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A Força Está com a Comunidade de Cosplay dos Cavaleiros Jedi

Com a estreia de Star Wars: O Despertar da Força em 18 de dezembro, um interesse renovado no universo de Guerra nas Estrelas está surgindo.

Foto cortesia de Robert Paske.

Eu tinha dez anos quando segurei um sabre de luz pela primeira vez. Não era lá grande coisa – só um galho que caiu de uma árvore, coberto de manchas pegajosas de seiva. Mas de certo ponto de vista – 1,20 metro de altura, para ser mais preciso – aquela era uma arma tão elegante quanto qualquer outra que aparecia na minha fita VHS já gasta do Retorno do Jedi. Para ter a experiência completa, era só fazer o barulho da espada com a boca.

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É um dia quente de junho em Round Rock, Texas, e como estou descobrindo, a satisfação de infância de segurar um sabre de luz continua. Hoje em dia, é o próprio mecanismo que faz os barulhos. Estou numa demonstração de luta de espadas com sabres de luz com Marc Tucker, cofundador da Lone Star Saber Academy. O sabre de luz dele é pesado. O cabo brilha no sol do Texas, uma réplica perfeita da arma de Anakin Skywalker com a lâmina sendo um tubo branco de alumínio industrial reforçado. Um botão na base do cabo inicia os assovios típicos. O som flutua conforme movo o sabre, e quando encontro minha lâmina contra a espada do meu oponente, ela faz o barulho de raios de luz se chocando. Tucker sinaliza com a cabeça. "É o cartão de som", ele diz, pegando o sabre de luz e batendo no botão no cabo. "Ele mede a maneira que a lâmina se move. Só os modelos mais caros têm isso."

Ele me entrega o modelo mais barato que eu estava usando antes, que brilha mas não faz nenhum barulho. "Vamos lá", ele diz. E balança a lâmina de Anakin Skywalker, a descendo em direção ao meu rosto. Os sabres de luz se chocam.

Tucker e a Lone Star Saber Academy são o tipo mais dedicado de fãs de Guerra nas Estrelas. Esses caras transformaram o sonho de infância de lutar com sabres de luz em uma prática, criando uma pequena organização que coreografa batalhas, ensina crianças e promove ações de caridade na comunidade. Eles também são parte de uma comunidade maior dedicada a trazer o caminho jedi para as massas. E se eles não estão transmitindo explicitamente uma crença em equilíbrio e disciplina para as pessoas, pelo menos ensinam disciplina através das lutas com espada.

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Robert Paske como um jedi. Foto cortesia de Paske.

Robert Paske é um americano que mora em Tóquio e chefe de um ramo local da Saber Guild, um grupo sem fins lucrativos que realiza coreografias com sabres de luz para eventos de caridade. De acordo com Paske, a comunidade de cosplay de Guerra nas Estrelas está crescendo. "Há grupos grandes principais, como o 501st, Rebel Legion e Saber Guild", ele disse à VICE por e-mail, "sem mencionar pessoas que não fazem parte de nenhuma organização – vi muita gente participando do 4 de maio este ano. E com os novos filmes chegando, acho que vamos ver muito mais pessoas nas convenções e outros eventos".

A maioria dos praticantes de lutas com sabres de luz compram as espadas, diz Paske – ele tem várias Ultrasabers, que resistem a ataques constantes de outros sabres. Outras espadas, ele diz, têm luzes LED nas lâminas, o que permite um "efeito de estendimento", o que é bom para coreografias mas não para a luta em si – um golpe forte com uma dessas e você pode acabar com um sabre quebrado. Há uma variedade impressionante de estilos de punho e lâmina oferecida por vários fabricantes, mas muita gente ainda escolhe construir sua própria espada.

Paske tem experiência com artes marciais, o que ele utiliza em suas lutas com o sabre de luz. "O sabre de luz é uma mistura de outros estilos de espada, com movimentos alterados para coreografia", ele diz. "Faço aulas de espada japonesa nos finais de semana, já fiz esgrima, e no meu treinamento em artes marciais também trabalhei com bō e fiz um pouco de Escrima… isso tudo se mistura na coreografia do sabre de luz. Às vezes, pegamos um movimento e o fazemos maior, mais extravagantes, ou algo que seria considerado um erro numa apresentação real de espada, para tornar as coisas mais dinâmicas e visualmente interessantes para o público, mas isso ainda é um cruzamento de estilos reais e ter experiência numa arte marcial ou com espadas é uma grande vantagem em termos de movimento e trabalho dos pés." Mas experiência com artes marciais não é obrigatório, ele também aponta – seu ramo da Saber Guild tem vários membros que começaram sem isso. "Como eu gosto de dizer: 'Todo mundo começa do zero, mas todo mundo tem um zero diferente'."

