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Viagem

Eu estava num avião e o piloto anunciou que tinha uma bomba a bordo

“Mãe, vai ficar tudo bem? Vamos conseguir chegar em Changi?”
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
looking out window at jet
Imagens via Unsplash

No dia 26 de março o piloto do voo SQ423 da Singapore Airlines disse aos passageiros que havia uma bomba a bordo. Depois de ser escoltado por jatos militares, o avião aterrissou com segurança no Aeroporto de Changi. Cerca de 30 minutos antes da aterrissagem, os passageiros foram notificados da ameaça. Uma varredura no avião mostrou que não havia itens suspeitos a bordo.

Um porta-voz da Singapore Airlines disse a VICE: “A Singapore Airlines confirma que houve uma ameaça de bomba no voo SQ423 operando de Mumbai para Singapura. A aeronave chegou a Singapura em 26 de março de 2019, por volta das 8h (horário local). Havia 263 passageiros a bordo. Estamos trabalhando com as autoridades nas investigações e lamentamos não poder fornecer mais detalhes”.

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A VICE falou com Vijay Singh, um passageiro do voo SQ423, para saber exatamente o que aconteceu a bordo. Vijay é parte da equipe VICE Ásia.

Eu estava num voo noturno de Mumbai para Singapura, na noite de segunda-feira, 25 de março. Eu já tinha pegado no sono quando fui acordado de repente, com a equipe de bordo acendendo e apagando as luzes e pedindo para todo mundo colocar os cintos. Quando eles fizeram o segundo anúncio, eu já estava totalmente acordado. Eles disseram: “Senhoras e senhores, pode haver uma bomba no avião. Achamos que pode ser um alarme falso, mas ainda estamos investigando. Temos F-16s nos escoltando até o aeroporto”.

Do nada, um jato F-16 passou pela nossa janela. Depois outro. Logo depois do anúncio, todo mundo se sentou e começou a conversar. Havia muita tensão no ar, muitas sobrancelhas franzidas, gestos nervosos, uma sensação geral de confusão e incerteza. Alguns pegaram o celular e filmaram os jatos que estavam nos escoltando.

Mas eles não me fizeram sentir nem um pouco mais seguro. A visão de um jato militar só confirmava que a situação estava se agravando, então nem pensei em filmar o que estava acontecendo. E se aqueles fossem meus últimos momentos?

Olhando os jatos, me perguntei o que eles fariam se realmente houvesse uma bomba no avião. Eles nos derrubariam para proteger Singapura? Por que aviões militares? Por que F-16s? Como eles poderiam ajudar?

Comecei a imaginar “Será que vou sair dessa com vida?” Era como estar num filme. As pessoas estavam conversando nervosas. A equipe tentou manter a calma, mas dava pra ver a preocupação no rosto deles. Fiquei pensando “Quem vai cuidar dos meus filhos se algo acontecer com este avião?” A morte em potencial estava me encarando olho no olho.

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Uma garotinha sentada atrás de mim perguntou para a mãe: “Mãe, vai ficar tudo bem? Vamos conseguir chegar em Changi?”

Para a maioria das pessoas, é difícil lidar com estar num espaço confinado e dizerem que tem uma bomba ali. Não há como escapar. Não há pra onde correr. Tudo que o você pode fazer é ficar sentado lá com esperança enquanto finge que tudo está bem. Famílias estavam falando entre si num tom de pânico. Todo mundo estava olhando pelas janelas. Os jatos estavam voando muito perto.

Ninguém estava gritando, mas dava para imaginar que as pessoas queriam. Imaginei os pensamentos passando pelas cabeças delas. Casais, pais com os filhos, grupos de amigos. Foi uma batalha psicológica para todo mundo.

A menina atrás de mim ficava perguntando para a mãe porque havia aviões militares lá fora, e a mãe estava tentando assegurá-la que estava tudo bem. Na minha frente tinha um adolescente com o pai. Eles estavam falando sobre se tinham ouvido o anúncio direito. Eles estavam duvidando do que tinham ouvido. O garoto estava dizendo para o pai que o anúncio dizia que provavelmente era alarme falso e que não havia realmente uma bomba.

O piloto não fez outro anúncio, o que pareceu estranho. Quando é uma questão de condições climáticas, os pilotos dão atualizações a cada dez minutos. Neste caso, era uma ameaça de bomba e eles só falaram uma vez, sem nenhuma atualização depois. Isso não ajudou a acalmar os nervos a bordo.

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Os jatos desapareceram assim que entramos em Changi, e pousamos com segurança. Foi um grande alívio finalmente tocar o solo. Mas não tivemos permissão para sair logo de cara. Sabendo que tínhamos pousado com segurança, as pessoas começaram a liberar sua tensão. Os homens estavam levantando a voz com os comissários, pedindo para sair porque podiam perder seus voos de conexão. Tivemos que passar por segurança adicional quando desembarcamos, mas nada mais foi dito. Fui pra casa, feliz em poder rever minha família.

Revivendo tudo isso, meu medo se transformou em confusão e frustração. Ninguém está falando sobre o caso e a Singapore Airlines não abordou nenhum passageiro ainda. Quer dizer, eles só me disseram que eu poderia ter morrido naquele avião. Nada demais.

Fico imaginando por que o anúncio foi feito. É estranho dizer para as pessoas que pode haver uma bomba no avião delas quando você não tem certeza. O que tornou o anúncio obrigatório? Por que assustar todo mundo? Ou é melhor para os passageiros saber da possibilidade?

Mais tarde, notícias disseram que assim que o avião decolou, alguém ligou dizendo que havia uma bomba a bordo. Mas eles só fizeram o anúncio meia hora antes do avião aterrissar, o que também não faz sentido. Se a ameaça era remotamente real, não deveria ter acontecido um pouco de emergência?

E a criança e uma mulher do voo que supostamente foram detidos no aeroporto para interrogatório? Quem são eles? Onde eles estão agora? Por que eles estariam ligados ao caso?

Agora, depois do incidente, estou grato por estar vivo, mas ainda aguardo respostas.

Matéria originalmente publicada pela VICE Ásia.

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