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A VICE Adora a Magnum

Chris Steele-Perkins Não Consegue Tirar a Inglaterra da Cabeça

O membro da Magnum Photos que examinou a subcultura britânica dos Teddy Boys nos anos 1950, 1960 e 1970.

INGLATERRA. Bradford. Um teddy boy penteia o cabelo no Market Tavern. 1976.

Magnum é provavelmente a agência de fotógrafos mais famosa do mundo. Mesmo que você não tivesse ouvido falar dela até agora, é muito provável que já conheça suas imagens – seja a cobertura de Robert Capa da Guerra Civil Espanhola, ou as férias bem britânicas de Martin Parr. Diferente da maioria das agências, os membros da Magnum são selecionados pelos outros fotógrafos da agência e, como eles são a maior agência de fotógrafos do mundo, se tornar um membro é algo muito difícil. Como parte de uma parceria com a Magnum, vamos apresentar o perfil de alguns de seus fotógrafos nas próximas semanas.

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Chris Steele-Perkins estudou psicologia antes de se tornar fotógrafo. Seus primeiros trabalhos focavam nos problemas sociais das cidades britânicas da época em que trabalhou com o coletivo EXIT. Seu tempo no EXIT culminaria num livro do grupo chamado Survival Programmes. Em 1979, ele lançou seu primeiro livro, Teds, examinando a subcultura britânica Teddy Boy nos anos 1950, 1960 e 1970. Depois disso, Steele-Perkins começou a viajar, fotografando países da África, o Afeganistão e depois o Japão. Membro da Magnum desde 1979, conversamos com ele sobre tudo isso e sobre sua obsessão pela Inglaterra.

VICE: Sua experiência parece bastante variada, já que você estudou coisas como química e psicologia. Isso influenciou seu trabalho de alguma forma?
Chris Steele-Perkins: Não tenho muita certeza. Obviamente, eu estava procurando por alguma coisa que eu realmente quisesse fazer, então comecei com a química, mas logo percebi que não era isso o que eu estava procurando. Psicologia foi interessante e divertido, mas também não pareceu ser a coisa certa. No entanto, foi nessa época que comecei a trabalhar para o jornal dos estudantes como fotógrafo, e foi isso o que me fez continuar. Quando terminei o curso, percebi que era o caminho que eu queria seguir.

Voltando um pouco à psicologia, parece que você tem uma forte conexão com o aspecto pessoal da fotografia. Claro, você fotografou muitas pessoas, mas parece que você realmente conseguiu chegar à alma de muitas questões pessoais. Você acha que ter estudado psicologia tornou mais fácil se conectar com as pessoas e suas lutas?
Honestamente, acho que isso tem mais a ver com senso comum. Eu poderia dizer que a melhor conexão que a psicologia ofereceu foi o fato de não ser a física nuclear. Era um curso relativamente fácil, devo dizer, o que me deu muito tempo para desenvolver minha fotografia. Acho que meu interesse realmente é, sem querer soar pretensioso, a condição humana. Como as pessoas vivem ao redor do mundo. Fui grandemente influenciado por grandes fotógrafos humanistas; Kertész, Cartier-Bresson, Eugene Smith, pessoas assim. Eles foram uma influência poderosa no começo, quando você é mais influenciável.

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BANGLADESH. Aldeões. 1972.

Seu primeiro corpo de trabalho esteve focado em Bangladesh, na pobreza e no desespero que você encontrou lá. Mas seu primeiro livro foi sobre os Teddy Boys na Inglaterra. O que desencadeou essa guinada do terceiro mundo para suas raízes na Inglaterra?
A viagem para Bangladesh foi minha primeira e, depois disso, não viajei mais por muito tempo. Sempre me interessei pela Inglaterra e comecei dois projetos sem perceber quão grandes eles se tornariam três anos depois. Um deles saiu do projeto do revival do Teddy Boy em que eu estava trabalhando com um amigo escritor para uma revista. Depois de uma noite no pub, nós dois concordamos em levar isso em frente e acabamos com um livro.

Ao mesmo tempo, me envolvi com dois outros fotógrafos numa pequeno grupo chamado EXIT. Eles queriam fazer um projeto sobre a pobreza nas cidades do interior da Grã Bretanha, então, passei muito tempo em áreas pobres e interioranas do país. Isso virou um livro também, Survival Programmes, muitos anos depois. Livros sempre me pareceram a maneira mais satisfatória de produzir um corpo de trabalho.