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Paske como Darth Maul, destruindo bambus indefesos.

As origens de Tucker são um pouco diferentes. Um homem de 40 e poucos anos, ele é um ex-conselheiro de jovens e atualmente um cineasta independente que trabalha no serviço ao cliente da Sears. Eles se encantou com Star Wars desde que seu pai o levou para assistir o primeiro filme em 1977. Marc tinha quatro anos na época. "Sempre me interessei por cavaleiros medievais", ele diz. "Vi os sabres de luz na tela e fiquei hipnotizado." Nas décadas seguintes, ele se mudou de Idaho para a Flórida e depois Texas, criando ou participando de fã clubes locais de Guerra nas Estrelas. Na Flórida, ele pode conhecer dois dos grupos de cosplay mais bem organizados: o 501st e o New York Jedi. O 501st, um grupo de voluntários que se vestem como stormtroopers e outros oficiais do Império para levantar dinheiro para a caridade, existe há tanto tempo que já foi consagrado no antigo Universo Expandido de Guerra nas Estrelas (vários livros, jogos e programas de televisão licenciados, cujo conceito foi descartado quando a Disney comprou os direitos da franquia). Depois da fundação oficial do grupo em 1997, o autor peso-pesado Timothy Zahn incluiu o grupo como legião pessoal de Vader em seu romance de 2004 Survivor's Quests, e eles já apareceram em outros meios oficiais da série desde então.

O New York Jedi, segundo o site, é um grupo de combates ensaiados que começou em 2005 e que enfatiza mais performances teatrais. Eles não se aderem a nenhum cânone específico de Guerra nas Estrelas, permitindo que os praticantes se divirtam criando seus próprios personagens e misturando luta de espada marcial tradicional e técnicas de luta ensaiada. Eles chegaram às manchetes alguns anos atrás quando Flynn Michael, fundador do New York Jedi, teve seu sabre de luz roubado num bar no Brooklyn por um cara que dizia ser um emissário do Sith.

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Foto cortesia de Marc Tucker.

Tucker flertou com o 501st, mas ele queria fazer um personagem sith e isso ia contra as regras do grupo. O New York Jedi se mostrou mais do gosto dele, com sua mistura de fantasias e coreografia. Quando chegou a Austin em 2006, ele percebeu que a comunidade dos sabres de luz estava começando a crescer pelo país. Ele decidiu então começar seu próprio grupo, um que casasse as fantasias elaboradas e a caridade do 501st com diversão com espadas do New York Jedi.

Com isso em mente, Tucker e seu amigo Mike Jackson cofundaram o Lone Star Saber Academy em 2010. O objetivo do grupo era oferecer uma oportunidade para fãs interessados – tanto novos como velhos – praticarem e atuarem com sabres de luz. As principais atividades deles visavam famílias, que traziam as crianças para serem ensinadas ou os contratavam para lutar em festas de aniversário, onde eles misturavam performances de esgrima e tutorial de interpretação de combate para as crianças. Os sabres de luz usados nos treinos vão de canos de PVC enrolados em espuma a réplicas da Ultrasaber de $80 até lâminas pessoais bem mais caras, que podem chegar a até $500.

Darth Vader sucumbe ao ataque de um exército de mini jedis no Texas. Foto cortesia de Marc Tucker.

Tanto os grupos de Paske como o Tucker focam bastante em caridade. "Temos um evento chegando para as Olimpíadas Especiais aqui no Japão", disse Paske. "Aparecemos num evento da Cruz Vermelha e o US Saber Guild já fez vários trabalhos para a Make-A-Wish. Também há o aspecto social. Temos cerca de 15 membros 'regulares' participando de nossos treinamentos locais e é sempre divertido encontrar pessoas com interesses similares aos seus."

