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Música

Tommy Cash, o rapper estónio que adora cavalos e francos suíços

Monta todos os sábados, quer ser um artista mais completo e não tem medo do ridículo. Cresceu na Estónia pós soviética, onde sempre se sentiu isolado, mas do que gosta mesmo é do Mundo.
Foto por Sohvi Viik, publicada originalmente na nossa plataforma Noisey.

Homónimo do irmão de Johnny Cash, o mesmo que tinha uma música chamada "One Song Away", Tommy Cash - este que não é irmão de Johnny Cash - é um filho da Estónia, que cresceu solitariamente num mundo pós-soviético. Encontrou o hip hop de Kanye West e apaixonou-se. Fez por ser MC, profissionalizou-se e o primeiro disco, Dollarz Euroz Yenis, garantiu-lhe carimbos no passaporte de países um pouco por todo o Mundo.

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Tudo porque pegou no Trap, ou como lhe quiserem chamar, e fundiu-o com estilos musicais como o Eurodance, ou o Gabba. Encontrei-me com Cash no Miradouro de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, depois de uns dias a dar umas voltas por Portugal com a sua namorada e o seu DJ, antes das duas actuações que tem marcadas para o nosso país. Na mesa estava também o grande fenómeno deste ano do rap nacional, Mike El Nite, e os promotores destes concertos dele em Portugal, a G&J Talent. Eles nem falaram, mas há quem curta saber este trivia.

VICE: Dançaste Hip Hop durante 7 anos. Porque é que paraste?

Tommy Cash: Nunca parei, continuo a dançar mas a música é a minha maior paixão. A meu ver, temos que focar-nos numa coisa para a fazerrmos bastante bem. Decidi focar-me na música.

E, pelo que li, começaste como MC assim meio na tanga. Quando é que a piada ficou séria?

O rap?

Isso.

Sim, começou como uma piada. A minha namorada da altura não conseguia perceber e perguntava-me: "Porque é que te estás a meter nisso?". Lembro-me de estar em Barcelona e estarmos a tentar improvisar e eu era péssimo. O meu improviso era na onda do "A dog… catches a… cat". Terrível! [risos]. Super merdoso.

Quando é que se tornou sério?

Melhor?

Também. [risos]

Bem, não tenho a certeza. Sou bastante perfeccionista e, para mim, continua mau. Estou a trabalhar nisso. Acho que ficou bem melhor a partir de há um ano e meio atrás.

Foto por Sergey Nikiforov, cortesia G&J Talent.

Pareces ser uma pessoa bastante auto-consciente, mas, ao mesmo tempo, assumes o humor de uma forma muito descontraída e sem preocupações de caíres no ridículo. Como quando fizeste aquela série com os Little Big - apelidados pela imprensa de "Os Die Antewoord russos" - no Youtube, o American Russians.

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A única coisa de que tu te vais arrepender é daquilo que não fizeres. Pensei, que se lixe. Eu não sou um artista hipster, por isso vou experimentar tudo o que me der prazer. Estou-me a cagar.

Qual é o conceito por trás da série? Imagino que muito se perca na tradução, porque há tiques e regionalismos específicos…

Sim, inglês tosco e alguns pormenores. A ideia veio deles. Fui ter com eles a São Petersburgo, depois do vídeo que fizemos juntos ("Give Me Your Money", dos Little Big). Pensámos: "Caraças, vamos tornar este mundo ainda maior. Fizemos seis episódios em seis dias. Consegues imaginar? Cada um num dia. Foi muito trabalho e muita experimentação.

Mas tu és estónio, como é que acabaste a fazer de russo?

Eu sou uma mistura de russo, estónio e ucraniano.

Foto por Sergey Nikiforov, cortesia G&J Talent.

E como foi crescer na Estónia? Sentiste-te diferente?

Sim. isolava-me bastante. Não encaixava. Na primeira festa a que fui já tinha 21 anos e não me senti nada confortável, nem sequer falei com ninguém. Fiquei na minha, isolado.

Mas era violento?

Não diria violento, isso é mais na Rússia. O meu DJ [aponta para ele] é da Rússia, ele sabe bem o que é isso. A Estónia é uma sociedade mais fechada. Toda a gente tem mentalidade de aldeia, as pessoas julgam e coscuvilham muito. Não estão habituadas à diferença. É por isso que me sentia um bocado isolado.

Não me pareces grande fã da Estónia.

Não é isso, eu sou é fã do Mundo. Fã do Mundo inteiro. E adoro ser diferente.

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Como vez o teu estado actual a nível artístico? Estás perto de onde queres chegar?

Sim, definitivamente. Sinto que me aproximo de onde quero estar todos os dias. Estou mais sábio agora. Não lanço uma música há um ano, porque não é só sobre lançar músicas. Acho que, tanto eu como as pessoas à minha volta, estamos a ficar mais espertos e percebemos melhor onde queremos chegar. No primeiro vídeo que fiz, era só para fazer alguma coisa. Assim meio ao calhas, porque era divertido. Não estava a pensar que ia receber dinheiro de concertos ou algo assim.

Já são quase dois anos desde o teu último disco.

Um ano e tal.

Pronto, mas tinhas dito que o disco ia sair antes do Verão e já estamos no Verão há uns dias. Tens alguma data?

Não tenho nenhuma data, mas está bastante próximo. O bolo está pronto, mas ainda está à espera de ser decorado. Tenho um novo single que deve sair nos próximos dias, mas ainda estamos a decidir se o lançamos com ou sem o videoclip.

Foto por Sohvi Viik, publicada originalmente na nossa plataforma Noisey.

Outra coisa de que me lembrei: tu és, muito provavelmente, o rapper que mais curte cavalos.

Sim. Muito. Completamente. Há muitos rappers que apenas os usam como decoração nos seus videos. Eles não montam todos os sábados com as suas namoradas em fato-de-treino. Eu adoro montar.

É parte do teu estilo de vida.

É, meu.

Há até aquela tua fotografia na Estónia a ires ao drive-in do Macdonald's montado num cavalo. Apareceu lá nas notícias e tudo.

É um dia como os outros.

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E qual destes é o teu preferido: dólares, euros ou ienes?

[risos] Eu acho que… Ah! Nós estivemos há pouco tempo na Suíça e o dinheiro deles é lindo. Francos suíços, é isso. Agora acho que gosto mais desses que dos outros, porque é o dinheiro mais bonito que já vi. Parecem postais. São tão coloridos.

Também é um bom sítio para guardares o teu dinheiro.

Sem dúvida. [risos]

E o que queres do futuro, para além de uma conta na Suíça?

Quero crescer como artista e levar as pessoas a lugares onde elas nunca foram, sonora e visualmente. Quero criar coisas que nunca foram criadas.

Parei de gravar e agradeci. O resto da mesa juntou-se à conversa. Falou-se de Sintra, de fantasmas e da maçonaria. Tommy Cash estará hoje (30 de Junho) no Musicbox, na companhia de Shades (o projecto de Alix Perez e Eprom), Dwarf e Holy. Estará também no Porto, amanhã (1 de Julho), no Passos Manuel, com Mike El Nite, Royce Rolo + Kaixo, xxoy e Cash From Hash.