FYI.

This story is over 5 years old.

Sexo

Encontrar o ponto A é bom demais

Eles não ensinam isso na escola. Mas deveriam.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Arte por Zoe Ligon.

Texto originalmente publicado na VICE EUA.

Quando tinha 19 anos, eu não usava minhas mãos para me masturbar. Naquela época, eu já tinha percebido que ia precisar de algo maior e mais comprido. Algo que alcançasse… seja lá o que tinha no fundo do meu ser que eu não conseguia alcançar sozinha. Então arranjei um consolo de borracha. Ele era brilhante, roxo e com veias.

O consolo era comicamente mais longo do que eu precisava — pelo menos 22 centímetros de comprimento e cinco de circunferência — mas servia. Com muito lubrificante, eu atrapalhadamente montava nele, aplicando meu peso e pressão gentilmente na base. De repente, algo novo era acessível. Era como descobrir uma nova porta numa casa em que morei por muito tempo. Senti uma parte do meu canal vaginal se expandir, se desdobrando para seu potencial total. Em certo ponto, eu não entendia direito nem meu clitóris, quanto mais o cérvix e o canal vaginal, então levou tempo até eu ouvir um nome para esse lugar. Mas sim, ele tem um nome: o fórnix anterior, ou “ponto A”.

Publicidade

O Ponto A é uma fenda localizada no colo do cérvix. Ele fica entre a parede vaginal frontal e os nervos do colo do útero. O cérvix bloqueia a estimulação da área, o que faz essa zona ser extra sensível. Penetração ou mesmo um leve toque no cérvix é desconfortável para muitas mulheres, mas tocar o fórnix anterior pode produzir uma sensação imediata de prazer. Na verdade, se você tem um cérvix, você tem um fórnix posterior também! Eu gostava da sensação que os dois pontos me davam, mas algumas mulheres gostam mais que outras.

A menos que você esteja ativamente procurando essas áreas, ou inserindo algo tão grande que o canal se expanda e tudo seja tocado, é muito fácil esses pontos passarem despercebidos. Mas como dona de uma vulva, o ponto A era tão gostoso para mim quando o ponto G… talvez até mais.

Contatei minha colega educadora Kate Sloan, que também é jornalista e entusiasta do ponto A, e perguntei sobre o primeiro encontro dela com essa zona prazerosa. Ela descobriu o dela por volta dos 19 anos, depois de fazer sexo sem muito prazer com o pênis na vagina (PV), como eu. Sloan pesquisou diferentes técnicas para tornar o PV mais prazeroso, como a Técnica de Alinhamento Coital, um método que sugere penetração vertical e movimento para maximizar a estimulação do clítoris. Foi durante esse período que ela descobriu seu ponto A.

“Depois de muitos meses incorporando estimulação clitoriana no coito e descobrindo que isso me permitia ter um orgasmo durante o PV, comecei a notar que era especialmente bom quando meu parceiro ia bem fundo. Aí saquei que poderia ser o fórnix anterior sobre qual eu tinha lido. Depois de descobrir isso, comecei a experimentar sozinha com brinquedos eróticos que podiam alcançar aquele ponto, e ler bastante sobre o tema.”

Publicidade

Sloan cita a pesquisa da Dra. Chua Chee Ann como fonte de informações sobre o tema. Considerando que a educação sexual padrão não inclui nem o clitóris direito, e a “existência” da área dentro da esponja uretral conhecida como ponto G ainda é debatida, não é surpresa que haja pouca cobertura sobre os fórnix anterior e posterior. Sloan especula que isso se deva ao fato de o ponto ter sido “descoberto” por uma mulher não-branca.

Como Sloan, a educadora sexual e coach de prazer Glamazon Tyomi descobriu seu ponto A com um parceiro. “Comecei a perceber como ficava molhada em certas posições quando o parceiro ia mais fundo. O aumento da lubrificação também vinha com uma sensação morna, calmante e eufórica pelo meu corpo, e notei que isso acontecia com a penetração profunda perto do meu cérvix… Eu sabia que isso não era algo experimentado ou discutido normalmente, então comecei a pesquisar.”

