Montagem: Vinícius Trigo. Foto Bonde do Tigrão: Facebook/Divulgação. Foto Paulo Guedes: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
"Tchu tchuca, vem aqui com seu tigrão, vou te jogar na cama e te dar muita pressão." A estrofe da canção "Tchu tchuca" que foi hit no ano 2000, virou um trend depois de ser citada ontem pelo deputado federal Zeca Dirceu na Câmara durante um debate sobre a Reforma da Previdência. A canção de Leandro Dionísio, o Leandrinho do Bonde do Tigrão, foi originalmente destinada a alguém bem mais inocente que Paulo Guedes. "Escrevi essa música para minha sobrinha quando ela era pequena, hoje ela tem 24 anos, na época eu chamava ela de tchu tchuquinha. A música sempre foi feita para homenagear e exaltar as mulheres." Segundo o MC, Tigrão na gíria do funk, "é aquele cara pegador, da balada, que não namora ninguém né? O cara que representa."O grupo, originário da Cidade de Deus, causou furor entre a mulherada dos bailes funks nos anos 90 com as danças sensuais performadas por Leandro e os outros colegas de banda, na época que ainda se chamava Bonde dos Putões. Em 1999, para ganhar a rádio, a TV e o Brasil todo por sugestão do DJ Marlboro a banda resolveu mudar de nome. "Ficou Bonde do Tigrão porque tinha um componente que ganhou de uma ex-namorada uma sunga de sex shop. A frente era um desenho de tigre, e na frente não tinha forro, ai ele foi botou forro e foi pra praia com essa sunga e começou a ficar conhecido como Tigrão.” Para completar, o nome podia substituir todas as vezes que a palavra putão era citada no repertório do grupo, sem afetar as rimas. "Era Gustavo o nome dele, mas ele saiu da banda e hoje em dia ele é pastor pra você ter noção."A banda lançou ano passado no seu canal de youtube o DVD "O Baile todo", um showzaço com grande participação do público gravado em São Carlos, para um público de 17 mil pessoas numa festa universitária chamada Tusca. Segundo o escritório da banda, 80% da agenda deles é hoje voltada para o público universitário. O próximo lançamento será o clipe de "Pique Baile de Favela", com uma sonoridade mais atual de 150 BPM.
Assista ao nosso documentário sobre o 150 BPM:
Questionado a respeito da condenação do DJ Rennan da Penha, Leandro diz que não o conhece pessoalmente, mas acompanha e admira seu trabalho. "Pelo que eu sei é um moleque do bem, é trabalhador. Mas é um cara da comunidade, que toca na comunidade, e quando você mora na comunidade não tem como não ficar perto de bandidos ou traficantes, isso faz parte do dia a dia das pessoas. Eu fui nascido e criado na Cidade de Deus e a todo momento eu via, sempre convivi com esse pessoal. E esse pessoal curte baile e a sociedade sabe disso, não é segredo pra ninguém. Ele tá sendo injustiçado por tocar em comunidade, Rennan da Penha não é bandido, ele é DJ."Sobre a polêmica envolvendo Zeca Dirceu e Paulo Guedes, o grupo publicou uma nota oficial no Instagram afirmando que a figura da tchutchuca foi tirada de contexto pelo deputado e que "a música foi criada como uma brincadeira elogiando as mulheres". A nota ainda dá um tapinha na mão de Dirceu, dizendo que o político deveria respeitar Guedes que "além de ser uma autoridade é um senhor de idade e merece respeito".Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.
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O grupo causou furor nos bailes dos anos 90 quando se chamava Bonde dos Putões
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Integrando o repertório de herdeiros políticos ou batendo forte entre estudantes do interior paulistano, o Bonde do Tigrão é um clássico. Apesar de um tanto fora dos holofotes - até o evento político, ao menos, Leandro fica feliz do momento em que o funk está vivendo. "O funk tem participado de vários eventos legais, é hit. O Dennis DJ é um cara do funk que toca nos grandes festivais, depois de Alok é a segunda referência top de DJ. Entre outros, Ludmilla é funkeira, ela canta funk. E é um marco." Ele lamenta, no entanto, que ainda assim o gênero siga sofrendo: "Preconceito sempre vai existir. Ainda mais quando é uma galera que sai da comunidade, muitas vezes não sabe se expressar direito, usa muita gíria. E as pessoas ainda associam muito o funk ao sexo ou ao crime. E o funk tem muitos lados. Tem uma galera que toca proibidão, tem galera que canta funk romântico, outra galera um funk mais pornográfico".