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Sexo

“Cam Girlz” Mostra que Fazer Camming Pode ser Incrível e Empoderador

Um filme que retrata as diferentes personalidades e motivações dessas mulheres, intercalando entrevistas sinceras e filmagens de seus shows diários.

No episódio "Reverse Peephole" de Seinfeld, Kramer e Newman pedem o alicate de Jerry para reverter o olho mágico das portas de seus apartamentos. "Mas aí qualquer um vai poder ver vocês", diz Jerry. "Nossa política é que estamos confortáveis com nossos corpos", responde Kramer. "Se alguém quiser dar uma espiada, que aproveite o show."

Esse sentimento é ecoado agora por toda a indústria de "camming", uma mistura de sala de bate-papo, peep show e clube de striptease, que oferece ao espectador um vislumbre dos espaços pessoais de mulheres nuas através de webcams. O diretor Sean Dunne (de American Juggalo e Florida Man) mostra as diferentes personalidades e motivações dessas mulheres, intercalando entrevistas sinceras e filmagens de seus shows diários. Baseado nas conversas que teve, Dunne entendeu que a profissão é um lugar em que as cam girls conseguem gratificação por seu trabalho, encontrando autoconfiança entre um orgasmo e outro.

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Conversamos com Dunne sobre o futuro da pornografia e por que Cam Girlz tem tantas palmadas, além de trazer um teaser exclusivo do filme para você.

VICE: O que você sabia sobre camming antes de fazer o filme?
Sean Dunne: Na verdade, eu não tinha muitas ideias sobre cam girls antes disso. Achei que era uma coisa mais louca do que realmente era. E, se eu tinha alguma noção preconcebida na minha cabeça, era provavelmente algo a ver com valores antiquados. Tipo: "Ah, não, elas não deveriam estar fazendo isso – alguém tem de salvar essas garotas. O que deu errado?". Quanto mais investigava, mais eu me afastava dessas ideias, porque essas mulheres não precisam de ajuda – elas se sentem empoderadas através desse trabalho e estão ganhando independência. Mudei completamente minhas ideias sobre o que essas garotas estão fazendo.

Como você teve essa ideia? Você achou que estava entrando num mundo sombrio?
Na verdade, foi exatamente o oposto. Tínhamos acabado de fazer um filme chamado Oxyana, que era muito tenso. É sobre uma cidade viciada em Oxycontin, e era bem pesado. A ideia desse filme era explorar pessoas às margens da sociedade que não eram tão perigosas, mas que ainda ameaçavam os seus valores [da sociedade]. Então, levei isso adiante para me afastar da escuridão do último projeto. Pensei em contar algumas histórias sobre mulheres, mais especificamente mulheres que estão desafiando as instituições.

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Qual era sua relação com pornografia quando você era garoto? Esse mundo parecia muito distante para você?
Tive um pouco de contato, porque tenho 33 anos e me lembro da época antes da internet, quando você tinha de arranjar uma Playboy, uma Penthouse ou uma Sports Illustrated edição de biquínis. Aí, do nada, ficou muito fácil achar pornografia grátis. E o que tem evoluído desde então é essa coisa altamente interativa e emocional, que surpreende quem não tem muita experiência com esse mundo.

Um trecho exclusivo de "Cam Girlz".

Bom, isso é muito diferente. Você nunca poderia ter uma conexão com uma revista ou um vídeo pornô, mas as pessoas podem conversar com essas cam girls.
Sim, essa interatividade é o que vira o jogo para o camming. Estamos indo agora para algo muito difícil de definir e que quase transcende o pornô.

No filme, você estava consciente de quanto conteúdo sexual estava mostrando? O que impediu que isso se tornasse pornografia artística?
Tínhamos um equilíbrio o tempo todo com essas entrevistas apenas em áudio, que servem de trilha para o filme todo – essas entrevistas eram feitas longe das câmeras, num cenário mais íntimo. Permitimos que as vozes reais delas aparecessem. A ideia era justapor [as entrevistas] com os visuais desse trabalho de entretenimento incrível e criativo que elas fazem, deixando que o público decida como se sente sobre isso: se ele quer atualizar seus valores e julgamentos.

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Como vocês encontraram as mulheres que aparecem no filme?
Achamos muitas delas no Twitter. Conseguimos uma conexão muito boa com a comunidade. Uma mulher chamada Sophia Locke comanda um evento em Las Vegas chamado Cam Mansion, em que ela reúne várias cam girls algumas vezes por ano, e elas filmam nessa grande casa alugada. Ela nos apresentou à comunidade e disse: "Vou ter um monte de garotas lá. Vocês podem entrevistá-las e ter uma noção das coisas". Então, aproveitamos a oportunidade para fazer o equivalente a uma semana de filmagem, que usamos para fazer o trailer e levantar dinheiro pelo Kickstarter. Quando o Kickstarter começou a fazer sucesso, as garotas fizeram fila para participar. Basicamente, escolhemos o elenco pelo nosso Twitter.

