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Herb Brown É um Pintor Papeador

Herb Brown vem profanando outdoors desde e época em que o pai de Neckface estava aprendendo a escrever.

Herb Brown vem profanando outdoors desde e época em que o pai de Neckface estava aprendendo a escrever. No início dos anos 60 ele adquiriu uma porrada de anúncios enormes de metrô e os transformou em imagens íntimas obscenas e em piadas hilárias do tipo que se encontra nos livros de história da molecada da oitava série. Infelizmente, o trabalho de Brown foi considerado obsceno e hilário demais pelos pica-grossa do circuito de galerias de Nova York, que se recusaram a exibir seus gigantescos trabalhos.

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Herbet foi também uma das primeiras pessoas a ter a idéia de juntar televisão e arte, mas também não teve muita sorte com esse projeto. Em 1965, bem quando estava montando a primeira exposição de seus trabalhos com televisão, um blecaute apagou a cidade. No ano seguinte ele perdeu a maior parte de seus trabalhos em um enorme incêndio, até hoje um recorde em bombeiros mortos. Mas intervenções divinas não foram capazes de eliminar o desejo insaciável de Herbert de criar, nem de fechar sua matraca.

Aos 87 anos, Herbert ainda produz e apareceu recentemente em uma coletiva chamada “Mais sábio do que Deus”, com diversos outros artistas ativos nascidos antes de 1927. Ele também está com uma exposição na galeria BLT, em Nova York. Fomos ao seu ateliê para bater um papo com ele.

Vice: Quando foi que você começou a usar os anúncios no seu trabalho?
Herb Brown: Em 1960, dia 12 de outubro, às oito da noite. Não, foi às sete, perdão.

Tinha alguma coisa ou idéia que você estivesse tentando expressar com o seu…
Me pareceu estimulante. Eu gostava do paradoxo entre aqueles anúncios e a forma como eu pintava, que era… eu curto o Soutine. Soutine foi o melhor pintor expressionista que já existiu. Aprendi muito com ele. Na verdade, aprendi com um monte de gente… roubei de todo mundo. Idéias, eu sempre estava pegando alguma coisa em qualquer lugar que eu olhava. Ainda aprendo alguma coisa de todo mundo, até mesmo de pintores ruins. Os assim chamados “pintores ruins”. Não os “importantes”. Pessoas que são descartadas pelo mundo das artes, sabe? Tem os artistas sérios, tem os bons, tem os ruins, os tops, os medianos, blá blá blá – essas babaquices de hierarquia. Mas mesmos os caras que estão por baixo, ou o que se diz estarem “por baixo” têm coisas para ensinar. E eu aprendi. Eu roubava e fingia que não, e eu os menosprezava apesar de estar roubando deles.

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Isso é pegar pesado, mas você estava tentando passar alguma mensagem com os anúncios ou algum…
A preocupação era estética. O mais importante era a minha concepção estética. Minha idéia pré-concebida, ou adquirida, sei lá, sobre o que era belo e o que não era belo, sabe? Mas essas eram noções que eu tinha que sacar à medida que ia escalando o mundo das artes ou o mundo em geral – sei lá – e o resto, noções intelectuais, idéias políticas, crítica social – isso tudo veio depois, se é que veio. Mas isso nunca foi o motor. O motor era a estética, a relação entre um tipo de arte e outro.

Como você conseguiu os anúncios de metrô que você usou nos seus trabalhos?
Eu ia à estação e dizia a mim mesmo que precisava de coisas maiores do que páginas de revista e do que os pequenos cartazes que eu encontrava na rua. Meu ego exigia. Em parte foi o meu ego,s e em parte era apenas uma concepção do que acontece com o visual quando você muda a escala. Acontece alguma coisa, tem uma experiência diferente lá. Eu ando de metrô direto – moro em Nova York desde 1949, antes de você nascer – então eu ia lá e me imaginava fazendo coisas ainda maiores do que os cartazes de metrô, mas eu nunca cheguei a realizá-las por causa de um pequeno detalhe chamado “incêndio”. Mas foi o que aconteceu, agora acabou, ponto final.

Quantas obras você perdeu com o incêndio no seu ateliê?
Não sei, umas 900 pinturas, por aí.

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Isso te destruiu ou você viu nisso uma experiência de purificação?
Não, foi doloroso. Me lembro de ter ficado olhando, com o idiota do Leslie, os nossos edifícios virem abaixo e o filho da puta ele dava risada. Ele estava tentando ser sofisticado e achar graça em perder todos aqueles trabalhos, o detalhe era que a maioria das pinturas dele não estava lá dentro. Ele teve sorte porque tinha trabalhos em galerias, estava fazendo exposições e vendendo bastante.

De quem você está falando, mesmo?
Alfred Leslie. Ele perdeu uma única coisa. Ele perdeu a única cópia que ele tinha de um filme que ele havia acabado de fazer [falando direto no gravador]. Vai se foder, Alfred. Pau no seu cu.

Mas você se lembra de como conseguiu todos aqueles cartazes? Li em algum lugar que você os roubava nas plataformas.
Eu os roubava?

É, você ia lá de madrugada e…
Isso é mentira, mas se você quiser acreditar, tudo bem. A verdade é provavelmente muito mais sem graça.