Sim, definitivamente parece que você, mais do que os outros fotógrafos, realmente gravita ao redor da elaboração de livros. O que o atrai no formato do livro?
Essencialmente, o controle. É ótimo ter uma publicação de 12 páginas como na The Sunday Times Magazine, mas você também acaba com um anúncio de uísque e outro da Land Rover no meio e no final do artigo. Eles escolhem obras com as quais você não está realmente satisfeito, etc. Um livro oferece uma causa e, se você não gostar, então é porque eu estraguei tudo. Não posso culpar mais ninguém.

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Senti em certos momentos que queria fazer uma declaração e tive sorte de encontrar editoras que seguiram essa noção comigo. Mesmo agora, com a internet e tudo o que ela tem a oferecer, ainda sinto que o livro, que você pode tirar da prateleira, segurar nas mãos e se sentar para ler, continua sendo a melhor maneira de ver fotografia.

De volta ao Teds, o livro teve uma segunda vida como um documento influente no mundo da moda. O que você pensa sobre isso?
Se é assim mesmo, então ótimo [risos]. Isso é, obviamente, um documento social, e a moda é parte do que foi documentado no processo todo. Em primeiro lugar, foram as roupas, juntamente com tudo o mais naquele estilo de vida, que me atraíram.

Afeganistão. O banho semanal das crianças num orfanato de Cabul. 1994.

Parece que muito de seu trabalho foi criado por meio de uma imersão profunda no mundo de seus temas, sejam os ocupas de Belfast ou os talibãs do Afeganistão. Isso foi uma prática consciente da sua parte ou foi pura sorte?
É essencialmente consciente. Se você não se conecta com seus temas em seu trabalho, então ninguém mais vai conseguir fazer isso. E você acaba com um monte de imagens estéreis.

Você também parece se equilibrar entre fotografia de reportagem, trabalho pessoal e arte. Sei que o projeto Film Ends era mais experimental e parece que seu livro Pleasure Principle tinha um pouco de sua própria voz intervindo – e que não era puramente subjetivo. Como você mantém esse equilíbrio?
Sempre me senti um fotógrafo subjetivo, mesmo fazendo reportagem clássica. O livro que fiz no Afeganistão, por exemplo, é em certo nível, muito clássico – preto e branco – e sobre uma zona de guerra. Mas, na verdade, muito disso é dedicado às pessoas que seguem com suas vidas comuns. Os tiroteios e arremesso de granadas estão ali também, mas num contexto – ou pelo menos em minha ideia de contexto.

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O livro para mim é bem pessoal. Ele inclui textos que escrevi sobre as experiências que tive pelo caminho. Sinto que sempre tive um pé na coisa pessoal e outro na vontade de olhar para o mundo lá fora.

AFEGANISTÃO. Talibãs se movimentam contra as forças de Masood. 1996.

Você se juntou a Magnum em 1979. Como isso aconteceu?
Como eu disse, eu estava trabalhando em projetos baseados principalmente no Reino Unido e Belfast foi uma das minhas experiências favoritas no exterior. Depois disso, tive a necessidade de ver mais do mundo e a fotografia é uma maneira fantástica de fazer isso. Me encontrei com Joseph Kudelka em Londres várias vezes e uma vez ele me chamou do nada e disse que eu deveria inscrever um portfólio para a Magnum. Também aconteceu de eu estar querendo uma agência na época. Tudo aconteceu muito por acaso. Tive que ser votado por todo mundo, mas tive um bom começo e uma boa aceitação.

A longo prazo, quais são os efeitos de trabalhar para a Magnum?
Bom, suponho que isso teve um grande efeito, porque eu estava bastante isolado em Londres. Pude conhecer muitas pessoas que eu admirava e com quem competiria durante a era de ouro da fotografia de revista. A infraestrutura para ter coisas publicadas estava lá, só dependia de você fazer as fotos. Que era o que eu queria fazer, estar lá fora. Parece loucura agora, mas teve uma época em que eu nem pensava em dinheiro. Só pensava que tinha que aparecer com imagens interessantes e elas pagariam a si mesmas. Esse foi um passo importante para mim.

