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Uma obra de arte gerada por IA foi vendida num leilão por US$ 432 mil

'Edmond de Belamy' foi o resultado de meses de trabalho de três pessoas usando um algoritmo de aprendizado de máquina.
obra de arte inteligencia artificial
O quadro "Edmond de Belamy", gerado por meio do aprendizado de máquina, é parte de uma série de 11 retratos de uma família fictícia. Foto: Obvious/ Divulgação

Uma impressão gerada por uma inteligência artificial (IA) foi vendida por US$ 432.500 [mais de R$1.600.000] pela casa de leilões Christie's de Nova York, nos EUA, na última quinta-feira. O valor, dizem os curadores, surpreendeu: foi 40 vezes mais que o esperado.

A imagem se chama Edmond de Belamy e suas feições borradas – artefatos do algoritmo usado para criá-la – parecem um pouco aquele Jesus tão desfigurado por um trabalho tosco de reparação que virou meme. A obra pertence a uma série de 11 retratos, todos gerados por inteligência artificial, retratando membros da família fictícia Belamy.

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“Contemplem o futuro – aqui está”, declarou o leiloeiro antes dos lances começarem.

Longe de ser a criação solo de uma IA, a obra é, na verdade, produto de meses de trabalho de três caras que dividem um apartamento em Paris – um deles candidato a PhD de aprendizado de máquinas – que se chamam coletivamente de Obvious.

A inclusão da obra no leilão da Christie's causou certa consternação no mundo das artes e também entre especialistas em inteligência artificial que se ressentem com as implicações de que um algoritmo pode ser um artista em si – especialmente a variedade relativamente monótona usada para criar a impressão, “Generative Adversarial Networks (GANs)”. Os GANs foram desenvolvidos em 2014.

“O algoritmo não foi a única coisa que entrou na criação dessa arte – GANs não têm livre arbítrio”, me disse Mark Riedl, professor-associado de aprendizado de AI e máquinas do Instituto de Tecnologia da Georgia, nos EUA. “Eles são pincéis muito, muito complicados com muitos parâmetros matemáticos, e você pode usar esse pincel para conseguir um efeito que seria difícil ter de outra maneira.”

Essas nuances claramente se perderam em algumas matérias sobre a impressão leiloada – várias manchetes descreveram a obra como “criada” por uma AI, em vez de gerada, ou feita.

Quando falei por telefone com Hugo Caselles-Dupré, candidato a PhD de aprendizado de máquinas e um terço do Obvious, ele classificou essa caracterização como “sensacionalismo” e “clickbait” da mídia. A intenção da obra, insiste, é educar o público sobre os limites das IAs. Algoritmos são ferramentas, me disse Caselles-Dupré, não seres criativos em si.

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“Hoje, não é uma questão de algoritmos substituindo pessoas”, disse Caselles-Dupré. “No futuro teremos que tomar cuidado com isso, mas hoje eles são mais como uma ferramenta. Queríamos mostrar um exemplo concreto do que essas ferramentas de IA podem fazer.”

Assinar a obra com a fórmula matemática do algoritmo foi um jeito engraçado de comunicar essas ideias para o público geral, disse.

Não está claro quão bem essa mensagem funcionou. Numa declaração para a Artnet, Richard Lloyd, o chefe internacional de impressões da Christie's, disse que a obra foi selecionada para leilão precisamente por supostamente ser uma criação com pouca intervenção humana.

GANs são algoritmos que “aprendem" por meio de uma grande quantidade de dados de input e usam esse conhecimento para produzir novos resultados depois de um longo período de treinamento. Mas isso não faz os GANs serem autônomos. O produto final é resultado de um longo processo de selecionar cuidadosamente dados de input, mexer nos parâmetros matemáticos, depois passar por todos os resultados para encontrar os melhores exemplos do que você estava procurando.

“Tivemos que escolher os dados e fazer a curadoria manualmente. Depois tivemos que treinar várias vezes”, me disse Caselles-Dupré. “Você tem que escolher um conjunto de parâmetros, depois conferir os resultados manualmente. Tipo, 'OK, gostei desse resultado, então talvez eu mude um pouco os parâmetros para conseguir algo um pouco melhor'. Fizemos isso por várias interações.”

A interação final do algoritmo – o que melhor se encaixava nos propósitos do Obvious – resultou em centenas de imagens, disse Caselles-Dupré, que tiveram que ser peneiradas para apenas 11. “Escolhemos cuidadosamente as imagens que achamos mais interessantes desse lote”, ele disse.

Então, qual é a verdadeira parte criativa nesse processo? O algoritmo que precisa ser estimulado e treinado por meses para entregar alguma coisa ou as pessoas pesquisando por um resultado estético e tomando todas as decisões para chegar lá?

“É muito mais sobre os humanos do que sobre a ferramenta”, me disse Riedl. “Minha pesquisa vai contra esses limites e não acho que um dia vamos ver os humanos fora desse ciclo.”

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