"Heil Trump": a "direita alternativa" norte-americana anseia por um país mais branco
Jared Taylor, editor da revista nacionalista branca "American Renaissance". Todas as fotos por Lexey Swall

FYI.

This story is over 5 years old.

análise

"Heil Trump": a "direita alternativa" norte-americana anseia por um país mais branco

A curto prazo, apoiam fervorosamente as ideias de Trump, em questões como a imigração e a guerra ao islão. A longo prazo, querem seriamente estabelecer um "estado étnico", só para brancos, dentro dos EUA.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

No dia 19 de Novembro, mais de 300 pessoas - a maioria homens jovens de fatos justos e cortes de cabelo da moda - reuniram-se para assistirem à conferência "Who We Are 2016", do National Policy Institute (NPI), no Ronald Reagan Building, em Washington, Estados Unidos da América. Este "think tank" é uma ramificação bem vestida da direita alternativa, um movimento de identidade branca, que tem vindo a ganhar popularidade nos EUA e atenção dos media, graças à ascensão de Donald Trump, que muitos consideram representar as suas visões.

Publicidade

A direita alternativa norte-americana distingue-se do movimento conservador que domina o Partido Republicano há décadas, mas está longe de ser uma organização unificada. Desde os trolls da Internet, youtubers polémicos, cientistas racistas, até académicos supremacistas brancos, vários géneros de pessoas encontraram um lar na direita alternativa, que se revela tanto pela sua vulgaridade, como pelo desafio do politicamente correcto e tem orgulho da sua suposta intelectualidade. A curto prazo, estas pessoas apoiam fervorosamente as ideias de Trump, em questões como a imigração e a guerra ao islão. A longo prazo, querem seriamente estabelecer um "estado étnico", só para brancos, dentro dos EUA.

A fotógrafa Lexey Swall e o editor da VICE, Wilbert L. Cooper, também marcaram presença na conferência, um espaço seguro para nacionalistas brancos dizerem em voz alta o que antes só escreviam em certos fóruns e blogs, sob pseudónimo, e até para fazerem a saudação nazi. Aqui está o que alguns participantes - do líder do movimento e fundador do NPI, Richard Spencer, até à estrela de reality show transformada em teóloga da conspiração Tila Tequila - tinham a dizer.

"Estamos a enfrentar uma escolha binária, lutarmos ou fugirmos, juntarmo-nos ou morrermos, resistirmos ou entregarmo-nos. Esta é, agora, a posição das pessoas brancas. Há duas semanas atrás, eu poderia dizer que a eleição de Donald Trump iria aliviar a pressão sobre os norte-americanos brancos. Mas, hoje, é claro que a sua eleição só intensificou a tempestade de ódio e histeria dirigida contra nós.

Publicidade

Como europeus, estamos no centro da história. Somos, como [Friedrich] Hegel reconheceu, a encarnação da história mundial. Ninguém está de luto pelos grandes crimes cometidos contra nós. Para nós, é uma questão de conquistar ou morrer. Esse é um fardo único para o homem branco: o nosso destino está totalmente nas nossas mãos. E isso é apropriado porque, entre nós, entre o sangue das nossas veias, como filhos do sol, está o potencial de grandeza. Essa é a grande luta para a qual estamos a ser convocados.

Não vamos viver com vergonha, fraqueza e desgraça. Não devemos implorar por validação moral de algumas das criaturas mais desprezíveis que já povoaram a Terra. Vamos superá-los a todos, porque isso é normal e natural para nós. Para nós, como europeus, é normal quando somos grandes outra vez. Heil Trump! Heil o povo! Heil a vitória!".

"Não sou realmente um nacionalista branco. Mas vejo o anti-racismo como uma distopia que deu o benefício da dúvida À ideia de diferenças raciais, o que evoluiu para esse dogma sufocante que tem um bode expiatório e esse bode expiatório são os brancos e as pessoas consideradas racistas.

Vejo o anti-racismo como algo mau, não apenas para os brancos, mas para toda a gente. Não sou um supremacista branco e nem me vejo como sendo assim tão inteligente. Não me vejo como um branco anglo-saxónico, protestante, ou algo desse género. De muitas formas, identifico-me mais com negros. Mas acho que há diferentes frequências e traços em diferentes populações. É nessa base que temos estas políticas culturais desiguais que penalizam os brancos, criam hipocrisia e se tornam distópicas".

