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Aos 25 anos já és velho, segundo a ciência

No princípio o envelhecimento é muito lento, quase imperceptível, mas na verdade já estamos a produzir os radicais livres que nos oxidam.
ancianos con 25 años
Imagen vía usuario de Flickr Boris Thaser/CC by 2.0

Este artigo foi publicado originalmente na VICE ES.

Diz a Billie Eilish, desafiando qualquer lei da física e da lógica, que nunca irá envelhecer, que vai ser jovem para sempre. No entanto, a maioria dos mortais estão condenados a verem-se a rebolar encosta abaixo, sem travões, em direcção à velhice.

A ressaca dura mais, cada vez saímos menos, as pessoas têm mais responsabilidades e até começas a ter amigos a casarem ou a terem filhos. É só quando estás num concerto rodeado de gente mais nova que percebes que os anos pesam e que estás feito num oito. Mas a partir de quando é que podemos dizer que somos velhos? Com que idade é que começamos a perder esse vigor tão próprio da juventude?

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Segundo o fisiologista Jesús Tresguerres, começamos a envelhecer quando completamos o nosso desenvolvimento. “Isso acontece por volta dos 25 anos. No princípio, o envelhecimento é muito lento, quase imperceptível, mas já estamos a produzir os radicais livres que nos oxidam. Já estamos a ficar velhos ”, diz-nos.

Quando somos jovens, acontece o mesmo que com um carro novo, que tem um motor perfeitamente ajustado: tem muita força e aquece muito pouco. Os nossos motores celulares produzem energia a partir de oxigénio e os nutrientes geram muita energia e poucos radicais livres, moléculas que são geradas como resultado das reacções biológicas que ocorrem nas células.

Além disso, também são produzidos antioxidantes que bloqueiam mais de 90 por cento da nossa actividade oxidante. É por isso que é tão importante, à medida que envelhecemos, consumir mais frutas e legumes para nos abastecermos de alimentos com essas propriedades. O exercício físico também estimula a produção de antioxidantes, o que também atrasa o envelhecimento.

“Todos os órgãos que estão activos e funcionais envelhecem menos do que os que estão mais parados. Tal como a mente. No geral, os diferentes órgãos e sistemas envelhecem a velocidades diferentes. O pulmão, por exemplo, ao estar em contacto directo com o oxigénio no ar, envelhece mais rápido”, explica Jesus.

"Hábitos tóxicos (como o excesso de álcool ou tabaco), assim como alimentos não saudáveis, a falta de exercício físico e a obesidade aceleram o envelhecimento", diz o fisiologista. Mas, além desses elementos científicos, há também uma parte sociológica no envelhecimento.

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Segundo o sociólogo especialista em juventude e consumo Juan María González, o que hoje em dia se entende por juventude é um período muito longo e super-acelerado, por isso temos a sensação de ter experimentado muitas mudanças em pouco tempo.

“Isto deve-se, em grande parte, ao facto de uma das bases do consumismo ser a rotação constante de modas, experiências e símbolos, que precisam de mudar rapidamente para que sejam consumidos. Isso torna-nos terrivelmente velhos, porque te apercebes que o mecanismo não pára de rodar, tudo vai e volta e tens a sensação de que já o viveste antes ”, diz-nos.

Juan María explica que a juventude como categoria social apareceu nos anos 50 ou 60, por ser um bom nicho de mercado, como sujeito e objecto de consumo. A partir dos anos 2000, criou-se os chamados tweens, que estão entre os 8 e os 11 anos. Aparecem como um novo nicho de mercado, que começou com Hannah Montana e a geração born to buy. A juventude está à frente e a adolescência também.

“Com esse fenómeno da sociedade de consumo, as crianças começam a ter comportamentos que, até então, estavam reservados aos adultos - tanto no consumo quanto no comportamento”, explica Juan María González.

Por um lado, adiantou-se a adolescência, que agora começa por volta dos 8 ou 9 anos e, por outro, já não acaba aos 18, mas sim aos 22 anos. “O que não existia antes (os nossos avós e bisavós passaram de crianças para adultos) é agora uma etapa muito longa, durante a qual já não se é criança, mas não és ainda integrado na sociedade como adulto. Por isso quem tem 25 anos já é de uma geração velha. ”

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Juan María González comenta que a questão das gerações é muito impulsionada pelo marketing. “Baptizaram uma geração de nativos digitais como Geração Z, mas na verdade a mudança geracional ainda não chegou. A verdadeira mudança é das pessoas que têm agora cerca de 16 anos, crianças mais conscientes do meio ambiente e que já se deram conta de que estamos a deixar-lhes como herança um planeta do qual não poderão usufruir”, explica González.

Segundo diz, isso está a provocar uma reacção em cadeia que vai culminar numa mudança, o que os distingue de outras gerações mais velhas, que cresceram numa sociedade de consumo sem essa consciencialização social. “Os millenials sabem que são uma geração que não sofreu nem pena nem glória. Que a verdadeira rebelião começará agora, com esta etapa de consciencialização. Deparam-se com uma nova geração que tem sido muito forte e que está disposta a revoltar-se para mudar as coisas ”, explica-nos.

É por isso que os meus amigos de 25 anos me dizem que se sentem velhos quando vêem as crianças, agora de 18 anos, em discotecas, em manifestações ou na rua. Porque são; somos. E é por isso que nos sentimos como tal: porque vemos surgir uma geração de jovens dispostos a mudar e a romper com tudo aquilo que nós aceitámos e normalizámos.


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