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Música

Punks nos contam a coisa menos punk que eles já fizeram

O que é pior: ser informante de uma associação anti-tabaco ou trabalhar como corretor imobiliário?
dois punks Frank Turner e Evan James Redsky
Imagens cortesia do autor.  

Dois dias antes do meu aniversário de 13 anos, tentei cortar meu próprio cabelo sozinho. Era uma época estranha da minha vida, pontuada por masturbação crônica e uma raiva enorme de praticamente tudo. Minha cidade natal. Meus pais. Lição de casa. Fascistas. A raiva era constante e sem forma. Eu tinha surtos aleatórios de gritar e agir com violência. Um dia eu ventilava minha frustração xingando um colega que não merecia, no outro jogando pedras no supermercado do lado da escola. Nessa ocasião em particular, a totalidade da minha raiva hormonal foi dirigida para o meu couro cabeludo.

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Eu tinha descoberto recentemente a música punk e estava desesperado para adotar o estilo de todos os outros não-conformistas. Trancado no banheiro de casa, cortei o cabelo com uma lâmina de barbear que comprei na farmácia. O resultado foi um Devilock assimétrico. Claro, o corte foi executado toscamente e não estava apenas desigual, mas acidentalmente deixei uns pontos carecas. (Por mais que eu respeite o aspecto DIY do punk, tem coisas que é melhor deixar para os profissionais mesmo.) Mesmo assim, fiquei extremamente orgulhoso do meu novo visual. Quando minha vó viu meu cabelo, ela começou a chorar, o que – honestamente – era mais ou menos o efeito desejado.

Aos treze anos meu corte de cabelo ficava no lugar da minha personalidade. Minha esperança era que as pessoas veriam meu cabelo e reconheceriam instantaneamente que eu era uma pessoa com quem você não ia querer mexer: um indivíduo que tinha opiniões fortes sobre nosso governo opressor e as qualidades sedativas da religião organizada. Um verdadeiro vanguardista que desenhava pentangramas no fichário e até tinha tentado andar de skate uma vez. Por isso fiquei surpreso quando me perguntaram se eu queria ser um informante.

Um amigo dos meus pais tinha aceitado um trabalho como o chefe da Unidade Antitabaco de Ontário, no Canadá. Parte da missão da unidade era impedir a venda de cigarros para menores impondo multas pesadas para as lojas que fizessem isso. Sendo assim, a Unidade Antitabaco chamou alguns menores de idade, não-oficialmente, para tentarem comprar cigarro do comércio local. Aparentemente meu novo look me fazia parecer mais velho e, se eu quisesse uma posição da Unidade Antitabaco, ela podia ser minha.

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Fiquei bastante dividido. Isso foi anos antes de eu começar a ler – e citar errado – Orwell, mas a ideia de ser um dedo-duro era bem desprezível. Mas o trabalho pagava dez paus a hora (mais sete dólares pro jantar). Exatamente dez dólares a mais por hora do que eu já tinha recebido pra fazer qualquer coisa na vida. Depois de muita deliberação, decidi que dez dólares era minha taxa para desistir da minha moral. Fui de punk para um vendido em umas duas semanas. Recebi 300 dólares pelo meu tempo como informante e usei o dinheiro para comprar um Nintendo 64.

Trabalhar como informante foi com certeza a coisa menos punk que já fiz na vida. É bem ruim, claro, mas eu tinha certeza que dava pra encontrar algo pior. Por isso passei os últimos meses perguntando para um bando de punks qual a coisa menos punk que eles já fizeram. Leia as repostas deles abaixo:

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Prestar atenção em qualquer coisa que escrevem nos fóruns do PunkNews. – Frank Turner

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A coisa menos punk que já fiz foi abrir uma conta no Money Market. Ações Blue Chip. Fundos de investimento. Mas é uma maneira muito segura de fazer seu dinheiro crescer a longo prazo. – Benji Madden/Good Charlotte

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Topar dar esta entrevista. – Dave Hause

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Decidimos não fazer um álbum de punk rock dessa vez. A gente queria ver o que acontecia. Também passamos o dia inteiro ouvindo Steely Dan. – Bad Cop / Bad Cop

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Tem muita coisa na minha vida que não é nada punk. Pago pelas nossas turnês trabalhando como corretor imobiliário. Quando era moleque, fiz aulas de sapateado mas nunca fui bom o suficiente para realmente calçar aqueles sapatos de sapateado. – Drew Thomson/Single Mothers

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Adoro assistir a série Nashville e comparar os personagens com artistas de country do rádio. – Pkew Pkew Pkew

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Literalmente fiz trinta anos, tive gêmeos e comprei uma casa na mesma semana. – Larry and His Flask

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Usar uma sunga da Hello Kitty. Numa jacuzzi. Enquanto comia minicenouras. Ou usar a camiseta da nossa banda. Com as letras nas costas. No dia que nosso álbum saiu. – The Dirty Nil

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A coisa menos punk que já fiz foi tocar Tom Collins na produção de RENT no meu último ano no colegial. – Evan James Redsky

Graham Isador acha que a coisa menos punk que você já fez é discutir quem é punk e quem não é. Siga o cara no Twitter.

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