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Depois de chorar e dar assunto como encerrado, Geddel se demite do governo Temer

Ex-ministro da Secretaria de Governo deixou o cargo uma semana após acusações de tráfico de influência feitas por ex-ministro da Cultura.

Foto: Agência Brasil.

Depois de chorar, espernear e descolar uma cartinha de apoio com 27 assinaturas de líderes governistas, Geddel Vieira de Lima (PMDB-BA) deixou o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo do presidente Michel Temer nesta sexta-feira (25). A renúncia, informada por meio de carta a Temer, vem após as acusações feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero (PSDB-RJ) de que Geddel teria pressionado Calero para liberar um empreendimento imobiliário em Salvador que seria do seu interesse. O Iphan, órgão de fiscalização do patrimônio histórico vinculado ao Ministério da Cultura, havia determinado que o La Vue Ladeira da Barra, a ser construído próximo a uma área tombada na capital baiana, tivesse no máximo 13 andares, contra os 30 andares previstos no projeto original — e Geddel teria adquirido um apartamento no 23º andar do edifício.

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Depois da entrevista em que Calero proferiu as acusações, no dia 19 de novembro, Temer e sua turma correram para minimizar a treta — Geddel chegou a dizer que o assunto estaria "encerrado" mais cedo nesta semana. Porém, sob pressão popular, incluindo protestos em Salvador, e a revelação nesta quinta (24) após depoimento à Polícia Federal, de que Calero teria gravado conversas com Geddel, Temer e o ministro Eliseu Padilha (PMDB-RS) em que eles o pressionavam sobre o assunto, a posição de Geddel ficou insustentável.

A partir das supostas gravações de Calero suscitaram uma ampla "operação abafa" com o apoio dos mais insuspeitos aliados, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que pediu a investigação de Calero e o ministro do STF Gilmar Mendes, que afirmou que as gravações "iriam para o Guiness". Não adiantou nada, e Geddel preferiu cair fora a contaminar com ainda mais instabilidade o vacilante governo.

GOVERNO TEMER

A demissão de Geddel atinge fortemente Temer. Amigo pessoal do atual presidente, o político baiano é o terceiro dos "homens fortes" do governo a perder o cargo ao se envolver em escândalos. O primeiro foi Romero Jucá (PMDB-RR), ainda no governo interino, que teve que renunciar ao Ministério do Planejamento após ser gravado pelo ex-presidente da Transpetro Sergio Machado em conversas que dariam a entender que o impeachment de Dilma Rousseff foi gestado para barrar a Lava Jato. Jucá hoje é líder do governo no Senado. Depois foi a vez de Henrique Eduardo Alves (PMBD-RJ), então ministro do Tursimo, pedir demissão ao ser citado em delação do mesmo Machado — o político carioca teria recebido mais de R$ 1,5 milhão em esquemas da Petrobras.

Sobraram apenas Padilha, chefe da Casa Civil e Moreira Franco (PMDB-RJ), secretário do Programa de Parcerias e Investimentos e sem cargo ministerial. Além de Geddel, Jucá, Alves e Calero, desde a aceitação do pedido de impeachment de Dilma, mais dois ministros do Temer caíram: Fabiano Silveira, da Transparência, que foi gravado falando mal da Lava Jato, e Fabio Medina Osorio, da Advocacia Geral da União, substituído por Grace Mendonça após uma série de atritos com o Planalto — especialmente com Padilha.

O estrago que a saída de Geddel pode causar no regime Temer ainda precisa ser avaliado. Além de perder um braço-direito, importante na hora de costurar acordos com o Congresso na aprovação de leis, Temer acumula o desgaste público de não conseguir manter sua equipe ministerial sem crises e, mais ainda, o de figurar em gravações comprometedoras. A oposição, obviamente, já fala em pedido de impeachment, que não deve prosperar, porém as investigações da PF podem complicar ainda mais o presidente. E para deixar todo mundo de cabelo em pé, a famosa "delação da Odebrecht", com seu potencial de mandar qualquer fiapo de estabilidade política restante para o espaço, deve chegar em breve. E as investigações do TSE sobre a chapa Dilma-Temer têm avançado, ainda que em sigilo.

Parece que 2017 está longe de se rum ano glorioso para Temer, que ainda está torcendo para 2016 passar de vez.

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