FYI.

This story is over 5 years old.

Outros

O Empresário de EDM de 20 anos Acusado de Comandar um Esquema em Pirâmide de US$ 500 mil

Ian Bick é o cérebro por trás de um esquema em pirâmide que arrecadou US$ 500 mil, usado por ele e seus amigos para curtir. Ele teria comprado jet-skis, ficado no W Hotel e feito compras na Gucci e no Tiffany's, usando dinheiro de novos investidores.

Ian Bick fez muito na vida para um cara de 20 anos. Por exemplo, ele é um magnata da vida noturna: ainda adolescente, começou a gerenciar a Tuxedo Junction, no centro de Danbury, Connecticut, EUA, uma casa de shows de música eletrônica que teve algumas tretas com a polícia e a prefeitura por causa de leis de venda de álcool. E, se você acreditar nos agentes federais norte-americanos, Bick também é o cérebro por trás de um esquema em pirâmide (Ponzi) que arrecadou US$ 500 mil, usado por ele e seus amigos para curtir na Califórnia, em Key West e em Nova York. Ele teria comprado jet-skis, ficado no W Hotel e feito compras na Gucci e no Tiffany's, usando dinheiro de novos investidores (que achavam que Bick estivesse investindo num negócio no eBay) para pagar os antigos.

Publicidade

Segundo o gabinete da promotora federal Deirdre M. Daly, no curso do suposto esquema, ele também teria mentido para um inspetor postal e falsificado registros financeiros.

Mas a coisa mais incrível sobre Bick – que pagou US$ 250 mil de fiança depois de ser formalmente acusado em janeiro – não são seus supostos delitos, e sim o fato de que ele estava fazendo tudo isso quando ainda era adolescente.

"Esse é o cara mais jovem de que já ouvi falar", disse Kathy Bazoian Phelps, uma advogada que comanda o Ponzi Scheme Blog. Ela conta que a idade média desse tipo de criminoso "é de 50 anos para cima".

No THUMP: A PC Music É Pura Arte Pós-Internet

Esquema Ponzi, batizado com o nome de um dos primeiros praticantes modernos, envolve coletar dinheiro para um suposto empreendimento, usar a grana de novos investidores para pagar os antigos e embolsar o resto enquanto faz pouco ou nenhum esforço para realmente investir em alguma coisa. Geralmente, o perpetrador "é alguém com um histórico de negócios", segundo Phelps. "Assim, ele cria um ar de legitimidade." O golpista geralmente começa com amigos e familiares; quando eles são pagos, a "oportunidade de investimento" se espalha pelos círculos sociais. Em seguida, outros também querem participar, criando um castelo de cartas financeiro que geralmente desmorona quando o golpista fica sem dinheiro para pagar o número cada vez maior de investidores.

No caso de Bick, a semente teria sido plantada entre os adolescentes de Connecticut e se espalhou, envolvendo seus pais e a comunidade em geral.

Publicidade

Danbury é uma cidade pequena com uma renda familiar média de cerca de US$ 65 mil, bem acima da nacional. Entretanto, o lugar fica em Fairfield County, um refúgio de gestores de fundos e acionistas de Wall Street. A garotada de Danbury cresce à sombra de enormes propriedades rurais e casas de veraneio no Lago Candlewood, muitas delas pagas pelo retorno exponencial de investimentos e um círculo de dinheiro que está sempre se repetindo.

Segundo os federais, eles não faziam ideia do golpe do Bernie Madoff adolescente acontecendo bem debaixo de seus narizes.

Na cidade, Bick tinha a reputação de ser um garoto prodígio dos negócios. No ensino fundamental, ele vendia refrigerante e doces num parque da cidade. No colegial, ele organizava shows lotados com DJs famosos e uma matinê na Tuxedo Junction, um clube noturno bem estabelecido da cidade. Um colega que acabou investindo dinheiro com ele (e que prefere permanecer anônimo) lembra dele como um cara tímido e quieto, mas também um tipo trabalhador. "Ele era conhecido por essas festas, por planejar coisas", relatou o colega.

Bick, agora com 20 anos, falou comigo para esta matéria, apesar de se recusar a responder perguntas relacionadas à acusação federal (incluindo "Você tem mesmo um jet-ski?"). De fala mansa e paciente, ele falou sobre o atalho que pegou entre ser uma borboleta da vida social no colégio e virar dono de clube noturno.

Ele planejou seu primeiro evento aos 15 anos, uma festa beneficente para a Dorothy Day House num centro de conferências de Danbury. "Fizemos um baile e levantamos US$ 2 mil de ingresso e US$ 1.500 em pulseiras [de caridade]", Bick me disse. "Foi isso que me fez ver que você podia fazer dinheiro nesse negócio."

