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Música

Discos: Jagwa Music

Música que parece não ter princípio ou fim.

Bongo Hotheads
Crammed Discs
8/10 Aquela velha história do punk ser sobretudo um investimento de vontade e energia volta a fazer todo o sentido quando damos de caras com os Jagwa Music, colectivo de oito jovens irrequietos da Tanzânia, que inclui percussionistas, um teclista com os dedos num Casio velho, dançarinas e um mestre-de-cerimónias que não se cansa de cantar. Até agora, o reconhecimento global pode ainda não ter chegado aos Jagwa Music — até porque nunca actuaram encapuçados numa catedral —, mas existe por aqui um sentimento de liberdade e euforia, que não será assim tão distante daquele que se verificava quando os Black Flag, nos seus tempos áureos, percorriam as salas com o maior cheiro a mijo dos Estados Unidos e esfregavam o seu suor no suor dos putos. É um facto: Bongo Hotheads, o disco que faz a ligação entre Dar es Salaam (a maior cidade da Tanzânia) e o resto do mundo, é tão punk como qualquer coisa que possam escutar por esta altura. Merece essa distinção principalmente pela forma como toda a sua duração celebra o ritmo sem prestar a contas a regras ocidentais e cheia de uma alegria que coloca toda a gente ao mesmo nível, enquanto mexe o rabo na ginga frenética do "Mchiriku" (o nome desta música). O disco é longo, mas até isso é adequado a uma música que parece não ter princípio ou fim: acontece permanentemente e, se não houvesse o acompanhamento do Casio, é provável que bastasse o alarme de um carro como fundo sonoro para os Jagwa Music. Se tantas vezes ouvimos a música das multidões africanas apenas sintetizadas nas canções da Beyoncé e da Shakira, era porreiro ir ver o que se passa no cenário original. Os ritmos dos Jagwa Music viajaram da rua para Bongo Hotheads e à rua voltam, quando o colectivo da Tanzânia actuar no Anfiteatro ao ar livre da Fundação Calouste Gulbenkian, pelas 22 horas do próximo dia 28 de Junho.