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Entrevista

Entrevista VICE: Debbie Harry

A vocalista do Blondie fala sobre stalkers e ser uma sobrevivente.
Debbie Harry (foto por Alexander Thompson).

Esta entrevista foi originalmente publicada na VICE UK .

Você sabe quem é Debbie Harry. Ícone de Nova York, ícone punk e vocalista de uma das bandas mais icônicas da história do pop. Aquela banda, o Blondie, acaba de lançar seu décimo primeiro disco de estúdio, Pollinator, com músicas compostas por gente como Sia, Charli XCX e Dev Hynes.

Me encontrei com Harry num hotel chique de Londres. Ela estava usando óculos escuros e um pouco gripada, o que não a impediu de oferecer uma companhia calorosa e sagaz.

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VICE: O que seus pais preferiam que você tivesse escolhido como carreira?
Debbie Harry: Dona de casa. Dona de casa e mãe. Eles não queriam que eu fosse além disso — eles queriam que eu ficasse ali. Eles nunca realmente aceitaram minha carreira. Bom, eu diria que eles tiveram que aceitar, porque estava feito, mas prefeririam que eu tivesse tido uma vida "normal". Quer dizer, eles eram bem conservadores. Acho que eles tinham orgulho, mas era tudo muito distante do que eles imaginavam que eu era… como eu imaginava quem eles eram.

FOTO 2
Blondie (foto por Alexander Thompson).

Qual foi sua pior fase?
Não sei se realmente tive uma pior fase. Quer dizer, tive tempos difíceis… Acho que teve um momento na segunda metade dos anos 80 que foi péssimo. Teve muito a ver com quando a banda acabou, quando o Chris [Stein, colega de banda e então parceiro romântico] estava doente, quando o Imposto de Renda tomou nossa casa. Quer dizer, tudo ficou "Braah!" Foi bem ruim. Mas acho que meio que sacudi a poeira. Eu amo mesmo o Chris, e isso foi importante, sabe. Eu não poderia ter simplesmente me afastado da situação.

Você acha que drogas podem te fazer feliz?
Bom, acho que você tem que ser mais específico sobre que drogas. Se você toma algum remédio que foi prescrito para você, algo para algum tipo de coisa neurológica, acho que isso pode te ajudar. Se você é doidão e só está experimentando coisas, pode ser divertido por um tempo, sabe? Mas dependência de uma droga ilegal acaba com a diversão bem rápido; pode ser uma bela bosta.

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Você está conversando com um amigo da família e ele diz algo claramente racista. O que você faz?
Oi! Acho que depende do meu humor. Mas acho que na maioria vezes eu não confrontaria a pessoa e nunca mais falaria com ela. O único jeito de mudar o pensamento de alguém sobre isso é apresentar uma pessoa a ela, quase sem ela saber, e realmente deixar elas se conhecerem. Aí a pessoa pode pensar "Ah, sim, essa é uma pessoa que eu deveria odiar, mas não odeio". E em situações assim, algumas pessoas conseguem admitir que estavam erradas, outras não.

Quantas pessoas já se apaixonaram por você?
Espero que milhões. Mas como vou saber, né?

Qual foi o mais perto que você chegou de ter um stalker?
Ah, tive vários. Alguns ex-namorados não entendiam o conceito de "ex", o que era problemático. No nível dos fãs, nunca aconteceu nada seriamente ruim. Mas teve um cara que me escrevia sem parar — eu tinha sacolas de compras cheias de cartas dele. E a letra dele era muito pequena e junta, então eu não conseguia ler. Depois entreguei as cartas para um detetive e ele contatou o cara. Acontece que era um rapaz com uma história trágica. Ele tinha parado de tomar seus remédios e ninguém prestava atenção nele, então ele escrevia para mim.

Blondie (foto por Alexander Thompson)

Para onde você foi nas primeiras férias só com amigos, e o que você fez?

Quer dizer, tipo Ibiza ou algo assim? Bom, acho que fui para a Flórida num recesso de inverno. Eu devia ter uns 17 ou 18 anos, porque meus pais eram muito severos. Eles não me deixariam viajar sem supervisão de um adulto antes disso. E eles não ficariam felizes com a ideia. Pensando agora, acho que eu devo ter mentido sobre para onde estava indo.

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Qual a memória mais forte que você tem da escola?
Bom, a gente brincava de uma coisa chamada Pussy in the Corner. Só vou dizer isso…

Quando você teve mais medo na vida?
É difícil responder essa porque acho que sou uma sobrevivente, sabe? Eu costumava ter muito, muito medo, depois tentava descobrir um jeito de, sabe, seguir em frente. Mas acho que alguns momentos de turbulência em aviões foram apavorantes, porque você não tem nenhum controle.

Que filme ou programa de TV te faz chorar?
As coisas mais idiotas e piegas. Mas acabei de assistir o filme Manchester à Beira Mar. Se eu chorei? Eu estava sentada lá no avião, desconsolada — até mandaram as comissárias perguntarem se eu estava bem. E depois ainda tive que passar pela alfândega.

Do que você tem mais orgulho na sua carreira?
Acho que de apenas ter tentado. Foi um grande passo. Acho que, sabe, aguentar as pontas durante tudo isso, porque com certeza tive meus altos e baixos — ser popular, ser impopular. Mas sempre tive certeza do que eu gostava e não gostava, e o que queria fazer. E sei as coisas de que mais gosto. Tenho muito orgulho de ter feito Videodrome e Hairspray. Acho que são filmes ótimos, e trabalhar com John Waters e David Cronenberg foi incrível.

O novo álbum do Blondie, Pollinator , foi lançado pela BMG.

@mrnicklevine

Tradução: Marina Schnoor

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