Tyomi acha o discurso cercando o ponto A insuficiente. “Há várias zonas erógenas dentro da vagina documentadas em textos antigos da filosofia oriental… Mas como ninguém fala sobre isso, a pesquisa é incomum. Educadores sexuais não tocam no assunto porque não há muita literatura apoiada pela ciência de onde pesquisar. Mas sabemos que isso existe.”

Como o ponto G fica a apenas alguns centímetros à frente do ponto A, é normal não entender a diferença entre eles. Se você tem um canal vaginal, as sensações de cada área são consideradas prazerosas, mas distintas. “Posições que diminuem a vagina (pernas perto da barriga ou no peito) ajudam ao parceiro a encontrar o ponto mais facilmente”, sugere Tyomi. “Também recomendo a posição de 'planking' como um jeito de achar o ponto com mais facilidade.”

Publicidade

Como todas as coisas sexuais, é muito importante comunicar o que é bom e o que não é. “Alguns parceiros já confundiram com o ponto G, mesmo que eu pedisse 'Mais fundo' durante a interação”, aponta Sloan. “Já expliquei meu ponto A para parceiros que disseram 'Tem certeza que você só não tem um ponto G muito fundo?' Como alguém que acessa os dois pontos regularmente, tenho consciência das sensações diferentes que cada um produz em mim. E sei a diferença.”

Então como você pode estimular seu ponto A? Sloan recomenda usar os brinquedos sexuais mais versáteis do mundo: as mãos! “Os dedos pode fornecer a pressão deliberada e o ritmo que meu ponto A gosta… também acho ridiculamente gostoso num nível psicológico quando meu parceiro me faz gozar assim com os dedos. Isso mostra um conhecimento do meu corpo que acho incrivelmente sexy.”

Considerando que mais de 75% das vulvas não atingem o orgasmo só com a penetração, Tyomi diz que não é muito provável gozar só com o ponto A. “Quem já experimentou esse tipo de estimulação gosta por causa da onda de orgasmos que isso ajuda a produzir e como isso aumenta a lubrificação. O parceiro costuma gostar da sensação da vagina mais molhada e apertada… a textura do ponto A também é uma vantagem.” A sensação é ainda mais deliciosa quando acompanhada de estímulo clitoriano.

Brinquedos com pontas curvadas, como o Abby G, também são muito bons para alcançar o ponto A. E se gosta de tamanhos maiores, você pode tentar um brinquedo mais grosso para expandir internamente o canal e acessar os fórnix anterior e posterior simultaneamente.

Publicidade

A autora com seu brinquedo Eleven.

Mas se você está tentando estimular o ponto A com um pinto de carne ou uma cinta-caralha, a coisa pode ser menos intuitiva. “Quando posicionado bem fundo, procure por um ponto mais 'escorregadio' na parede frontal… quase imediatamente a vagina vai ficar mais molhada e uma euforia cria relaxamento e excitação”, recomenda Tyomi. “O parceiro de penetração talvez tenha que se mover um pouco para a direita ou esquerda, ou mesmo mover as pernas das parceiras para um lado ou para outro para acessar o ponto mais facilmente. Paciência é a chave.”

Você também pode conhecer o ponto A e não gostar das sensações, como nem todas as donas de vulvas gostam do estímulo do ponto G. “Conheço gente que já experimentou e achou 'meh'”, diz Sloan. Acho que, como com tudo na vida, isso funciona para algumas pessoas e para outras não.” Também é importante não ENFIAR um pinto/brinquedo/dedos no fundo do canal vaginal e achar que vai ter um orgasmo instantâneo. “Meter muito fundo pode doer e ser desconfortável, por causa do cérvix”, acrescenta Sloan. “É melhor se conhecer antes de tentar uma penetração mais funda.”

Mas se você é como eu, e ficou curiosa em imaginar como seria sentir essa área sensível, provavelmente vai amar explorar todas as coisas mágicas que podem ser oferecidas sozinha ou com um parceiro. “Estimulação do ponto A é a técnica que facilita clímax simultâneo entre os parceiros”, Tyomi aconselha para casais em busca de alinhar suas energias orgásmicas. “Querem gozar juntos? Busquem o ponto A.”

Siga a Zoë no Twitter.

Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter e Instagram .