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Música

Nos EUA, a Cena Eletrônica Lésbica Segue Vivona

Coletivos femininos de DJs estão criando novos espaços para mulheres queers como bares, clubes e festivais.

Quando iniciei minha carreira profissional de DJ, seis anos atrás, não pude deixar de notar uma diferença gritante entre os eventos para homens e mulheres gays. Dos lugares aos lineups, era óbvio que as festas lésbicas levavam a pior, por falta de uma expressão mais adequada.

Cada vez mais bares, festas e clubes nossos têm desaparecido. Em outubro, o Lexington Club, um ícone da comunidade lésbica de São Francisco, nos Estados Unidos, anunciou que fecharia suas portas.) depois de 18 anos. O RF Lounge, veterano bar do West Village, em Nova York, também fechou no ano passado, junto com o recém-chegado (e efêmero) The Dalloway, do qual Kim Stolz, de America's Next Top Model, e Amanda Leigh Dunn, de The L Word, eram proprietárias.

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A festa Truck Shop, uma das principais da cena, que rolava às sextas, em West Hollywood, foi cancelada no final de 2014, e até mesmo o original (e controverso) festival de música "womyn" [A grafia feminista/lésbica de "woman", mulher, usando o 'y' no lugar do 'a', singular, ou do 'e', plural - "women" - usada por mulheres que sentem que o fato de haver a palavra "man", homem, na palavra "mulher" torna as mulheres um subgrupo em relação aos homens] conhecido como Mich. Fest. anunciou que a edição de agosto será a sua despedida depois de 40 anos de atividades. Esses encerramentos e cancelamentos não são um fenômeno exclusivamente americano. O Candy Bar, em Londres: fechado. O Le Drugstore, em Montreal… Bem, você entendeu.

Um casal no longevo Michigan Womyn's Music Festival, que celebra a sua despedida este ano.

Então o que tudo isso significa para as milhares de mulheres queer que existem e ainda precisam de um espaço na vida noturna?

Embora o encerramento de tantas das nossas festas, bares, clubes e festivais possa sugerir a morte da "festa lésbica", há um contramovimento alentador: a ascensão de coletivos de DJs mulheres que se identificam como queer, como o Discwoman em Nova York, o Daphne no Smart Bar de Chicago, o Female Pressure em Berlim e o Athena Collective em Los Angeles.

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O surgimento de plataformas como essas está chamando mais atenção para a falta de visibilidade e respeito pelas DJs mulheres, e, ao mesmo tempo, criando espaços para mulheres queer se expressarem e conhecerem aliadas com ideias semelhantes. Em vez de tentar entrar à força no "clube do bolinha ", estamos criando o nosso próprio clube.

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Seguindo exatamente este raciocínio, decidi criar minha própria empresa de eventos três anos atrás. Queria fazer festas bem produzidas com uma diversidade de talentos femininos em lugares de primeira basicamente, eventos à altura do que todo mundo parece ter. Comecei com festas semanais às quartas e, em três meses, tive meu primeiro evento com a presença de mais de 1.200 mulheres. Os números falavam por si só. Surpresa! Quem diria?! Garotas gastam dinheiro, sim, e vão apoiar a cena. Elas só precisam dos ingredientes certos para perceber que vale a pena investir o seu tempo e o seu suado dinheiro. Grandes empresários da vida noturna de Nova York notaram isso. O Marquee agora vai sediar a minha maior festa do ano um celebração do Orgulho Gay com nove horas de duração (apropriadamente intitulada THE PARTY), na sequência da Parada do Orgulho Gay de Nova York, no último domingo de junho.

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Mulheres especialmente as negras, queer, ou de aparência não-feminina precisam de mais visibilidade na música e na vida noturna. Parece que o único jeito de chamar a atenção dos grandes clubes e provar que sim, nós mulheres e queers existimos nesta indústria e talvez tenhamos algo importante a dizer em um espaço jovem, branco e dominado por homens é criar as festas que queremos ver e nas quais queremos tocar.

Amber Valentine tocando na festa NEON, da Whitney Day, no Marquee.

É claro, os meus eventos não são só para DJs, mas acima de tudo para as mulheres, lésbicas, bissexuais, transexuais e queer. Precisamos de boa música, sistemas de som sólidos e lugares seguros não apenas para nos sentirmos "seguras", mas porque merecemos ter padrões elevados nas nossas opções de vida noturna.

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Esse ano vai ser um marco na minha carreira, em que orgulhosamente vou apresentar um lineup para o Orgulho Gay de um mês inteiro, em Nova York, com quatro eventos incríveis, que vão de uma festa no Verboten que irá se estender até a madrugada, a única pool party ao ar livre para mulheres da cidade no Dream Downtown, uma festa mais intimista no lendário Cielo e o grand finale no Marquee, um dos clubes mais conceituados de Nova York. Mais de quatro mil mulheres vão comparecer a esses eventos para dançar ao som de 12 DJs mulheres vindas de Columbia, Sydney, Frankfurt e Nova York. E justiça será feita à música em todas as noites com sistemas de som Funktion1, o melhor que há em experiência sonora.

Então, para aqueles que dizem que as festas lésbicas estão mortas, eu digo, pense outra vez. Agora é o despertar da vida noturna lésbica e da visibilidade das mulheres queer na música eletrônica.

Whitney Day é DJ e produtora de eventos em Nova York. Siga-a no Twitter.

Tradução: Fernanda Botta