Emicida
O rapper Emicida. Foto: divulgação

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Semana da Consciência Negra 2018

Marighella, Elza Soares e Emicida: em quem o jovem negro brasileiro se inspira

"Emicida me fez pensar na minha posição e existência como homem negro."

Ter em quem se inspirar pode ser algo muito óbvio e fácil para você que não é negro. Se reconhecer nas telas de TV, nos palcos de shows, nas grandes empresas ou canais de YouTube sendo branco está perfeitamente de acordo com a normatividade racista do Brasil. E por muito tempo jovens negros brasileiros não encontravam a representatividade posta em prática no dia a dia. Porém essa realidade está sendo modificada, fruto das conquistas dos movimentos de militância racial.

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Cantores, quadrinistas, youtubers, jornalistas. Muitos são os motivos que fazem com que pretas e pretos encontrem inspiração profissionalmente ou mesmo identitária em personalidades negras. Em tempos de debates sobre Dia da Consciência Negra, valorizar a questão da representatividade é algo de extrema importância. Nomes como Emicida, Elza Soares e Marighella são referências para alguns jovens negros.

Maíra Azevedo e Wynne Carvalho

Jornalista Maíra Azevedo (foto de divulgação) e Wynner Carvalho

Wynne Carvalho, 23 anos, jornalista
Tia Má (Maíra Azevedo)

"Ela foi extremamente importante no meu processo de autoconhecimento enquanto mulher negra, no meu entendimento relacionado ao papel que assumo na sociedade e também no reconhecimento dos meus privilégios. Até então eu era parda, morena, bronzeada. Trabalhávamos no mesmo espaço e um dia ela virou pra mim e disse: 'Você é o quê?' Respondi em um tom baixo e tímido: 'negra'. No mesmo instante ela retrucou: 'Não, fale alto, diga sem medo! Vá, minha filha, diga: 'Eu sou negra!' Eu tinha 18 anos e a partir daí, é isso que eu faço onde eu chego e as pessoas tendem em negar minha negritude, porque é isso que a sociedade faz todos os dias com a gente."

Nátaly Neri e Carolina Leal

Youtuber Nátaly Neri (foto: reprodução/Instagram) e Carolina Leal

Carolina Leal, 27 anos, produtora
Nátaly Neri

"Cada dia que passa eu amo mais essa mulher. Ela é novinha que nem eu, sabe? Me inspira bastante. Lembro que eu estava inquieta com várias coisas na minha vida pessoal e na carreira quando a encontrei na internet. A forma como ela pesquisa e discute coisas sobre racismo, gênero, sexualidade e capitalismo, a suavidade com que ela trata desses temas ao mesmo tempo que mete o pé na porta e diz 'acorda, galera!' Ela é jovem, cheia de sonhos e de anseios para mudar o mundo. Ela vai criando estratégias para desmontar o que está posto por aí e, seja falando de máscaras faciais ou de um livro, Nátaly Neri milita. Ela usa o YouTube pra fazer com que mais meninas negras se amem e se reconheçam."

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Marcelo D'Salete (foto: divulgação) e Edvan Lessa

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Edvan Lessa, 25 anos, professor
Marcelo D'Salete

"Ele é uma referência de quadrinista para mim, por ser negro, historiador e autor de duas obras que eu considero fundamentais no cenário de quadrinhos do Brasil. Marcelo D'Salete é autor de Cumbe e Angola Janga, obras premiadas. É inspirador porque ele é um historiador que ganhou visibilidade com um produto voltado para as demandas da população negra. Entretanto também tem Emicida: foi o artista cujo trabalho me fez pensar na minha posição e existência como homem negro e as demandas que me atravessavam."

Emicida e Irênio

Emicida (foto: divulgação) e Irênio, 27 anos

Irênio Neto, 27 anos, guitarrista e produtor musical
Emicida

"Vejo nele alguém com uma leitura de mundo diferenciada e que consegue, por meio de suas músicas, levar isso a outras pessoas, ajudando-as a ver até mesmo o cotidiano sob uma perspectiva diferente. Um outro motivo pelo qual me inspiro nele é o fato dele estar conseguido chegar muito longe sendo um artista independente. Vejo isso como uma vitória para todos nós, artistas pretos independentes, afinal, temos muito o que dizer e, ao chegar num show do Emicida, por exemplo, você se dá conta de que também há muita gente querendo (e precisando, risos) nos ouvir."

Elza Soares Foto Daryan Dornelles_Divulgação

Elza Soares (foto: divulgação) e Daniele Souza

Daniele Souza, 27 anos, sanitarista, doula e atriz
Elza Soares

"Me inspiram mulheres como Elza Soares, que enfrentou e segue enfrentando várias formas de opressão ao longo de sua vida, mas segue firme na luta. Ela representa o grito poderoso de uma mulher negra e de uma artista que vem se reinventando, assim como eu. Movidas pelo medo das violências que sofremos, mas também pelo amor que nos faz renascer e resistir, seguimos firmes na caminhada."

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Beyoncé (foto: reprodução) e Júlia

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Júlia Trindade, 26 anos, jornalista
Beyoncé

"A rainha dona da minha vida é Beyoncé. Desde adolescente achava o máximo aquele mulherão cantando para milhares de pessoas, sendo inteligente e independente. Mesmo que ela não cantasse sobre feminismo/negritude na época, só de uma mulher negra chegar no nível que ela chegou é uma conquista gigante. Amo muito desde sempre."

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Carlos Mariguella e Jonas Pinheiro

Jonas Pinheiro, 26 anos, jornalista
Carlos Marighella

"Pensando muito no momento que temos vivido, de ameaça a direitos conquistados e de avanço de forças autoritárias. A sua frase 'não tive tempo de ter medo' ecoa, e faz coro para que sejamos resistência, como sempre fomos. Como é comum em nossa história, personalidades negras, como Marighella, são muitas vezes 'esquecidos' pela historiografia. Vê-lo como inspiração é valorizar os passos desta referência para o povo preto e suprir esse esquecimento de nossas referências."

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