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Música

O regresso dos The Parkinsons aos discos não é para velhos

"The Shape of Nothing to Come" é um dos acontecimentos do ano na música feita em Portugal. A banda de Coimbra volta a mostrar porque é que o punk está vivo e a espernear.

Vamos lá subir a fasquia e arriscar tudo: estamos perante um dos discos mais bem conseguidos dos The Parkinsons de sempre. E um dos melhores do circuito rock dos últimos anos. A última vez que a VICE esteve com a banda foi literalmente numa noite de nevoeiro, fez agora há dias precisamente um ano.

Na ocasião, Victor Torpedo e Pedro Chau falavam sobre o documentário, A Long Way To Nowhere. Agora, juntamente com Afonso Pinto e os novos membros, João Silva (Jorri) e Ricardo Brito, lançam o disco, The Shape of Nothing to Come, que, curiosamente, toma forma de alguma coisa e em bom. Temos disco, temos Parkinsons, temos banda renovada e aumentada. Desta feita via e-mail e uns dias depois do explosivo concerto de apresentação do álbum no Titanic Sur Mer, em Lisboa, e já em plena digressão por Espanha, o vocalista, Afonso Pinto, conta-nos como vai a vida da banda de Coimbra.

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The Parkinsons, ao vivo no Titanic Sur Mer, 25 de Abril de 2018. Foto por Sérgio Felizardo

VICE: The Shape of Nothing to Come, assume um título sarcástico, com as doses de ironia certa para a prática da modalidade punk rock. Mas, o disco terá certamente alguma forma, até pelos novos membros recrutados. Achas que isso se reflecte no som do álbum?

Afonso: Sim, claro que sim! Desde a entrada do Jorri na banda, em 2015, com a introdução de teclas, que o nosso som se começou a expandir e começámos a explorar outras sonoridades. Isso reflecte-se bastante neste novo disco. A chegada do Brito para a bateria trouxe também uma nova dinâmica e levou-nos a acrescentar percussões, coisas que anteriormente nunca tínhamos utilizado.

O desencanto parece-me ser um denominador comum no universo dos Parkinsons - não só pelo vosso percurso como se viu no documentário A Long Way to Nowehere, mas também nas letras das músicas. Aproveitando a época do 25 de Abril em curso, "que força é essa, amigo(s)" que vos faz continuar?

Esse desencanto que mencionas sempre fez e continua a fazer parte da imagem que criámos, mas não só de desencanto vivem os Parkinsons e sempre tentámos também mostrar um lado mais positivo, algo que se torna mais evidente nas nossas actuações ao vivo, sendo cada concerto uma celebração e não uma marcha fúnebre. Quanto à força, é mesmo só masoquismo!

Fazem cada disco como se fosse o último? É que ouvi dizer que o [Victor] Torpedo não se imaginava a fazer um disco novo dos Parkinsons, mas lá lhe chatearam a cabeça… e aí está ele.

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Realmente, este novo disco dos Parkinsons surge mais, não pela necessidade de expressão artística, pois todos nós temos projectos laterais com diferentes ‘inputs’ criativos, mas sim pela exaustão de andar a tocar o mesmo material há anos e os próprios ‘fãs’ começarem a pedir coisas novas. Daí termos "pressionado" o Victor para fazer algo novo. Obviamente, a introdução de material novo no set traz-nos um outro vigor e mais um desafio, que é algo que sempre nos motivou.

See no Evil e Numb (ver vídeo acima) são dois temas que cheiram a Verão. diria mesmo que são singles naturais, mas que não fazem concessões e traduzem a vossa força ao vivo. Ando aqui às voltas, mas no fundo o que quero perguntar é sobre o processo de composição. Aparece o riff e canta-se por cima mais tarde? A coisa é colaborativa, ou nem por isso? Como sei que cada um tem os seus afazeres extra Parkinsons, há essa curiosidade…

Numa fase inicial não existe colaboração, o Victor escreve as músicas e letras. Creio que no momento que lhe aparece uma canção na cabeça, essa ideia já vem quase completa. Daí ele também dizer habitualmente que o seu processo criativo é super rápido e que escreveu o disco num par de dias.

Mas, depois, em estúdio, é que a colaboração de todos é mais evidente. O Pedro e o Jorri criam ambos as suas linhas de baixo e teclados, respectivamente, eu harmonizo as melodias vocais à minha maneira e o Brito acabou por acrescentar as tais percussões que no passado nunca tínhamos tentado explorar.

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Volto a insistir na sonoridade deste disco para fazer a seguinte pergunta: e se de repente tivessem outro hype, estavam preparados, ou era mais naquela de "à segunda só cai quem quer"?

Isso é coisa na qual nem pensamos, mas também é algo que, agora que o mencionas, nem sequer acreditamos que volte a acontecer. De qualquer forma, sim, se voltasse a haver um Parkinsons "revival", não só estaríamos preparados, como atacaríamos isso com força, como sempre fizemos. Agora temos, isso sim, uma melhor visão e controlo do que se passa connosco e à nossa volta, portanto, "once bitten, twice shy"!

Esta é uma pergunta que as pessoas só vão perceber quando ouvirem o disco (que é o que se pretende). O que é que realmente pensam do heavy metal?

Not my cup of tea!

E mais outra: fogem de vocês na rua e ninguém fala convosco no dia-a-dia?

Pelo contrário, acho que somos todos bastante abordáveis e simpáticos, ou pelo menos é a opinião geral expressa pelas pessoas no nosso já mencionado documentário (risos). Mas, ao vivo sim, visto do palco às vezes há pessoas que parecem ter medo de nós (risos).

Para terminar este trio private session, que é como quem diz que primeiro é preciso ouvir o disco para perceber o que aqui se diz, peço-vos um comentário à canção Sexy Jesus. É que estava capaz de jurar que ouvi ali uma aproximação a Joy Division (mais precisamente a Warsaw)…

Os Joy Division são um grupo que todos respeitamos e gostamos bastante, eu pessoalmente até mais da sua primeira encarnação, Warsaw, assim que essa analogia chega a ser um elogio. Mas, pessoalmente não vejo essa aproximação, ou pelo menos não é algo que tenha sido conscientemente abordado.


O novo álbum dos The Parkinsons já está disponível aqui.

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