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O WuTremClan leva rap freestyle pros trilhos do metrô de São Paulo

Passando por várias linhas do metrô paulistano e da CPTM, MCs encontraram no coletivo um jeito de fazer grana e garantir o sustento em casa.
Foto: Felipe Larozza

Imagina: você, morador da cidade de São Paulo, está indo pro trabalho, entra num vagão da Linha 9 Esmeralda da CPTM, para atravessar mais um dia a fatídica e fedida marginal Pinheiros até chegar à firma. Nesse meio tempo, você com certeza vai se deparar com a alegria (ou, dependendo do seu humor, a raiva) de ver pelo menos um tiozinho vendendo (ilegalmente) algum chocolate caro a dois reais no trem. Essa cena é trivial e corriqueira no seu cotidiano, certo?

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Agora, imagina se o tiozinho vendedor de chocolate começa a rimar pra te convencer a comprar o doce dele? Foi assim que o MC carioca Du Trem meio que serviu de inspiração pro surgimento do WuTremClan, coletivo paulistano de rappers que fazem rimas nas linhas dos trens e metrôs da cidade de São Paulo pra tentar descolar uma grana. "Quando eu morava no Rio [de Janeiro], comecei a rimar nos trens de lá pra tentar vender meus doces", conta Du Trem Depois de um tempo, ele passou a fazer só as rimas pra tentar descolar uns trocados. Já em São Paulo, Du Trem comentou a ideia com o amigo paulistano Conspira, que tava desempregado e não pensou duas vezes: "Falei 'É isso! Vou começar a rimar improvisado no trem e ver quanto de dinheiro eu consigo'". Na sua primeira viagem, Conspira saiu da estação Autódromo, onde mora, sem nenhum tostão furado. Quando chegou na Pinheiros, 11 estações depois, ele já tinha conseguido 70 reais. "Agora, o trem é o sustento daqui de casa. Me ajuda a pagar as contas e a sustentar meu filho", disse o rapper de 24 anos.

Conforme o tempo foi passando e o dinheiro foi entrando, mais amigos resolveram fazer a mesma coisa. "Tem amigo meu que até consegue pagar a faculdade com o dinheiro do trem", disse Conspira. Cada um foi escolhendo uma linha [do metrô ou do trem] pra rimar e hoje o coletivo conta com nove pessoas, incluindo MCs e uma produtora, que cuida das redes sociais deles. E a ideia do nome, óbvio, surgiu quando dois dos membros tavam ouvindo Wu-Tang Clan: "Porra, se eles são o Wu-Tang Clan, a gente é o WuTrem Clan."

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Pro Conspira, o WuTremClan, além de ser o sustento da família, é uma maneira dele realizar o seu sonho de viver do rap. "Estou há 10 anos participando de batalha, fazendo rima por aí. Tenho meus trabalhos paralelos, mas com o coletivo consigo tirar dinheiro e levar a cultura hip-hop pra muita gente, tanto que gosta ou que não conhece e tem preconceito com a gente."

Claro, não é todo mundo que gosta desse corre dos meninos nos trilhos da CPTM e do metrô de São Paulo. Assim como o comércio, pedir dinheiro nos vagões de trem é proibido na cidade, o que fez com que Conspira, Di Praia e companhia já tenham sido expulsos inúmeras vezes pelos guardinhas do metrô. "Mas tem muitos [seguranças] que fingem que nem veem a gente."

O rapper Helibrown foi, junto com a equipe do Noisey, na casa do Conspira pra conversar um pouco sobre o coletivo. Depois, nós acompanhamos como seria um dia de trabalho da vida desses rappers dos trens. Saca só no vídeo abaixo:

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