Marcelo Falcão
Foto: Kel Lima/VICE

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Marcelo Falcão quer que seu novo disco seja como uma ida à praia

Seu primeiro álbum solo em quase três décadas de carreira, 'Viver (Mais Leve Que O Ar)' é mais uma busca pelo alívio do que um comentário político.

Quando ainda morava no Engenho Novo, antes e um pouco após a formação d'O Rappa, Marcelo Falcão tinha como divertimento ir à praia aos finais de semana. Pegava os ônibus 474, 475 ou 476 ("considerados os mais perigosos do Brasil") pra sair do subúrbio carioca e ir até Copacabana. Quando chegava ao ponto final, sem dinheiro pra pagar a passagem, saía despercebido junto à multidão e ia visitar o mar. “Eu sabia que quando voltasse ia ter que dar calote, passando por debaixo da roleta. Mas quando eu via o mar, eu voltava pra minha área diferente. Eu era feliz da vida.”

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Ele conta essa história em “Eu Quero Ver O Mar”, a mais longa e épica faixa de seu primeiro disco solo lançado nessa sexta (15). Segundo o cantor me contou ontem durante entrevista, porém, esse evento é bem representativo de tudo o que ele quer passar com Viver (Mais Leve Que o Ar).

“O disco passa essa mensagem: vamos passar por muita coisa, mas você precisa ter um mar ou um sol pra te elevar. É o suburbano que chegava lá, via o mar e tinha força pra voltar mesmo se sua casa estivesse faltando luz, ou inundada pela água”, fala. “Ele podia voltar e contar o quanto foi divertido, mesmo sem ter nada. Quero que o cara ouça e fale: meu irmão, vou deixar essas mágoas, vou tirar essa energia parada de dentro de casa.”

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Foto: Kel Lima/VICE

Viver (Mais Leve Que o Ar) surgiu de um processo longo e trabalhoso ao longo dos últimos sete anos. Incentivado pelos colegas d'O Rappa a buscar uma carreira solo, Falcão começou a gravar barulhos, pedaços de letras, ideias de sons e tudo o que lhe inspirasse e surgisse. Quando finalmente decidiu fazer o disco, tinha 600 arquivos dos quais escolher. “Tinha feito muita música, mas não queria parar pra começar a fazer um disco. Precisava de um organizador”, conta. O escolhido foi o produtor musical Felipe Rodarte, que descartou o que estava ainda muito prematuro até que, eventualmente, os dois concordassem em 13 daquelas faixas.

São as músicas que formam Viver, um projeto mais pessoal e sonoramente diverso que os trabalhos mais recentes d'O Rappa. “Eu estava preparado pra deixar O Rappa com uma história linda e começar a minha. Não queria que fosse um disco só de reggae, só de rock, só de soul. Queria que ele tivesse um viés que fosse minha vibe de baixo e bateria pesado, denso, mas que ele pudesse ser up porque eu perdi muita gente nesses seis, sete anos.”

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A vibe positiva do álbum parece ser não apenas uma mensagem para sua audiência, mas para o próprio Falcão, que fala ainda não saber lidar com a perda de diversos familiares e pessoas queridas recentemente. Colega de Falcão n'O Rappa, o músico Marcelo Yuka também faleceu recentemente após sofrer um AVC em agosto do ano passado. Para o vocalista, Viver representa ter crença em algo que te faça continuar apesar dessas perdas e dificuldades. “Com fé já tá difícil, sem fé fica terrível.”

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Foto: Kel Lima/VICE

Os comentários sociais tão presentes em suas letras ao longo dos últimos 25 anos ainda aparecem no disco pouco a pouco, mas seguem uma vibe mais politicamente isenta do que o compositor costumava fazer. Falcão, que em 2013 gravou a música “Vem Pra Rua” em referência às Jornadas de Junho como parte de uma campanha da Fiat, diz que prefere se abster de comentários sobre política institucional. “Quem mudou e quem muda tudo é o povo, que é quem faz as escolhas. Muito mais do que ter votado ou não, só vi mudança quando minha comunidade se uniu pra se ajudar.”

O cantor fala de uma descrença na entidade política como um todo, e diz achar que o povo não deveria perder tempo brigando entre si por conta de partidos. Fala, ainda, que a cada um cabe um espaço, e o dele como músico não seria o de fazer comentários políticos, principalmente em shows. “Odeio quem fica no palco dizendo ‘isso, aquilo, blablablá’. Você foi ali pra ver o show e o cara falando. Eu posso até concordar com ele, mas acaba com o meu show. Já fui embora de apresentações por causa disso”, comenta. Complementa o argumento falando do amigo músico Igor Kannário, eleito deputado federal pela Bahia nas últimas eleições. “Admiro a coragem dele, mas é uma cruz muito grande pra mim, que ainda tenho muita música a oferecer.”

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Foto: Kel Lima/VICE

Para divulgar Viver (Mais Leve que o Ar), o cantor pretende viajar todos os estados do Brasil em palcos e casas menores pra construir alguma intimidade com seus novos e velhos ouvintes. “Como eu já toquei em muita coisa grande, hoje não tenho o menor problema em começar devagarinho de novo. Quero tocar todos os estados e priorizar ter uma molecada dessa ou um artista local pra tocar comigo”, fala, e cita alguns “novinhos da internet” com quem gostaria de tocar este ano: 1Kilo, Oriente, Iza (com quem ele gravou o hit “Pesadão”, em 2017), Ponto de Equilíbrio, Criolo, Rael, BK' e Marechal.

“Eu tenho o que aprender com eles pra caramba. Nunca ajudaram O Rappa, então sempre tive a noção de que eu queria oferecer esse palco pra esses novos, pra gente estar junto nessa jornada”, diz o cantor. “Faço parte de outra geração, mas minha consciência, meu pensamento, meu querer é muito novato. E ele me instiga sempre a estar mais próximo desse mundo, porque esse mundo comunga.”

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