Em maio de 2015 em Camaçari, região metropolitana de Salvador, diversas pessoas começaram a contrair uma gripe um tanto fora da curva. Com manchas na pele e dores nas articulações do corpo inclusas no quadro de sintomas, o que parecia ser um resfriado mais forte era na verdade um vírus transmitido pelo tão temido Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue e da febre amarela urbana.
O Zika ficou bastante conhecido por estar relacionado com a microcefalia infantil, fato que atingiu 4.716 recém nascidos no mesmo ano em que os casos em série iniciaram. Com isso, países da América Latina e Central chegaram a aconselhar mulheres a adiar a gravidez. Os EUA também emitiram um alerta de viagens indicando os 22 países com surto na época.
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Já no ano seguinte, a CNTBio, Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, liberou vários mosquitos da espécie geneticamente modificados como uma tentativa de suprimir uns aos outros, reduzindo o risco de propagação de doenças. Junto à isso, houve um grande investimento em ciência e tecnologia por parte dos países envolvidos na trama para descobrirem alguma solução do problema, no qual já tinha prejudicado, aquela altura, a economia e até o futuro desses locais.
Segundo levantamento apresentado na conferência ISPOR, o Brasil investiu mais de R$150 milhões na prevenção de doenças transmitidas pelo mosquito, só no ano de maior surto da doença no país. Com a continuidade das pesquisas, recentemente cientistas encontraram um padrão que nunca foi notado anteriormente, e que pode ser uma das grandes razões para a proliferação da doença ao redor do mundo.
Após estudos, 17 pesquisadores chegaram à conclusão de que o Zika vírus é capaz de se replicar nos testículos masculinos e aumentar a carga viral daquele que já está o portando.
Os pesquisadores usaram como cobaias camundongos e tecidos de testículos retirados do corpo humano. A partir disso analisaram todas as reações imunológicas e não encontraram nenhuma diferença ou anormalidade nos ratos, enquanto foi observado que o vírus tinha uma preferência pelos testículos, assim aumentando a sua replicação. Na prática isso faz com que o homem infectado acabe virando literalmente uma “fábrica de vírus ambulante”.
Mas será que esse fato foi o grande vilão causador da epidemia de bebês microcéfalos no país? Segundo Cecília Benazzato, cientista e pesquisadora da doença, a dificuldade do Zika está no quão silencioso ele pode ser. “Muitas vezes, o paciente está infectado e não tem sintomas nem sinais que indiquem que ele foi infectado. Não é possível dizer quantas pessoas foram infectadas justamente porque muitas não tiveram um sintoma ou acharam que era uma gripe rápida e não foram ao médico para fazer um exame.”
Segundo Cecília, esse estudo é importante e tem uma grande relevância na literatura científica, principalmente porque o Zika é o único vírus transmitido por um mosquito e também sexualmente.
A pesquisadora explica que o vírus precisa apenas do contato com mucosa e vasos sanguíneos para se disseminar. “A partir do momento que o sêmen do homem infectado tem contato com uma mucosa, seja ela anal ou vaginal, a pessoa já está exposta a uma possível infecção. Claro que muito depende de fatores como o quão alta está a carga viral da pessoa infectada, ou como está o sistema imunológico da pessoa que não está.”
No caso de mulheres lésbicas ou bissexuais, nenhum estudo foi publicado provando que o vírus possa infectar os óvulos. Porém, há a possibilidade em que uma mulher bissexual possa ter relação com homem sem a proteção devida e acaba sendo infectada.
Como esse vírus foi descoberto e isolado em 1952 e obteve seu retorno com força 62 anos depois, as pesquisas ainda estão rolando a mil e todo cuidado é pouco.
Ela ainda destaca que por esse motivo, o método mais fácil para a proteção é a boa e velha camisinha. “A indicação é utilizar camisinha se você está ou esteve em regiões de surto, mesmo com pessoas que você confia. O mosquito pode ter picado a pessoa, ela não teve nenhum sintoma e, mesmo assim, pode ter o Zika vírus”, reforça a pesquisadora.
Por via das dúvidas e das certezas: camisinha sempre. Inclusive em relações homoafetivas. E para as manas lésbicas ou bissexuais que têm sua vida sexual ativa, mas ainda não conhecem nenhum tipo de proteção, também já existem informações por aí para fazer aquele amor com segurança.
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