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Música

A "Algorave" É o Futuro da Dance Music (Se Você For Nerd)

Existe uma subcultura musical baseada em ver pessoas que adoram computadores criando música dance com codificação ao vivo. E fomos descobrir pessoalmente como o negócio realmente funciona.

Programadores de algorave escrevendo códigos musicais.

Para a maioria das pessoas, o único código envolvido numa balada é o dress code. No entanto, existe toda uma subcultura musical baseada em ver pessoas que adoram computadores criando música dance com codificação ao vivo. A “algorave” — ou rave algorítmica — é uma cena que define sua música como “sons caracterizados total ou parcialmente pela emissão de uma sucessão de condicionais repetitivas”.

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Vamos combinar, parece uma ideia de merda; não tem muita gente disposta a fazer fila nos clubes de música eletrônica só pela promessa de condicionais repetitivas. Mas embora pareça fácil ridicularizar a algorave, isso tudo é algo muito novo, então decidi descobrir pessoalmente como o negócio realmente funciona. Além do mais, ninguém quer ser o cara que daqui 30 anos vai perceber que zoou o Belleville Three na escola só porque eles eram nerds que curtiam computadores e não ouviam os Ramones.

Um set de algorave gravado em Barcelona.

Os promotores das noites de algorave levam suas festas pelo mundo inteiro e já realizaram eventos em lugares como Canadá, Eslovênia, México e Londres. Esta noite, eles estão em Sheffield — uma cidade inglesa que se orgulha em cultivar música eletrônica inovadora — com uma escalação de artistas com descrições que mais parecem captchas. “Glitch cellular automata”, “algokraut” e “ambient gabber” são alguns dos meus favoritos.

Antes de a noite começar, conversei com Alex McLean, um dos fundadores da algorave, que se apresenta solo sob o nome Yaxu e que também é membro do trio do Slub, sobre as origens do movimento. “Codificação ao vivo não existia realmente”, Alex me disse. “Então, tivemos que inventar”, acrescentou outro membro do Slub, Nick Collins, que se apresenta solo como Sick Lincoln.

“Sou um codificador ao vivo e, nos últimos dez anos, tenho escrito códigos para tentar fazer as pessoas dançarem. Esse é meu objetivo”, me disse Alex. Escrever códigos para fazer música é um interesse de mais de dez anos para Alex e Nick, mas a epifania de transportar isso para um ambiente de balada só surgiu alguns anos atrás. “Eu e o Nick estávamos indo para um evento em Nottingham quando sintonizamos numa rádio pirata chamada Rogue FM”, disse Alex. “O DJ Jigsaw estava tocando vários happy hardcore, o que influenciou nosso set naquela noite. Naquele momento isso se tornou a algorave.”

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Pela própria descrição deles, “os algoraves abraçam os sons alienígenas das raves do passado e introduzem ritmos e batidas alienígenas futuristas feitos por meio de estranhos processos auxiliados por algoritmos”. Alex tentou desmontar a função da codificação ao vivo em termos mais simples: “é meio como fazer um padrão de tricô ou algo assim; você começa com uma maneira bem simples de descrever padrões — essa é minha abordagem — e depois usa eles como um tipo de linguagem para descrever sua música”.

Uma algorave é assim.

“Como você tem um computador ali que segue esses padrões enquanto você digita, é a escrita do padrão que faz a música. Você não está escrevendo um padrão que gera toda uma peça, você está escrevendo um padrão que descreve um loop e, então, para mudar a música, você muda o loop. É muito cíclico. É como escrever um texto, mas o que estou fazendo é bem simples na verdade. Outros artistas, como o Nick, realmente se envolvem com a síntese — descrevendo gráficos e operadores que trabalham juntos numa grande rede para criar música ao vivo. Eu trabalho no nível de padrões, mas outras pessoas que vão tocar hoje vão até o nível do sample.”

Essencialmente, o objetivo é colocar a programação à frente da experiência toda, apresentar o ato da programação ao vivo como uma forma de arte em si.

Voltei para o local do evento naquela noite para ver como era transformar a programação numa forma de arte. Óculos, tênis e mochila compunham o dress code universal, e praticamente todas as conversas que escutei giravam em torno de algo relacionado à tecnologia. Não é a atmosfera tradicional de uma balada, e não parecia que muita saliva seria trocada na pista de dança.