Publicidade

Para comemorar o fim de seu segundo ano no colegial, Bick diz que contratou DJs e alugou o Palace Theatre, uma casa de shows dos anos 20, no centro de Danbury, que é usada esporadicamente. Duas mil pessoas compareceram. A matinê no Tuxedo veio depois, quando ele inicialmente cobrava US$ 10 de entrada, aumentando depois para US$ 15.

Depois de se formar no colegial em 2013, segundo Bick, ele tinha pouco interesse em fazer faculdade e resolveu se dedicar à cena noturna. Ele fez contato com um promotor de música eletrônica em Rhode Island, começando a realizar shows em Danbury e no campus de Kingston da Universidade de Rhode Island.

O prédio da Tuxedo Junction tinha um espaço de bar separado que estava parado há algum tempo; então, Bick decidiu alugar isso do proprietário, abrindo o Sky Bar and Lounge. O bar fechou depois de seis meses, porém, em agosto de 2014, Bick, após ouvir de alguém que a Tuxedo Junction também podia fechar, se ofereceu para comprar o lugar. A casa tinha história: nos anos 90, estudantes da Western Connecticut State University assistiam a shows de bandas de rock alternativo ali. A casa já tinha agendado nomes que depois estouraram, como Korn, Blink-182, Jewel e Oasis.

No entanto, os shows tinham se tornado mais irregulares recentemente, mas Bick queria tornar a Tuxedo um destino novamente. Quanto às fontes usadas por um adolescente que precisava conseguir dinheiro para comprar um negócio desses, ele revela que levantou a soma entre "família e amigos". Seu pai é dono de um serviço de bufê (de verdade) chamado Some Things Fishy. Além disso, Bick era dono dos negócios, não dos prédios; logo, ele só precisava de dinheiro para os custos de operação.

Publicidade

Imediatamente depois disso, Bick desenvolveu uma relação amarga com a polícia local. Naquele verão, a cidade revogou a licença de entretenimento da Tuxedo Junction por um mês, citando antigas violações de venda de álcool. No entanto, Bick, que não tem licença para vender bebida, alega que a polícia tem uma implicância com ele. Primeiro, disseram que alguém tinha entrado com bebidas no clube. Depois, segundo Bick, ele alugou o clube, o organizador do evento contratou um bufê que tinha licença para servir álcool e algum garçom serviu um menor de idade. "Ouvi essa história depois do fato", ele ressaltou.

O cinegrafista que ele contratou para preencher a página do YouTube do clube pinta um retrato de uma casa de shows movida a energético e cheia de máquinas de fumaça, bastões de néon, batidas pulsantes, DJs tatuados, dançarinas de meia arrastão e oceanos de adolescentes pulando. Bick aparece no canal soltando máximas de guru de negócios. "Se você tem a vontade de nunca, nunca desistir, não importa o que aconteça, você vai conseguir", ele afirma, "e não estou nem perto de conseguir ainda, mas sei de coração que vou". Em matérias tanto positivas como negativas, o Danbury News-Times se refere a Bick como "jovem empreendedor" e "empresário adolescente".

De acordo com a promotoria federal, enquanto o acusado lançava sua carreira como empresário de raves de cidade pequena, ele mantinha outro negócio paralelo criminoso.

Publicidade

No começo de seu último ano no colegial, Bick e um amigo, John Wrobel, supostamente começaram a solicitar investidores para um negócio no eBay. (Wrobel é considerado "um conspirador conjunto do esquema" nos registros do caso, porém não foi formalmente acusado. Quando o contatei, ele se recusou a ser entrevistado.) Segundo os federais, o plano era adquirir contas de usuários no eBay com feedback positivo preestabelecido, comprar eletrônicos por atacado e vendê-los no site. (Bick só confirmou que teve um negócio no eBay no passado.)

Os primeiros investidores eram os colegas de classe que conheciam Bick como um promotor prodígio de eventos, segundo os federais. Bick afirmava "fraudulentamente" que "promovia shows de sucesso e gerava lucros com vários eventos", embora, de acordo com a acusação, seus eventos dessem pouco dinheiro.

Quando a primeira rodada de investidores de Bick foi paga, mais gente quis entrar, segundo a promotoria, e o esquema se espalhou para os amigos dos amigos e os pais deles. O microcosmo desse processo teria infectado a fraternidade Sigma Pi da Universidade de Rhode Island. Um amigo do colegial de Bick era um membro, e o empresário adolescente viajou para a universidade e recrutou investidores em 2013, segundo outro membro da Sigma Pi, que pediu para não ser identificado.