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Outra coisa que se mostrou importante foi o arquivo da Magnum. O fato de que suas coisas entram para o arquivo, são recicladas e podem voltar como capas de livros, por exemplo. Significa que você tem ainda outra possibilidade de aumentar sua renda. O que obviamente o liberta para trabalhar apenas no que você quer fazer. É o que todo mundo sonha.

INGLATERRA. Sheffield. Phyllis Corker é uma centenária. Data de nascimento: 3 de junho de 1907. Em seu quarto na casa de repouso.

E você continua com a Magnum e continua trabalhando.
Sim. Estou achando mais difícil conseguir dinheiro para fazer algumas das coisas que quero no momento, mas o motivo principal para ter entrado na fotografia era fazer o que eu quisesse, não servir às necessidades dos outros. É isso o que pretendo fazer até o fim.

Fale sobre seu projeto novo, Fading Light. Como você teve essa ideia?
Tive a ideia depois de ler um pequeno artigo no jornal — uma estatística sobre o número de pessoas com mais de cem anos. A questão do envelhecimento da população no mundo ocidental é algo que vem sendo discutido há algum tempo. Esse artigo dizia que o Reino Unido tinha mais de 10 mil pessoas com mais de cem anos.

Uau.
Pensei a mesma coisa. É um novo grupo demográfico que não existia antes, e fiquei curioso em saber como essas pessoas eram. E também como eu me sentiria estando na posição delas. Então decidi trabalhar nessa série de retratos e entrevistas com centenários, numa tentativa de documentar esse fenômeno enquanto ele emerge. Há provavelmente 12 mil centenários na Grã Bretanha agora, e logo mais serão 20 mil.

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Isso surgiu como muitos outros projetos para mim. Alguma coisa te belisca e você não consegue tirar isso da cabeça. Segui esse pensamento e publiquei o livro. Na verdade, esse não é meu projeto mais recente, que é um sobre grandes propriedades de campo inglesas. Isso é algo que eu vinha querendo fazer há anos, mas encontrar um lorde que me deixasse andar pelo lugar e fazer o que eu quisesse não foi a coisa mais fácil do mundo. Por fim, achei um lugar chamado Holkham Hall, uma grande propriedade em Norfolk, e passei cerca de um ano fotografando a vida ali como parte de meu interesse mais amplo na Inglaterra.

Parece que mesmo fazendo esses trabalhos em outros lugares, você sempre acaba retornando a Inglaterra. O que o traz sempre de volta?
O fato de eu morar aqui. Acho mesmo que a Inglaterra é um pouco melhor que do qualquer coisa neste mundo, talvez porque sou meio birmanês e não nasci aqui, mas sempre voltava quando era criança. Talvez porque não tenha realmente me encaixado no começo. Sinto como se fosse um lugar que sempre olhei de fora. É um lugar estranho com gente estranha, mas que continua a me intrigar. Independentemente de estar lidando com um lorde em sua mansão, uma senhora de 105 anos ou com um cara com um corte de cabelo engraçado que fica ameaçando me socar.

Clique nas próximas páginas para ver mais fotos de Chris Steele-Perkins.

AFEGANISTÃO. Talibãs se refugiam atrás de um tanque no vale Panshir enquanto lutam contra as forças do governo. 1996.

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AFEGANISTÃO. Cabul. Crianças moram e brincam num prédio abandonado. 1994.

IRLANDA DO NORTE. Belfast. Oeste católico de Belfast, Falls Road. Veículo sequestrado queima ao fundo, no aniversário da aprovação da política britânica de internamento sem julgamento. 1978.

INGLATERRA. Londres. O estacionamento do The White Hart, Willesden. 1976.

IRLANDA DO NORTE. Oeste de Belfast. Lado de fora do conjunto habitacional Divis. 1978.

IRLANDA DO NORTE. Oeste de Belfast. Esquina. 1978.

BANGLADESH. Pacientes numa clínica. Tomando uma pílula.

INGLATERRA. Sheffield. Phyllis Corker é uma centenária. Data de nascimento: 3 de junho de 1907. Em seu quarto na casa de repouso.

Anteriormente – O Stuart Franklin Vai Muito Além da Foto Mais Famosa do Século 20

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