 1953 — você não consegue essa por menos de $2 mil.

Por que você começou essa coleção?
É uma história meio estranha, acho. Eu tinha algumas que minha avó me deu quando estava limpando as revistas que meu avô assinava. E aí meu pai morreu em 2012 e eu precisava me livrar de algumas coisas. Não sei por que peguei a Playboy, mas comecei a recortar flocos de neve das páginas de uma edição que eu tinha. As páginas eram muito bonitas. Eu gostava de dobrar e recortar as fotos para não ver nenhuma parte do corpo das mulheres, o resultado era lindo.

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Você recortou todas as revistas que tem hoje, ou preservou algumas?
Parei de cortá-las tanto e comecei a procurar as edições lendárias que eu tinha ouvido falar. Acabei de receber uma muito legal pelo correio — agosto de 1955. A capa é só um desenho de uma sereia e de um coelho mergulhador, nada de mais pesado acontecendo.

O que você acha da Playboy tirar a nudez da revista?
Bom para eles. Não ter que tirar a roupa para chegar a algum lugar aqui em LA? Incrível. Mais uma razão para não tirar a roupa para chegar a algum lugar.

Bom, parece que as modelos ainda vão estar nuas, mas nem tudo vai ser mostrado.
Não tenho problemas com isso. Não li nada sobre essa decisão ainda, mas se eu estivesse no comando da Playboy, minha ideia seria tentar legitimar a revista de novo.

Você acha que colecionar Playboys é algo raro entre mulheres?
Não conheço nenhuma outra mulher que colecione a Playboy. E quando comecei a contar para as pessoas que estava colecionando para recortar, elas ficaram horrorizadas, porque na época eu não sabia quanto elas valiam. Eu simplesmente estava de luto pelo meu pai, recortando desesperadamente flocos de neve com elas. Eu achava que se pudesse fazer isso com uma revista inteira toda noite, se eu pudesse fazer algo bonito todo dia, eu conseguiria seguir em frente. Aí eu pensei: "Bom, preciso de mais Playboys se quero viver, então…"

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Tradução: Marina Schnoor

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