As mulheres na busca pelo orgasmo durante sonhos lúcidos

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As mulheres na busca pelo orgasmo durante sonhos lúcidos

Por dentro do vasto universo o universo do gozo feminino relacionado ao sono.

Sara Bramlett atingiu seu primeiro orgasmo em um sonho lúcido no ano passado. Ela escreveu sobre isso num subreddit dedicado a sonhos lúcidos, em que descreveu a experiência como algo que "fez a terra tremer". Ela estava sonhando com o Jon Snow, do Game of Thrones, e, do nada, eles estavam transando e ela estava gozando – tão real como quando acordada, mas com todas as fantasias do sonho.

No entanto, isso não era apenas um orgasmo durante o sono normal. Bramlett tinha construído o cenário através de um sonho lúcido, no qual você está consciente de que está sonhando e pode exercer controle sobre o que acontece no sonho. Apesar de muitos se concentrarem em atingir o impossível durante seus sonhos lúcidos – telecinesia, voar, mudar de forma –, Bramlett não é a única mulher interessada em orgasmos em sonhos lúcidos.

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O primeiro registro oficial de um orgasmo em sonho lúcido vem de uma mulher chamada Beverly D'Urso. Sua habilidade de atingir a lucidez nos sonhos a tornou a musa perfeita para Stephen LaBerge, que estudava sonhos lúcidos em Stanford. Nos anos 80, muitas equipes de filmagem foram até o laboratório do sono de Stanford assistir a D'Urso – conectada por 50 fios a um monitor de ondas cerebrais, que garantiam que ela estava realmente dormindo – enquanto ela realizava tarefas em seu sono. O corpo fica quase totalmente paralisado durante o sono profundo, mas D'Urso conseguia mover os olhos, o que ela usava para sinalizar que tinha começado ou completado uma tarefa em seu sono.

Em 1983, trabalhando com LaBerge e outro cientista, ela usou uma sonda vaginal e sinalizou com os olhos que tentaria um orgasmo no sonho. Depois, ela contou que sonhou que estava flutuando sobre o campus de Stanford, viu um homem de terno azul, tocou no ombro dele e eles fizeram sexo ali mesmo na calçada.

D'Urso superou em grande parte o sexo nos sonhos lúcidos – hoje, ela tem um programa de seminários em que foca a crença de que a vida, em si, é um sonho –, porém outras mulheres continuaram de onde a pesquisa dela parou.

"Beverly D'Urso uma vez descreveu fazer sexo com a Terra num sonho no qual ela 'montava em sua borda, com uma perna arrastando no chão'."

Krista Blackwell, uma mulher de 27 anos de Murfreesboro, Tennessee, tem sonhos lúcidos há cerca de uma década. Ela vem desenvolvendo técnicas como olhar intensamente para as mãos no sonho para alcançar a lucidez; além disso, ela grava suas experiências (tanto sexuais como não sexuais) no Dream Views, um fórum para sonhadores lúcidos.

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"Assim que passei pela porta e as coisas ficaram escuras, senti um calor se sobrepondo ao meu corpo como um cobertor macio e confortável sendo colocado sobre mim", ela descreveu em 2012. "Eu tinha sentido isso antes meditando, mas nunca em sonhos. Eu estava num quarto similar ao da casa antiga dos meus avós, com uma cadeira alta no meio dele. Sentei na cadeira e, por alguma razão, comecei a me esfregar nela? Aí tive um orgasmo intenso e acordei."

Na maioria das vezes, segundo ela, os orgasmos são resultado de algo sexual – embora, às vezes, eles venham do nada. D'Urso uma vez descreveu fazer sexo com a Terra num sonho no qual ela "montava em sua borda, com uma perna arrastando no chão".

Às vezes, Blackwell faz sexo com um parceiro imaginário; às vezes, com alguém que ela conhece da vida real. Ela diz que as situações raramente são anormais, mas que os orgasmos em si são diferentes.

"Eles são mais internos e profundos, acho, do que os que tenho num encontro sexual físico", ela disse. "Não sei outro jeito de descrever, porque eles simplesmente parecem mais profundos."

"Entrevistando mulheres, e pela minha própria experiência, orgasmos relacionados ao sono para mulheres são tipicamente muito físicos, muito fortes", afirmou a Dra. Franceen King, sexóloga clínica da Flórida que cunhou o termo "orgasmo feminino relacionado ao sono" para se referir àqueles que ocorrem durante sonhos lúcidos, sonhos não lúcidos ou não relacionados a sonhos.

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King tem a teoria de que a intensidade do orgasmo de sonho, como muitas pessoas confirmaram, se deve provavelmente ao fato de que é mais fácil para as mulheres relaxarem quando estão dormindo.

"Trabalhei com mulheres que só conseguiam atingir o orgasmo durante o sono e que gradualmente, através de treinamentos e relaxamento, conseguiram experimentar orgasmos acordadas", ela informou. "Parte disso tem relação com uma questão muito maior quando falamos sobre sexualidade feminina."

Alfred Kinsey, que foi o primeiro cientista a abordar o fenômeno, descobriu que 22% de mais de 7 mil mulheres que participaram de suas pesquisas relatavam "sonhos sexuais com orgasmo" (e as mulheres tendem a experimentar isso com mais frequência conforme ficam mais velhas). Ainda assim, para o desgosto de King, orgasmos do sono são raramente discutidos ainda hoje.

"Vários terapeutas homens me dizem, em choque, 'Uau, eu nunca tinha ouvido falar disso. Nunca pensei nisso'. Isso é algo totalmente novo para eles", comentou King. "Mesmo pacientes já me disseram que seus médicos não sabiam que mulheres experimentavam isso porque esse é um tópico que não é abordado em público. Na verdade, isso é evitado porque historicamente é um tópico muito carregado."

Mesmo assim, várias mulheres que King entrevistou para sua pesquisa sobre orgasmos do sono contaram que buscavam evitar gozar nessas situações. Algumas delas, ela disse, sentem inibições sexuais, enquanto outras "sabem que a sexualidade, especialmente o orgasmo, vai acordá-las, vai tirá-las daquele estado de sonho, tirá-las daquela lucidez".

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Nos fóruns de sonho lúcido, essa é uma queixa comum. Salvo para especialistas na prática, orgasmos no sonho são como um despertador, arrancando as mulheres do sono.

"Acho que muita gente – muitas mulheres, em particular – pensam 'Isso é um desperdício do meu sonho lúcido. Prefiro voar", frisou Patti Taylor, uma sonhadora lúcida. "Na verdade, prefiro voar porque já tenho muitos orgasmos na vida real. Muita gente pensa 'A última coisa que quero fazer é transar'."

Taylor é adepta de manter o sono e a lucidez através do orgasmo, e teme que essa atitude – "Se eu gozar, vou acordar" – seja uma profecia que se realiza com frequência para muitas mulheres.

"Não lembro necessariamente os detalhes dos meus sonhos lúcidos", ela afirmou. "Lembro-me mais das sensações que senti por causa da história. Talvez encontrasse alguém embaixo de um polvo, num templo ou em outro planeta… não importa, certo? O que importa é o que você sentiu."

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Tradução: Marina Schnoor

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