A organização de suas obras no BLT vai das menores às maiores – a exposição segue uma ordem cronológica? Você começou com coisas pequenas e depois passou para os cartazes do metrô?
É, foi mais o menos o caminho do meu trabalho. Quer dizer, se acontecia de eu começar a trabalhar em alguma coisa pequena, não importava em que “fase” eu estava. Talvez fosse mais fácil pra mim trabalhar em alguma coisa pequena porque é mais fácil de controlar, e se desse errado tudo bem – era apenas uma pintura pequena. Talvez fosse minha maneira de pensar, não sei. E o impulso de aumentar as pinturas – foi como uma evolução natural. Eu nem sei se muitos artistas fazem isso ou não… mas sim, acho que sim. Mesmo se você olhar para as coisas do Rauschenberg – as pinturas meio quilômetro– ele não começou com esse tipo de coisa. Ele começou com coisas mais normais. Pinturas que têm a ver com o tamanho do corpo humano – não é um parâmetro ruim para avaliar o trabalho de alguém. Não que caras grandes não possam fazer pinturas pequenas, mas acho que tem uma zona de conforto, fisicamente, quando você pega um pincel, ou qualquer instrumento e quer fazer alguma coisa com ele, é importante que você se sinta confortável. Para que seja compatível com o seu corpo de alguma forma, sabe?

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Faz sentido.
É como caras baixinhos que gostam de mulher excepcionalmente altas e sem peito. Cresci numa época em que gostávamos de mulheres mais baixas do que nós, pelo menos um pouco. E se você olhar pelas ruas, é assim que são a maioria dos relacionamentos. As mulheres querem a proteção de um homem forte, elas precisam do Rei Leão andando ao lado delas. Talvez uma parte disso seja verdade – deve ser. Afinal, o leão patrulha o seu território, ele vai e vê como as coisas estão, ele chega e fala, “Ei, cai fora daqui”.

É, eu peguei mulheres que eram mais altas que eu. Na verdade não gostei, tinha medo de apanhar delas.
Eu tive mulheres mais altas do que eu e gostava delas, até do lance de elas serem mais altas do que eu. Era uma coisa nova e excitante ao mesmo tempo. Você olha em todas as revistas de moda agora e só tem mulher alta.

Como foi a transição dos cartazes de metrô para as pinturas em televisão?
Eu estava trabalhando numa pintura e reparei em alguma coisa ali que eu queria que estivesse em outro lugar. Então peguei um pincel e corri para o quarto onde minha mulher estava, assistindo TV, e pintei uma coisa rápida na própria tela enquanto ela assistia.

E o que ela achou?
A primeira reação foi de choque, acho que porque eu ter interrompido o programa que ela estava assistindo. Nem sei que programa era, mas ficamos ali os dois… foi incrível ver aquilo acontecer daquele jeito.

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Então foi um lance totalmente espontâneo? Você não estava atrás de nenhuma relação específica entre a pintura estática e as imagens móveis sob ela?
Não, foi só, pá! Eu estava trabalhando e queria que alguma coisa diferente acontecesse. É aquele lance do yin e yang, no entanto, não importa qual imagem, não importa o que você estiver fazendo, tudo pode ser visto nesses termos.

Em 1965 você estava preparando a sua primeira exposição de pinturas em TV quando a cidade apagou.
Haha! Essa é a história do Leo Castelli. É, estávamos em 1965 e eu fui até o Leo com a minha TV velha e um algumas das peças de vidro. Montei o trabalho, e naqueles dias demorava um tempo até a TV esquentar, até as imagens aparecerem. Então estávamos ali esperando e no mesmo instante em que a imagem apareceu na tela todas as luzes de Nova York se apagaram. Foi o grande blecaute de 1965. A primeira coisa que pensei foi, o que foi que eu fiz? Arregacei toda a energia da cidade! Pensei que alguma coisa que eu tinha feito havia fodido com tudo. O Leo, claro, ficou maluco. Logo ficou claro que não tinha sido culpa nossa, mas ele não me convidou de novo, nem eu pedi pra voltar. Eu devia ter pedido, mas eu não era descolado o suficiente, esperto o suficiente, ou tranquilo o suficiente para ser convidado de novo para mostrar o meu trabalho.

Uau, então não rolou a exposição?
Ele nunca viu o trabalho. Eu estava só mostrando um exemplo das coisas que eu estava fazendo.

Estar a ponto de introduzir um novo estilo artístico que as pessoas jamais tinham visto e ser impedido por algo completamente fora de seu controle foi desanimador?
Sim, eu não era uma pessoa madura, ligada, com tino pros negócios. Eu não entendia o esquema das galerias de arte. Minha preocupação era estritamente estética. A estética governava o que eu fazia. Eu tinha muito pouco controle sobre meu lado intelectual. Só entendi isso mais tarde. Levou bastante tempo porque eu era um cara que demorava a aprender.

Porque te chamaram de o “bad boy” da recente exposição “Mais sábio que Deus” na galeria BLT? Você tinha a reputação de bêbado como o Jackson Pollock ou o De Kooning?
O quê? Eu não sabia disso, eu não sei porque fizeram esse comentário.

Acho que por causa do tom sexual dos seus trabalhos.
Sexualidade. Muita coisa é sexual, não é? Olhe no espelho, e olhe para além do espelho, do espelho da sua mente e da sua alma. Olhe lá no fundo e você talvez fique assustado – é meio bizarro. Eu me cagaria de medo.

Você acha que ainda é possível hoje em dia trabalhos sexualmente explícitos terem o mesmo impacto que seu trabalho teve nos anos 50 e 60?
Para metade da população, com certeza. A outra metade adoraria e bateria palmas, mas ainda assim não levariam para casa. Mesmo os mais esclarecidos, bom, não os mais esclarecidos, mas uma boa parte dos bem esclarecidos ainda teriam medo de colocar na parede de casa, porque a vovó vem visitar com as crianças, então têm essa preocupação.