Os membros da fraternidade se lembram de Bick como "um gordinho nerd", mas especialista em negócios. "Ele disse que conseguia comprar Playstations 4 por US$ 100 e vendê-los por US$ 400 [no eBay]", ele relembra. "Ele parecia ter uma boa ideia e estar motivado por essa ideia."

Publicidade

Mesmo assim, esse membro da fraternidade não deu nenhum dinheiro naquela vez. Enquanto isso, alguns colegas da fraternidade começaram a receber o retorno, e outros se arrependeram de não ter investido.

"Ele estava pegando pelo boca-a-boca", resumiu Dave Litchman, outro membro da Sigma Pi. "Ele tinha demonstrado boa-fé retornando o investimento das pessoas, e aí elas começaram a reinvestir seu dinheiro."

Litchman disse que tirou US$ 10 mil da herança do avô. Ele também conta que convenceu sua família a investir "muito mais".

O colega de colegial de Bick que não quis ter o nome revelado diz ter levado o sócio do acusado, John Wrobel, para o barco da família, onde ele o convenceu a colocar US$ 6 mil no negócio. Ele também falou que pediu a um advogado para fazer um contrato estipulando que os sócios deveriam retornar US$ 7 mil em 40 dias. "Eu tinha ouvido de amigos que ele tinha dado bons retornos", comenta o colega. "O contrato me fez sentir seguro."

Só que a única pessoa a ter colhido um estilo de vida luxuoso com a história foi Bick, segundo a promotoria. O dono de clube logo começou a torrar dinheiro com compras e viagens (inclusive visitando o Museu do Sexo de Manhattan quando esteve em Nova York).

Um investidor deu US$ 50 mil, e logo depois Bick comprou dois jet-skis e um trailer, informam os federais. "Essas compras não só permitiram que Bick desfrutasse de seu crime como também fizeram parecer que ele tinha muito sucesso", reforça a acusação. Os amigos de Bick logo notaram seus jet-skis parados nas docas de Cadlewood Lake.

Publicidade

Finalmente, ele, claro, não conseguiu mais pagar os investidores.

"Eu deveria receber num dia determinado, mas ele ficava me enrolando", relatou o membro anônimo da Sigma Pi. "Ele disse que tinha tido algumas complicações e que logo falaria comigo." O rapaz contou que encheu Bick de mensagens de texto e e-mails por cerca de um ano.

"Foi uma coisa gradual", segundo Litchman. "Ele foi saindo da foto. Aí ele me fez um cheque que voltou."

A próxima notícia que os dois universitários tiveram de Bick foi que os federais estavam pedindo que eles prestassem depoimento.

Não está claro como o acusado apareceu no radar da promotoria, embora, em julho de 2013, ele supostamente tenha mentido para um inspetor postal federal (um oficial que investiga alegações de atividades bancárias fraudulentas), dizendo que o dinheiro de um investidor tinha sido colocado nos depósitos de um artista para seu show quando não tinha.

A acusação também faz referência a um incidente de maio de 2014, época na qual o suposto esquema estava em seu leito de morte. "Quando ele já estava devendo centenas de milhares de dólares", ele teria voltado à "casa modesta" de uma "idosa" (que já tinha investido com ele) "para pedir US$ 10 mil adicionais, o que ela negou, já que literalmente não tinha o dinheiro".

Como uma erva daninha do jardim dos crimes do colarinho branco, esquemas Ponzi brotam por todo lado. O blog de Phelps faz atualizações mensais com os novos golpes. Ela cobriu cerca de sete casos assim por mês no ano passado, embora Phelps suspeite que muitos nunca viram notícia porque as vítimas têm vergonha de procurar as autoridades.

Ela frisa que a sentença geralmente depende da soma surrupiada, e a suposta quantia de meio milhão de Bick é pequena para os padrões Ponzi. "Um pequeno esquema Ponzi tende a fazer US$ 3 milhões", ela revela. Ainda assim, Bick levou 11 acusações por fraude eletrônica, cada uma com potencial de sentença de 20 anos, além de três acusações por lavagem de dinheiro e uma por perjúrio (no caso do inspetor postal). O julgamento está em andamento: os federais devem passar por 64 testemunhas, um punhado de especialistas e dezenas de supostas vítimas/investidores.

Entretanto, para Bick, livre depois de pagar a fiança, isso não é motivo para deixar de lado os toca-discos e os subwoofers: a Tuxedo Junction tem uma agenda de shows. Diferentemente do figurão retratado nos documentos da promotoria federal, o acusado conta viver humildemente com seus pais, já que ainda não faz dinheiro o suficiente para ser independente com a Tuxedo Junction, apesar de estar comprometido com o negócio.

"Estou focado na Tuxedo Junction no momento", diz Bick. "Meu objetivo agora é ver milhares de garotos se divertindo ao máximo."

Tradução: Marina Schnoor.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.