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Alex, A.K.A Yaxu.

O Alex toca primeiro, como Yaxu. Ele senta no chão, de meias, cruza as pernas e coloca o teclado no colo, olhando para a enorme tela projetada que gradualmente se enche de códigos. Seus dedos deslizam sobre o teclado como uma daquelas crianças prodígio coreanas que aparecem no YouTube de vez em quando. Os olhos do público estão colados na tela, enquanto Yaxu, de algum jeito, transforma um monte de números e dígitos numa fusão glitch de dub, bass e techno. Cabeças balançam e as pessoas sorriem, não necessariamente no tempo da — ou como reação à — música, mas em admiração ao código que se desdobra na frente delas. Alguns artistas procuram uma abordagem visual, escondendo os códigos atrás de gráficos numa tentativa de atrair a atenção para o resultado e não no processo.

Curious Machine é um bom exemplo desse tipo de artista, vomitando uma confusão de glitchs ambientes que lembram o Autechre atrás de um monte de efeitos visuais que mascaram o código. O Section_9, um artista de Leeds, desfia códigos tão rápido que todo mundo — mesmo alguém como eu, que não faz a menor ideia do que está acontecendo — se impressiona. Estudantes apontam para a tela, tentando dissecar o código, tentando entender o que está acontecendo com os loops e batidas que enchem a tela gradualmente.

As pessoas estão trancadas na Matrix, mas não vejo muitas pílulas azuis rolando por aqui. Hedonismo não aparece estar no centro desse movimento, pelo menos não esta noite. Enquanto caminho pela multidão dispersa, vejo mais copos de cerveja e acenos de cabeça de apreciação do que Malibu e MDMA. De repente, uma pessoal grita, ironicamente: “Alguém tem ketamina?”. E isso é o mais perto que a noite chega de qualquer depravação. Outra coisa que notei no movimento é sua natureza espontânea. Os códigos são feitos do zero e se tornam facilmente voláteis ou instáveis, porque não há infraestrutura de retorno para apoiá-los ou reforçá-los.

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“Os códigos ficam bem complexos e posso até mudá-los, mas não sei exatamente o que vai acontecer quando eu fizer isso. A coisa toda se torna algo com que estou simplesmente brincando”, disse Alex. Na verdade, durante a performance do Section_9, as linhas na tela gigante de repente se tornam vermelhas, e com cada linha vermelha, um som, loop ou batida diferente morre. O som desmorona linha por linha até morrer completamente.

“Deu pau”, ele diz para o público. Mas, em segundos, ele consegue refazer tudo e a batida retorna. Mesmo que risco não seja uma coisa que você associe instantaneamente com codificação, a configuração ao vivo parece oscilar precariamente entre o ponto exato e o desastre total. Talvez porque — pelo menos do meu ponto de vista mal-informado — a tela sempre pareça mostrar uma gigantesca falha eletrônica. Como resultado, os sons variam muito durante a noite, mesmo no set de um mesmo artista. Ocasionalmente, o som é inconsistente, desajeitado e incoerente; outras vezes, é empolgante, imprevisível e absorvente.

Luuma, mascarando códigos com efeitos visuais.

Já disseram que a algorave é uma junção entre filosofia hacker, cultura geek e balada eletrônica, mas pouca gente reconheceria o que rolou esta noite como “balada”. Pouca gente partiu para algum movimento diferente ao de ficar em pé no mesmo lugar e, mesmo assim, em movimentos bem contidos.

A questão não é tanto a música — escrevendo ou não escrevendo códigos, artistas como o Luuma provavelmente encheriam uma pista de dança — mas até agora, a algorave não conseguiu emparelhar o isolamento da codificação com a empatia e a euforia da cultura comunal da música eletrônica. Apesar de isso não ir muito além de um clube de computadores com luz estroboscópica, Alex não parece se importar. Para ele, por enquanto, os códigos continuam sendo a atração principal e um pequeno grupo de algoravers de Sheffield curte muito imergir nela.

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Siga o Daniel no Twitter: @DanielDylanWray

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