Tudo isto é triste, tudo isto é fogo mortal difícil de explicar
Tragédia. Depois dos incêndios, será que o País está preparado para enfrentar outro tipo de catástrofes (como sismos)? Foto por Ricardo Graça/Jornal de Leiria

FYI.

This story is over 5 years old.

Opinião

Tudo isto é triste, tudo isto é fogo mortal difícil de explicar

Depois de um segundo “Ponte de Entre-os-Rios” em apenas quatro meses, “alguém” deve ir já de férias para longe, bem longe daqui.

Este artigo foi actualizado a 20 de Outubro.

O ano de 2017 ainda não acabou, mas já devia ter encerrado portas. O que se tem passado nos últimos dias é surpreendente e, ao mesmo tempo, encarna um infinito desconsolo [N.R.: as condolências da VICE a todos que perderam entes queridos]. Eu, como milhares de portugueses, podemos não ter sido atingidos directamente por esta brutalidade dos incêndios que assolam o País, mas sentimos que podia muito bem ter sido connosco.

Publicidade

Quarenta e quatro mortes e centenas de fogos extintos depois - contagem neste início de tarde de terça-feira, 17 de Outubro -, fica a sensação da nossa impotência enquanto seres humanos perante esta catástrofe. Isto apesar do esforço heróico dos bombeiros e outras instituições que têm lutado para diminuir os estragos na nossa Natureza e, principalmente, na vida das populações (elas próprias, em muitos casos, de uma bravura extrema quando não tiveram quaisquer tipo de apoios das autoridades).

Não sei se há soluções ideais (para o imediato, ou a médio e longo prazo), se é da falta de políticas contra a desertificação do Interior, ou se devíamos criar um ministério específico para tratar dos incêndios, como sugeriu Francisco Louçã, ontem na SIC Notícias. Não sei se a culpa é desta, ou daquela decisão (como o fim da fase Charlie), se é devido a razões climáticas excepcionais (caso da seca extrema), ou pela inoperância da coordenação e comunicações entre os operacionais de serviço - o SIRESP só não é uma anedota, porque não há piada que aguente tamanha falha.

Pinhal de Leiria. Foto por Ricardo Graça/Jornal de Leiria

Num País geralmente atingido por um número anormal de incêndios, não sei se a prevenção por si só basta (como a limpeza das bermas das estradas), se o aumento das molduras penais para os prevaricadores os vai afastar de atitudes estúpidas (para quem faça fogueiras e queimadas em dias de risco, ou propositadamente para causar danos), se a proibição da plantação de eucaliptos é coisa viável, ou se o aumento dos meios de combate deve ser prioridade nos orçamentos de Estado.

Publicidade

Uma coisa eu sei. Depois da tragédia de Pedrógão Grande, tivemos o segundo "Ponte Entre-os-Rios" este ano e, ao todo, já são contabilizados mais de 100 mortos. O País está de luto e tudo isto é triste, tudo isto é fogo mortal difícil de explicar. Indiscutivelmente, "alguém" deve ir de férias para longe, bem longe… Como escrevemos aqui, quaisquer demissões que surjam não resolvem os males dos incêndios, mas é uma questão de moral e sinal de respeito por quem perdeu familiares e amigos, ou sofreu perdas materiais bastante substanciais.

E esta indignação, que se estende um pouco por toda a nação, não tem ideologias, géneros, ou idades (vê o vídeo abaixo publicado por Krato, jovem rapper de 18 anos, natural do Montijo, que, inspirado por Eminem, demonstra em formato freestyle o quão perturbador foram para si os recentes acontecimentos que assolaram Portugal). Que venha a chuva (abençoada) de Outubro.

Ao contrário do que aconteceu depois de Pedrógão Grande, espera-se que, pelo menos, as indemnizações do Estado e eventuais donativos de entidades privadas cheguem ao seu destino dentro de um tempo aceitável.

Entretanto, após o apelo humano e em jeito de raspanete de Marcelo, António Costa emendou a mão (ou as duas, pela frieza demonstrada no início deste segundo flagelo), pediu desculpas no Parlamento pelas mortes e "alguém" foi mesmo de "férias". O Governo não deve cair, mas o CDS apresentou uma monção de censura. Última questão: quem é que beneficia com o meio milhão de hectares de floresta que arderam desde o início do Verão (no pior ano de sempre)? Podemos falar em cartel de fogo à portuguesa? Era bom que isso fosse abordado no Conselho de Ministros, marcado para este sábado, 21 de Outubro.

Segue a VICE Portugal no Facebook, no Twitter e no Instagram.

Vê mais vídeos, documentários e reportagens em VICE VÍDEO.