Publicidade

"Se és médico e negas as diferenças genéticas entre as raças, serás rapidamente demitido por negligência. Sabias que corpos negros vão rejeitar automaticamente qualquer órgão doado por um gajo branco em 20 por cento dos casos? Não são compatíveis geneticamente. Têm performances diferentes na escola. Como eu. Eu era péssimo na escola.

Mas não me sinto inferior aos brancos. Há sempre vantagens e desvantagens em tudo. Uma coisa que as pessoas geralmente não sabem é que os europeus brancos têm um cérebro mais pequeno. Mesmo sendo melhores no desenvolvimento de tecnologia, por exemplo, não se dão tão bem em desportos de contacto, como o boxe, porque o seu cérebro sofre traumas mais facilmente… Sou inferior em muitos aspectos e superior noutros".

"Como representante de uma minoria na direita alternativa, acho que o nacionalismo étnico é importante. Traz benefícios para todos, incluindo aqueles que terão que partir, ou voltar para casa, se os brancos fizerem o seu próprio estado étnico aqui nos EUA. Acredito no Japão para os japoneses. Na Índia para os indianos. E na Europa para os europeus.

Mais da metade dos indianos não sabem usar uma casa-de-banho. Não há sistema de esgotos. Todos os que se formam nas principais escolas vêm para os EUA. Em Punjab, a minha cidade natal, no noroeste da Índia, toda a gente com um QI de três dígitos muda-se para o Ocidente. Bem, acho que é uma opção barata para as elites naturais dessas nações estrangeiras deixarem os seus países e virem para um país já desenvolvido, em vez de desenvolverem o seu próprio país.

Publicidade

A Índia é um lugar muito pior porque há uma drenagem de cérebros. Vejo a imigração em massa de hoje como o imperialismo do século XXI. O Ocidente roubou as pessoas inteligentes ao resto do Mundo, recorrendo às suas capacidades para desenvolver a sua própria nação. É hora de voltarem".

"Juntei-me à direita alternativa na mesma época em que comecei a reflectir sobre Hitler, em 2013. Hitler não fez nada de errado! Sinto que há dois lados da história. Certamente que vejo uma ligação entre a ascensão de Hitler e o movimento da direita alternativa, porque a direita alternativa não se manifestaria assim se as pessoas não sentissem, há muito tempo, que estão a ser oprimidas há.

Estas pessoas não seriam tão extremas e hardcore como são. Os alemães estavam falidos, tal como a classe média norte-americana está hoje. A nossa classe média desapareceu. Essas pessoas sentem que ninguém se importa com elas. Esta coisa da direita alternativa não se teria manifestado se não houvesse este ambiente tão horrível".

"Há uma diferença entre a direita alternativa de hoje e o nacionalismo e conservadorismo branco do passado. A direita alternativa é jovem e está a olhar para o futuro. Os conservadores e nacionalistas brancos estão sempre a ladrar sobre um tempo que acham que era melhor. Portanto, ias às convenções e vias um monte de gente velha a falar sobre como a vida era óptima nos anos 50. Isso acabou.

Com a direita alternativa tens uma nova geração. Tenho 31 anos e já estou acima da média de idade dos participantes deste evento onde estamos. Estas pessoas não estão a olhar para os anos 50 ou 80, estamos a olhar para o futuro. Estamos em 2016. Não queremos voltar o relógio para trás. Temos uma visão diferente do nosso futuro e decidimos não aceitar as únicas opções que nos deram. Como se diz em South Park: ou tens um grande otário, ou uma sanduíche de merda. Dissemos não aos dois. E criámos a nossa própria visão do futuro".

Publicidade

"Estamos entusiasmados com Trump. Esperamos que, até certo ponto, durante a sua presidência, as políticas de identidade branca se tornem normais e legítimas. De certa maneira, muita gente atribui o sucesso de Trump às políticas de identidade branca. E somos os únicos a falar realmente sobre as políticas de identidade branca e a termos a razão intelectual e a ciência social a apoiar-nos.

Por outro lado, estamos a ver sinais de que eles querem calar-nos. A ADL [Liga Antidifamação inglesa] disse que Pepe [o sapo] é um símbolo de ódio e Richard [Spencer] foi expulso do Twitter. Portanto, há um conflito entre aqueles que querem ignorar a direita alternativa e colocá-la outra vez na caixa e aqueles interessados nela".

