Cientistas americanos podem ter descoberto como proteger bebês do zika vírus

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Cientistas americanos podem ter descoberto como proteger bebês do zika vírus

Ao descobrir como o vírus infecta o tecido cerebral, pesquisadores testaram dois antivirais que apresentaram resultados iniciais animadores.

De acordo com um novo estudo da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, cientistas descobriram um possível tratamento para a Zika que poderia impedir que bebês nascessem com graves defeitos de nascença.

Ao descobrirem exatamente como o vírus causa microcefalia — condição que impede o desenvolvimento cerebral e o crescimento normal do crânio — os pesquisadores foram capazes de testar alguns tratamentos antivirais e alcançar certo sucesso com dois deles, de acordo com o artigo publicado na quarta-feira no Cell Reports.

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"Precisamos descobrir urgentemente novas formas de tratamento para impedir a transmissão da zika, especialmente em mulheres grávidas", disse Marco Onorati, co-autor do artigo e pesquisador de Yale. "No meio tempo, nós esperamos que essas descobertas possam levar a tratamentos que minimizem os danos causados pelo vírus."

No começo do ano, cientistas confirmaram que o zika pode causar microcefalia; entretanto, ainda não se sabia o porquê. Alguns estudos já haviam concluído que o zika vírus danifica o tecido cerebral, causando a microcefalia, mas essa última pesquisa trouxe novas descobertas.

Ao comparar células-tronco neurais com o tecido cerebral de um feto infectado pelo zika que morreu em decorrência da microcefalia, a equipe de pesquisadores foi capaz de descobrir como o vírus infecta, danifica e mata as células de um cérebro humano em desenvolvimento.

Os pesquisadores descobriram que o vírus atrapalha o pTBK1, uma proteína que age na divisão celular do cérebro em desenvolvimento. Isso faz com que as células — que são responsáveis pela do cérebro — morram em vez de se multiplicarem; além disso, o vírus ataca essas células-tronco neurais diretamente. Sem essas células essenciais, o cérebro não é capaz de se desenvolver plenamente, causando a microcefalia.

A partir dessa nova descoberta, os pesquisadores decidiram testar alguns tratamentos antivirais existentes. Alguns desses tratamentos não tiveram efeito sobre as células de laboratório, enquanto outros tornaram a infecção ainda pior. Dois deles, no entanto, foram capazes de impedir a multiplicação das células com zika vírus, protegendo as células-tronco neurais de possíveis danos. Um desses tratamentos, o Sofosbuvir, é uma droga aprovada pela FDA e utilizada no tratamento de Hepatite C. Os pesquisadores afirmam, no entanto, que muito mais trabalho precisa ser feito para que um tratamento contra o zika seja confirmado.

"Em poucas palavras, o Sofusbuvir não é, atualmente, uma medicação que pessoas com zika devem utilizar", disse Marco Onorati por e-mail. "Estudos em animais não acharam nenhum efeito do Sofosbuvir no desenvolvimento do feto, mas ainda não foram feitos estudos adequados do uso da droga em mulheres grávidas. Nossos estudos devem ser repetidos, in vitro e in vivo, antes que possamos ter certeza de que o Sofusbuvir é um tratamento efetivo e seguro para o zika vírus."

O zika vem se espalhando rapidamente pela América Latina desde que foi identificado no ano passado pela primeira vez, no Brasil. Atualmente, 56 nações já tiveram casos da doença. Apesar da vasta maioria das pessoas infectadas não apresentarem nenhum sintoma ou apenas sintomas leves semelhantes à gripe comum, o zika pode causar microcefalia em mulheres grávidas, risco que vem causando grandes preocupações. Crianças nascidas com microcefalia estão sujeitas a deficiências físicas e atrasos no desenvolvimento ou até mesmo morte precoce.

Felizmente, pesquisas como essa nos ajudam a compreender o zika vírus, o que significa uma chance maior de desenvolver um tratamento efetivo. Além desse estudo, pesquisas sobre controle de vetores e o desenvolvimento urgente de uma vacina nos dão esperança de que, num futuro próximo, as crianças estejam a salvo do vírus

Tradução: Ananda Pieratti