Miada Cultural 2017
Foto: Vinicius Jpeg/ VICE

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Miada Cultural 2017

A gestão Doria decepcionou em organização e números no evento deste ano.

Pela primeira vez, a gestão João Doria (PSDB) se encarregou da Virada Cultural na cidade de São Paulo. Logo nos primeiros anúncios, a expectativa era de desmonte. Pra além dum line up que muita gente achou fraco, a 13ª edição do evento foi desorganizada, enfureceu produtores, censurou os artistas e ganhou de presente uma chuva torrencial no último domingo (21), afastando ainda mais o público. A estratégia do prefeito e do secretário de cultura André Sturm era desafogar o centro e levar as atrações principais para pontos específicos da cidade, como o Parque do Carmo e o Sambódromo do Anhembi. Se o objetivo era enfraquecer o evento, funcionou. Para se ter uma ideia, o Autódromo de Interlagos chegou a ter shows com apenas 10 pessoas na plateia, algo impensável em edições anteriores.

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Aguardada por míseras 50 pessoas, a cantora Fafá de Belém alegou te sofrido uma "indisposição" antes de fazer sua apresentação, que acabou cancelada. Outros artistas vivenciaram situações similares. Nas redes sociais, diversos produtores musicais fizeram reclamações sobre a estrutura do evento.

"Máximo respeito a todos os profissionais que, de verdade, tentaram fazer a Virada desse ano dar certo. Infelizmente não deu e vi a frustração na cara de todas as pessoas que ralaram pra caralho pra fazer rolar", publicou, indignada, a produtora musical Letz Spindola. "A coisa saiu do controle e a falta de organização, planejamento e boa vontade dessa gestão da prefeitura roubou a cena e deixou todo mundo vendido, trabalhando num evento desastroso de mãos totalmente atadas."

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Na calada dos acontecimentos, uma ação brusca aconteceu na Cracolândia, mobilizando mais de 900 agentes da polícia. Ao menos 38 pessoas foram detidas.

Outra coisa esquisitíssima foi o Ministério Público do Estado de São Paulo ter alertado os artistas convidados para que evitassem fazer manifestações político-partidárias durante os shows, já que a Virada é custeada com dinheiro público. Inúmeros gritos de "Fora, Temer" e "Fora, Doria", entretanto, ecoavam entre o público e, muitas vezes, recebiam o endosso dos artistas em cima do palco.

Para a advogada Aline Nóbile, a ata que circula como recomendação do MPSP, "é absurda e ilegal". A pedido da VICE, ela colocou suas impressões pessoais sobre o tema: "É assustador, inclusive, um documento com este teor ser proveniente do Ministério Público. Essa ata é uma distorção do princípio de impessoalidade para restringir a liberdade de expressão dos artistas. É, de fato, uma coação".

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Em seu show, Daniela Mercury não só mandou um "Fora, Temer" ao microfone, como frisou: "Eu não tô aqui representando partido nenhum. Eu tô aqui de saco cheio".

A baiana, que costuma arrebatar multidões, como quando celebrou o aniversário de São Paulo circulando em cima de um trio elétrico, em 2016, desta vez recebeu apenas quatro mil pessoas no Sambódromo do Anhembi. Como uma artista da estirpe de Daniela contou com um público minúsculo? "É uma coisa que precisa ser reavaliada", pontuou Sturm durante coletiva de imprensa na noite do domingo.

Foto: Vinicius Jpeg/ VICE

Mesmo diante de imagens que mostram quão vazios ficaram diversos shows, Sturm não admite que a Virada estivesse, de fato, se transformado na Miada Cultural. Para ele, a descentralização foi o maior acerto desta edição.

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O rapper Mano Brown, do Racionais MC's, apresentaria o show do seu disco solo, Boogie Naipe. Mas, pelo Facebook, avisou os fãs que, apesar de sua equipe ter cortado 40% das exigências e não medir esforços para que a apresentação acontecesse, "a Virada não conseguiu entregar a estrutura mínima necessária para o show de uma banda de mais de 13 músicos". O show acabou sendo cancelado.

Outras atrações relataram problemas de organização, como a festa Talco Bells (acima).

Um tópico ainda obscuro é saber se essa edição trouxe movimentação financeira turística relevante para São Paulo, já que, ao lado de eventos como a Parada Gay, a F1, o Carnaval e a festa de Ano Novo na Avenida Paulista, a Virada Cultural é um dos principais atrativos da cidade. Procurada pela VICE, a SPTuris justificou que o levantamento deste ano ainda está sendo fechado. Diante de um cenário que sucateia a cultura pública cada vez mais, a única coisa que nos resta é aguardar surpresas ainda piores para 2018.

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