J. P. Sheehan, de 26 anos, vem de uma família libertária e é presidente do clube republicano da sua universidade, mas as suas visões são muito mais extremas. Este foi o primeiro evento da direita alternativa em que participou.

"Para mim, a direita alternativa é muito maior que o nacionalismo cheeseburger. Acho que ela não vai substituir o Partido Republicano, mas, definitivamente, eclipsá-lo. Consigo ver a direita alternativa a ganhar asas e a levantar voo, enquanto os republicanos ficam a reclamar amargamente e a garantirem que ela nunca vai chegar perto do Sol.

O que a direita alternativa quer é criar uma aura de normalização, para que os europeus-norte-americanos se sintam confortáveis com quem são. Acho que um estado étnico branco é algo que não é possível aqui nos EUA, porque o país é muito grande. Por isso, julgo que me conformaria se fosse 80 por cento branco.

Publicidade

A razão para querermos criar um estado étnico prende-se com o facto de sociedades com uma única etnia permitirem uma maior coesão social. Estados étnicos beneficiam todas as raças, porque as pessoas querem estar entre os seus. Os não-brancos que quisessem entrar no estado branco, acho que não deveriam ser completamente impedidos. Seria mais um "estado de negócios". Se alguém mostrasse um alto nível de dinamismo e um alto nível da nossa cultura, poderia entrar".

"As ideias da direita alternativa vão progredir, porque se baseiam na leitura correcta da história humana, são moralmente inquestionáveis e explicam factos actuais muito melhor do que os ortodoxos igualitários. Por isso, quando as pessoas chegam a um entendimento dissidente de raça, nunca voltam atrás.

As escamas caíram-lhes dos olhos e, agora, elas entendem as questões raciais dos EUA, a sociedade americana e o que está a acontecer com o Mundo. Ao mesmo tempo, isso dá-lhes uma ponte para olharem para o futuro, para uma nação que reflicta os seus valores e a sua raça. E isso é encorajador, especialmente para jovens brancos que estão a apanhar há tanto tempo por estarem do lado errado da história, como aqueles que fizeram uma coisa errada atrás da outra com todos os grupos não-brancos na história do Mundo".

"O principal factor que me atrai na direita alternativa é a determinação das pessoas brancas e das pessoas de descendência europeia. Esse é o cerne da direita alternativa. Passámos do espectro político de anarquistas para fascistas, mas raça e identidade é um tema fundamental. A nossa identidade está a ser desgastada em países brancos da América do Norte e Europa.

Quando vi Donald Trump vencer, foi incrível. Mas o que ele pensa na cabeça dele, para já só podemos especular. Sei que as suas palavras e acções não passam por prismas raciais. Passam por prismas culturais, norte-americanos, cívicos e nacionalistas. Ele não é direita alternativa, porque não expressa os nossos valores de base. Stephen Bannon [o executivo do Breitbart que agora actua como um dos consultores mais importantes de Trump] também não é direita alternativa. Mas, pelo menos, está aberto às nossas ideias. Poderíamos até denominá-lo com um companheiro de viagem".

Este homem identificou-se como "Millennial Woes". É de Edimburgo, Escócia. Tem 30 e poucos anos e um canal popular da direita alternativa no YouTube. Não usa o seu nome verdadeiro, porque acha que pode ser perigoso.

"Falando de modo geral, acho que os indivíduos só querem socializar com pessoas da sua própria raça, porque é menos stressante e confuso. Essa ideia de multiculturalismo leva-nos para uma visão mais mundana das coisas… Não consigo ver as coisas assim. A ideia de que podes colocar negros e brancos juntos e não ter tensões é nonsense.

Por isso vês os negros a começarem a agitar a bandeira de uma sociedade negra nos EUA. E não os culpo. Entendo porque é que querem isso. Não odeio os negros nem tenho nada contra eles. Só que a minha preocupação principal é com o meu grupo, os europeus".

Todas as respostas neste artigo foram editadas e condensadas para maior clareza. Todas as citações decorreram de entrevistas dadas a Wilbert L. Cooper, com excepção de Richard Spencer, cuja resposta foi tirada do seu discurso na conferência.