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O Lone Star Saber Academy é um grupo pequeno – atualmente apenas três pessoas comparecem regularmente aos treinos semanais – mas eles já chegaram a ter dez membros comprometidos, um número decente para um grupo que opera principalmente no bairro suburbano de Round Rock em Austin. A taxa de inscrição do grupo vai para a compra ou construção de sabres de treinamento e fantasias, ou para a caridade. "Doamos mais de $1.200 para o Austin Disaster Relief Network", disse Tucker, "e já ajudamos com a bolsa John Speasmaker para oficinas de bateria e ritmo de Round Rock." Outros eventos incluem lutas teatrais durante festivais locais.

Tucker não tinha experiência com interpretação de lutas ou artes marciais, e como resultado, o treinamento para iniciantes do Lone Star Saber Academy se baseia muito nas regras de esgrima da Society for Creative Anachronisms, uma organização dedicada a ajudar a recriar a Renascença e a Idade Média de maneira apropriada. São oito pontos de contato aceitáveis entre os lutadores, ele diz, incluindo cabeça, ombros, membros e pés. "Outros grupos utilizam outras formas de combate reconhecidas no cânone de Guerra nas Estrelas", ele disse à VICE. "Nosso grupo não reconhece isso formalmente, então não posso listar todos. Há o Shii-Cho, que é o básico, e há a forma de agressão e alguns outros. Isso foi inventado por pessoas que têm experiência com espadas, que dizem: 'Isso é o que vi no estilo de luta de Anakin. Chamamos isso de Arturo. Isso é o que vimos no estilo de Mace Windu, temos outro nome para isso'."

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Robert Paske como Darth Maul. A técnica de luta com o sabre duplo foi tirada do bō. Foto cortesia de Paske.

Apesar da falta de treinamento formal, Tucker é rápido e ágil com seu sabre de luz. Depois de me mostrar as primeiras oito formações – golpes básicos, bloqueios – começamos a treinar, nos movendo pelo chão de concreto quente, os sabres de luz se chocando um com o outro. Quando acidentalmente bato na mão dele com meu sabre, ele nem pisca. "Acontece", ele diz. "Você não pode mostrar isso quando estiver se apresentando." Por mais regulada que sejam as formações da Lone Star Saber Academy, os movimento em velocidade normal ainda parecem incrivelmente fluídos. Foi fácil imaginar que o tubo de alumínio nas minhas mãos era uma espada de verdade.


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O sol acaba ficando quente demais para lutar, então andamos de volta até a caixa de sabres de Tucker e seu kit de fantasias, deixados numa mesa de piquenique. Ele me mostra sua fantasia – um manto preto longo que ele encontrou numa caixa de coleta de doações de sua igreja em Boise – começamos a falar sobre a cultura dos fãs que cerca os filmes. Tucker, ao que parece, é o tipo mais raro de fã de Guerra nas Estrelas: ele gostou da notória trilogia de prequela.

"Todo mundo compara a trilogia original com as prequelas", ele me disse. "Meu eu cineasta vê isso assim: as prequelas são a visão original de George Lucas. Ele fez a edição especial da trilogia original, e as pessoas reclamaram, mas a tecnologia não existia para que ele desse sua visão real na época. Então, de uma perspectiva de cineasta, eu acho 'É, vai nessa, George!'" E os filmes em si? "Adorei ver o auge dos jedis", ele diz, dando de ombros. "Poderíamos ter passado sem o Jar Jar. O Anakin poderia ter sido dirigido melhor para não parecer tão chorão." Mas como ele aponta, se você perguntar para uma criança o que ela achou depois de ver as prequelas, elas vão aceitar os filmes sem o preconceito dos fanboys. "É Guerra nas Estrelas para elas, tanto quanto a trilogia original." É uma abordagem que reflete os temas de equilíbrio importantes para o caminho jedi – como Tucker aponta: "muitas coisas dependem do seu ponto de vista".

Com a estreia de Star Wars: O Despertar da Força em 18 de dezembro, um interesse renovado no universo de Guerra nas Estrelas está surgindo. "Todo mundo vai querer ser jedi de novo", diz Tucker. "Vamos poder dizer: 'OK, somos jedis, venha se juntar a nós. Vamos te ensinar como interpretar uma luta. Isso vai ficar parecido com o que você viu no cinema? Bom, só depende de você. Mas vamos te ajudar a começar'."

Tradução: Marina Schnoor