Isso parece uma extensão das redes sociais e da cultura dos "likes", já que muitas das garotas gostam da validação instantânea que isso fornece.
Acho que há elementos de tudo isso no filme, e é o tipo de coisa que espero que o público perceba. Essas pequenas joias escondidas que são comentários sobre aonde estamos indo com toda essa tecnologia – com essa habilidade de conectar, com essa necessidade de atenção. Homens buscando a atenção de mulheres, mulheres buscando a atenção deles: há uma dinâmica muito estranha e moderna aí. É muito maduro. É muito mais maduro do que você pensaria. Isso não se dissolve nos tipos de diálogo que você esperaria encontrar numa dessas salas. A dinâmica entre os membros e as cam girls é fascinante. O filme Ela saiu quando estávamos no começo das filmagens. E pensei: "Cara, são tantas qualidades similares no nosso filme, que acho que [o filme] poderia ser um prequel". Estamos vendo um monte de gente vidrada nesses aparelhos, mas que estão tirando algo realmente satisfatório disso. Estou realmente curioso para ver em que isso vai dar – podemos estar presenciando uma enorme mudança no modo como interagimos.

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Você viu o camming confundir a percepção das pessoas entre realidade e fantasia?
Acho que isso acontece, e estou baseando isso nas entrevistas. Conversei com alguns caras que estavam do outro lado. Falei com várias das mulheres do filme, e a preocupação delas é com as raras circunstâncias nas quais alguém tem a impressão errada e acha que eles estão tentando um relacionamento real. O que essas garotas fazem não é necessariamente o que uma stripper faz – elas fazem o que uma namorada faz. Elas lembram o nome do seu cachorro, são simpáticas, ficam felizes de te ver. Dá para ver como isso pode confundir um membro. Não é como se eles fossem ineptos ou não pudessem conseguir uma garota de outro jeito; muitos deles trabalham em turnos bizarros ou estão em relacionamentos de longa distância. Há muitas razões para essas pessoas estarem fazendo isso. Mas, muitas vezes, você entende como esses caras acabam tendo a ideia errada.

Uma garota do filme menciona que foi perseguida além da câmera. Você encontrou muitas histórias como essa ou sentiu que essa é uma cultura segura?
É a forma mais segura de sexo que você pode ter. E, quando ouço alguém criticando isso, fico confuso – tipo, quem está sendo prejudicado aqui? As pessoas sentadas numa sala, olhando uma imagem bidimensional? Mas há muitas emoções envolvidas. Acho que toda garota com quem falamos tem uma história como essa, com um membro excessivamente zeloso que leva isso longe demais. Mas não acho que isso seja algo que controla o mundo delas. Isso é seguro pelo fato de que elas estão no controle: elas podem bloquear o acesso à região, elas podem bloquear toda a cidade ou o Estado onde estão. Elas podem bloquear membros na hora. Muitas garotas se sentem empoderadas por esse trabalho. Parte disso [é] porque essas ferramentas estão à disposição delas.

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Você pesquisou sobre cam boys?
Não. Tudo que ouvi é que isso é menos uma indústria, e mais uma coisa de nicho. Os caras não fazem tanto dinheiro quanto as mulheres. Não sei por que, se há menos demanda por isso… talvez na comunidade gay seja diferente, mas não conheço nenhuma mulher hétero que pagaria para ver um cara se masturbando em seu quarto. Acho que, se eu fizesse um filme chamado Cam Boyz, o tom seria diferente e certamente mais sombrio.

E por que todas essas palmadas?
[risos] Notei isso também. Não importa qual a origem e quão diferente é o show de cada garota. Todas parecem incorporar isso. Acho que isso diz alguma coisa sobre nós como cultura, que é muito mais onipresente do que qualquer um esperava. Pelo menos para mim. Não curto muito isso, mas toda cam girl faz o lance das palmadas – e há evidências de que estão batendo forte! Elas tratam isso como tomar uma xícara de café enquanto estão trabalhando. Outra coisa que os caras gostam é quando as garotas fazem os shows em público, e isso vai na mesma linha: não dá para fingir, você está numa posição vulnerável. Isso é real. Foi isso que me atraiu para a comunidade em primeiro lugar: a ideia de que isso é o que nos venderam a vida toda, a ideia dessa garota comum, não algo [no estilo] Playboy. Elas não são estrelas pornô: elas são cineastas pelo que posso dizer.

Como você acha que o camming vai evoluir?
Muitas garotas acham que hologramas vão fazer parte disso; então, você não vai só estar olhando para uma tela – você vai estar vendo essa garota no seu espaço físico. Também há aparelhos sendo testados que você vai poder conectar no seu computador e transar com o computador, sentindo como se estivesse transando com a cam girl. Com sexualidade, se isso pode ser feito, isso vai ser feito. Vejo isso como o começo de alguma coisa – é a democratização da pornografia. É uma coisa linda.

Não há uma preocupação com o aumento da lacuna na conectividade física?
Não. Sou otimista quando se trata do futuro, gosto de me envolver com coisas novas e que possam assustar as pessoas. Acho que isso é inevitável: estamos nos fundindo com as máquinas, e não vejo problema nisso. Estamos fazendo isso há muito tempo e só vamos mais além nessa direção.

Assista a Cam Girlz online.

Tradução: Marina Schnoor