O Spoon não vai morrer
Crédito: Zackery Michael

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O Spoon não vai morrer

Trocamos uma ideia sobre o rock e as mudanças na indústria da música com a banda, que se apresenta nessa sexta (23) no Lollapalooza 2018.

Na última terça (20), o Spoon – ou melhor, o vocal e guitarrista Britt Daniel e o baixista Rob Pope – sentaram comigo e comemoraram que chegaram à última entrevista do dia. O grupo, que chegou no Brasil na segunda-feira, toca dois shows ainda essa semana: na quinta no Circo Voador, no Rio, abrindo para o The National, e na sexta durante a tarde no Lollapalooza Brasil, pra divulgar seu último disco Hot Thoughts (2017).

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Não faz tanto tempo que a banda esteve por aqui. Em 2015, eles tocaram dois shows em suporte ao They Want My Soul – dessa vez, os dois foram em São Paulo. A dupla não se lembra com tanto carinho da apresentação no Popload Festival, em que tiveram problemas técnicos, mas não medem elogios para o show que fizeram no Beco 203: "Aquela noite foi fantástica. O show foi ótimo."

O Spoon parece ser, de cara, o que realmente é: uns roqueiros já na meia-idade que estão tocando há mais de 20 anos e olham com desconfiança pra tudo o que é novo e fora do nicho da banda – mesmo que o "novo" já esteja em voga há pelo menos uns 10. Rob fala, sobre as mudanças na indústria musical desde o lançamento do primeiro disco do grupo (Telephono, de 1996), que "agora, todo mundo poder ser escutado. Se as pessoas quiserem escutá-los ou não (risos)." Britt acrescenta, "[a indústria] mudou completamente. Mas estou pronto pra que mude de novo, para a próxima fase. De um jeito que nós consigamos ganhar dinheiro por gravar álbuns de novo."

No começo da banda, porém, nem eles próprios achavam que um dia poderiam fazer grana daquilo. Fundada em Austin, no Texas, em 1996, o Spoon começou como um hobby dos quatro membros originais e ganhou seu nome de batismo de uma faixa da banda alemã Can. "Tudo o que eu queria [naquela época] era escrever músicas rápidas e barulhentas que funcionariam em bares com no máximo umas 50 pessoas", fala Britt. "O primeiro disco era isso. Depois que continuamos com a banda, percebi que haviam outras razões pelas quais escrever."

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O mesmo aconteceu com o gosto musical e inspirações de Daniel, que no começo se limitavam ao post-punk inglês do final dos anos 70 (Wire, Gang of Four, Public Image Ltd) e mais tarde foi revelando nuances de Marvin Gaye, Beatles e Prince. "Outros elementos começaram a entrar nas músicas, e técnicas de produção diferentes também." Sobre bandas de hoje em dia, o vocalista responde que também curte muito The Oh Sees e Anderson.Paak (e sai correndo da sala de entrevistas atrás de sua agente para conseguir ingressos quando o informo que Paak tocaria no Cine Joia naquele dia).

Essas respostas me levaram a perguntar para a dupla sobre a tão comentada "morte do rock". Mesmo que não tenha usado essas palavras, Britt jogou a pergunta de volta para mim nesses termos, como se temesse o que eu escreveria sobre a banda a seguir. "Talvez [o rock] só esteja passando por uma fase", diz Rob, rindo, mas fica sério a seguir. "A gente não vai morrer, não vai parar, não vai desaparecer da face da terra. Não vai acontecer."

Pergunto se eles acham que houve uma queda na criatividade ou qualidade da música. Britt olha para o teto e demora a responder. "É difícil pra mim ver de forma mais ampla a qualidade na música no momento em que ela está acontecendo. Geralmente demoram uns cinco, dez anos antes que eu consiga dizer 'ah sim, isso estava acontecendo'. Mas sei que nossos discos são ótimos. A gente não parou."

Não dá pra tirar a razão dele. Apesar de ter aquele som característico do Spoon, o grupo está sempre tentando se reinventar. A prova é o novo álbum Hot Thoughts, que, com um tecladista à frente pela primeira vez, talvez seja o disco mais sonicamente diverso da banda. "A mentalidade que temos antes de cada disco é a de mudar nossos limites e nunca repetir o que fizemos antes", fala Rob. "Você não quer ouvir o mesmo disco de uma banda duas vezes." Britt concorda, "Tem que ser um disco muito bom pra você querer ouvir duas vezes, como os dois primeiros do Ramones. Se os Strokes tivessem feito o mesmo álbum duas vezes, eu também estaria feliz", fala, sobre o Is This It (2001).

"Uma banda sempre trabalha melhor quando ela está ascendendo em direção a algo, e acho que ainda estamos nesse caminho. Ainda estamos descobrindo ele. Esse é o objetivo", fala Britt. Rob completa: "E talvez nunca iremos descobrir. Não é pra descobrir, né?" "Acho que, quando você acha que descobriu, já pode desistir."

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