FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Quanto Tempo uma Civilização Levaria Para Colonizar o Universo?

Seríamos capazes — pelo menos, em teoria — de fazer isso sem infringir as leis fundamentais de física? O físico Jay Olson acredita que sim.
​O aglomerado de galáxias Abell 1689. Créditos: NASA/ESA/Wikimedia Commons

Hollywood adora retratar humanos do futuro como exploradores espaciais, atravessando as distâncias insondáveis do cósmos em aviões de caça estilosos, mais rápidos que a velocidade da luz. Dado que ainda não pisamos em Marte, é fácil dispensar tais histórias como mera fantasia. Mas imaginemos, por um momento, que desejamos mesmo virar uma civilização que abarca outras galáxias, ou até mesmo outros universos. Seríamos capazes — pelo menos, em teoria — de fazer isso sem infringir as leis fundamentais de física?

Publicidade

O físico Jay Olson acredita que sim. Sim, levaria milhões de gerações e, sim, provavelmente envolveria tecnologias extremamente avançadas, mas no fim das contas, uma diáspora intergalática talvez não seja uma ideia tão maluca quanto soa. Em seu artigo recente, Olson discute se, e como, uma civilização inteligente poderia se dispersar em escala cósmica.

"Ao refletir sobre algumas ideias que as pessoas têm discutido ultimamente — os limites da tecnologia e singularidade tecnológica, por exemplo —, me ocorreu que seria possível imaginar a vida se expandindo em escala cosmológica", disse Olson.

Então, Olson começou a testar essa ideia ambiciosa usando um modelo matemático. Ele não só demonstra que uma forma de vida inteligente teoricamente pode vir a preencher o vasto vácuo do espaço numa fração do tempo de vida do universo, mas que civilizações colonizadoras do universo podem influenciar a evolução do próprio cosmos — uma hipótese profunda, completamente nova.

Vamos começar com os pressupostos em questão, que são muitos. Antes de mais nada, Olson foca o modelo em civilizações "de expansão agressiva". Isto é, civilizações que se espalham pelo espaço em todas as direções possíveis, aproveitando sua capacidade ao máximo, ad infinitum.

A civilização em questão pode estar trabalhando em prol de um objetivo amplo de engenharia, uma meta de escala cósmica. Como, por exemplo, a construção de um supercérebro explorador de galáxias, ou algo assim. Ou talvez seja o caso de uma inteligência artificial que, graças a um pequeno desastre de programação, decide consumir energia e matéria até o fim dos dias.

Publicidade

"Capaz que alguém crie uma inteligência artificial de autoaperfeiçoamento recursivo para efetuar uma tarefa simples, em aberto, e ligue a máquina sem as salvaguardas adequadas", disse Olson. "De repente, durante a missão de cumprir objetivos simples, ela pode acabar dominando uma vasta região do espaço."

Motivos alienígenas a parte, o modelo de Olson também faz várias suposições científicas. Os princípios fundamentas do universo físico não podem ser violados, o que significa que — Trekkies e Whovians que me perdoem — uma velocidade mais rápida que a da luz, violações da termodinâmica básica e viagens no tempo estão fora de questão.

Por outro lado, Olson presume que civilizações de expansão agressiva terão tecnologia de máxima qualidade. Isso significa que certas tecnologias de ficção científica — esferas de Dyson e espaçonaves autorreplicantes, por exemplo — entram no jogo.

Chuto algo entre cinco e dez bilhões de anos para saturarem o universo observável

Então, basicamente, trata-se de civilizações superavançadas semeando o universo dentro dos limites da física. Funções do modelo de Olson descrevem quão rápido as fronteiras de uma civilização se expandem e quanto tempo leva para um certo volume de espaço ficar saturado de vida.

"Visto que essas ideias são novinhas em folha, e os parâmetros são discutíveis, minha principal preocupação foi criar um cenário-padrão em que eu pudesse lançar os parâmetros em qualquer direção, com uma conclusão final de que o universo está ficando saturado de vida", disse Olson.

Publicidade

Os modelos de Olson retratam a vida fervilhando no espaço, expandindo em esferas crescentes de influência. Se uma civilização puder viajar a uma rapidez de 1 a 50 por cento da velocidade da luz, chuto algo entre cinco e dez bilhões de anos para saturarem o universo observável.

Nada demais, né?

Uma forma de vida de expansão agressiva saturando uma fatia intergalática do universo. Crédito: Jay Olson.

Ajustando os parâmetros e comparando diferentes cenários de expansão, Olson também constata algumas contrapartidas interessantes. À medida que a velocidade das naves da civilização aumenta, o volume de espaço que a espécie ocupa cresce exponencialmente. Ainda assim, a dominação cósmica não depende só da velocidade com que uma civilização consegue se mover, mas também do tempo que ela leva para usar todos os recursos de um trecho do espaço — isto é, depende também do quão rápido a civilização satura o espaço.

"Se o universo estiver, em grande parte, vazio, o ideal é adotar a estratégia mais veloz possível, mas se o universo estiver lotado, é mais importante ter uma densidade maior de naves, para que a espécie possa saturar o cosmos antes das outras", disse Olson.

A constatação mais provocativa disso tudo talvez seja a possibilidade do próprio universo físico ser afetado pela expansão agressiva de uma forma de vida. Assim que civilizações queimarem matéria para abastecer suas diásporas cósmicas, elas passarão a encher o universo de calor residual, o que poderá gerar um leve aumento na temperatura do cosmos. Além disso, a expansão do próprio universo pode desacelerar — só um pouquinho — por conta da radiação extra.

Publicidade

Veja bem, a gravidade que costura o cosmos vem de fontes diferentes: a constante cosmológica, a densidade e a energia das estrelas, e a pressão resultante do movimento de partículas. O calor residual produzido por uma forma de vida avançada, Olson supõe, pode contribuir com uma pressão pequena — mas detectável — no cosmos.

"A ideia de olhar para um gráfico da evolução do universo e enxergar um pontinho que indica vida não está completamente fora de cogitação na esfera das possibilidades", disse Olson. "Para mim, é uma revelação muito profunda."

Podemos nos perguntar se toda essa especulação, por mais fascinante que seja, faz diferença para um mundo lotado, cheio de humanos famintos e poluidores. Novas buscas por assinaturas tecnológicas extraterrestres estão pipocando na comunidade científica, e experimentos intelectuais como o de Olson podem ajudar a direcionar esses esforços. Se encontrarmos vida inteligente lá fora, essa revelação pode trazer benefícios imensuráveis à humanidade.

"Algumas pessoas começaram a buscar rastros de calor residual no universo, assinaturas que possam indicar formas de vida inteligente que usufruem de energia", Olson contou. "Mas precisamos de modelos mais detalhados para entendermos como exatamente seriam essas assinaturas, e para sabermos onde caçá-las."

Ou seja, precisamos mirar nossas imaginações — e telescópios — nos horizontes mais distantes. Quem sabe, talvez sejamos os caras capazes de borbulhar universo afora até o fim dos tempos.

Tradução: Stephanie Fernandes