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Hipotermia, Pernas Quebradas e Alimentação Retal: Detalhes do Relatório de Tortura da CIA

O Comitê de Inteligência do Senado americano divulgou esses detalhes e mais informações nesta terça-feira, num resumo de 500 páginas sobre o programa de “reforço de interrogatórios” da CIA da era Bush.
Foto via Wikimedia Commons.

​Um prisioneiro numa instalação da CIA congelou até a morte. Outros foram forçados a se apoiar em pernas e pés quebrados, ameaçados sexualmente com cabos de vassoura ou sujeitados à "alimentação retal" sem razão médica aparente. O Comitê de Inteligência do Senado americano divulgou esses detalhes e mais informações nesta terça-feira, num resumo de 500 páginas sobre o programa de "reforço de interrogatórios" da CIA da era Bush.

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A senadora democrata Dianne Feinstein revelou o relatório, muito aguardado e várias vezes adiado, do Comitê de Inteligência do Senado sobre o programa descontinuado da CIA "Rendição, Detenção e Interrogatório" esta manhã, chamando isso de uma "mancha no nosso país e nos nossos valores".

O polêmico relatório de 6.700 páginas descreve, entre outras coisas, detentos mantidos em celas escuras e congelantes parecidas com calabouços, obrigados a ficar acordados por 180 horas direto e sujeitados a "quase afogamentos" várias vezes seguidas. A investigação de três anos do Senado concluiu que "as técnicas brutais de interrogatório, violando as leis norte-americanas, tratados e nossos valores", não eram tão efetivas para extrair inteligência dos detentos.

O relatório também descobriu que a CIA enganou o público, a Casa Branca e o Congresso sobre a brutalidade do programa e sua eficiência.

"As técnicas de simulação de afogamento eram fisicamente prejudiciais, induzindo convulsões e vômito", diz o relatório. "Abu Zubaydah, por exemplo, passou a 'não responder mais à técnica, com bolhas subindo por sua boca aberta e cheia'. Documentos internos da CIA descrevem o waterboarding de Khalid Shaykh Mohammad evoluindo para uma série de 'quase afogamentos'."

Interrogadores da CIA ameaçavam os detentos com cabos de vassoura e furadeiras, e diziam que iam estuprar e matar as mães deles. Outros detentos, com pés e pernas quebrados, eram sujeitados a posições estressantes por extensos períodos.

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"Dois detentos que estavam com pés quebrados foram submetidos a posições estressantes em confinamentos apertados, apesar de uma anotação nos planos de interrogatório dizendo que essas técnicas específicas não eram necessárias, devido às condições médicas dos detidos", diz o relatório. "A sede da CIA não reagiu ao uso das técnicas apesar da falta de aprovação."

O relatório do Senado também descreve uma fotografia de uma mesa de simulação de afogamento "gasta" numa instalação onde a CIA disse nunca ter usado a técnica.

Os resultados das "técnicas avançadas de interrogatório", especialmente numa instalação da CIA conhecida como "Cobalt", levaram a uma deterioração notável da saúde mental entre os detentos, segundo o relatório. Pelo menos um prisioneiro detido em Cobalt morreu de hipotermia.

"Durante o programa, vários detidos da CIA sujeitos a técnicas avançadas de interrogatório e isolamento estendido exibiram problemas psicológicos e comportamentais, incluindo alucinações, paranoia, insônia e tentativas de autoflagelamento e automutilação", diz o relatório. "Vários psicólogos identificaram a falta de contato humano experimentado pelos detentos como uma causa para os problemas psiquiátricos."

O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse na segunda que o presidente Obama apoia a liberação do relatório "para que as pessoas do mundo e daqui entendam exatamente o que aconteceu". No entanto, membros linha-dura do Congresso, a comunidade de Inteligência e seus aliados dizem que o relatório vai inflamar o ódio contra os EUA e seus aliados, e colocar o pessoal norte-americano atuando no exterior em perigo.

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"Temos medo que esse relatório ponha em risco as vidas de norte-americanos em outros países, comprometa as relações do EUA com parceiros estrangeiros, incite a violência, crie problemas políticos para nossos aliados e seja usado como ferramenta de recrutamento para nossos inimigos", disseram os senadores republicanos Marco Rubio e Jim Risch na segunda-feira.

O diretor da Inteligência Nacional James Clapper confirmou numa reunião com membros do Comitê de Inteligência no final de semana, que a administração estava preocupada que o relatório pudesse incitar violência contra norte-americanos no exterior, mas que mesmo assim apoiava sua liberação. Agora os EUA vêm reforçando a segurança nas embaixadas e oficiais da administração disseram que o Pentágono está tomando medidas de proteção para as forças norte-americanas no Afeganistão.

Antes da divulgação do relatório, defensores das técnicas de interrogatório da CIA lançaram uma campanha agressiva na mídia contra as descobertas. O ex-presidente Dick Cheney chamou o texto de "um monte de asneiras" no New York Times, e o ex-advogado da CIA John Rizzo disse à FOX News que o relatório era "completamente injusto e absurdo". Ex-oficiais da CIA até montaram um site, o CIAsaveslives.com, para rebater as descobertas do relatório.

"O site é como um balcão único para o outro lado", disse Bill Harlow, porta-voz da CIA durante a administração Bush, à Foreign Policy. "Com o site… vamos poder divulgar documentos inéditos, documentos que já tinham sido liberados mais que foram lidos incorretamente e abrigar um repositório de artigos de opinião e aparições na mídia de vários oficiais."

Feinstein chamou a reposta de "uma campanha de declarações a artigos de imprensa equivocados".

Tradução: Marina Schnoor