Como foi minha aula de ioga nua
Fotos: Rebecca Rütten.

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Sexo

Como foi minha aula de ioga nua

Colocamos nossos tapetes num semicírculo. Por razões óbvias, você não quer sentar atrás de alguém quando vocês estão fazendo ioga peladas.

Matéria originalmente publicada pela VICE Alemanha.

Me mudei para Berlim em abril de 2017 depois de terminar um namoro. Usei a mudança de ambiente como uma oportunidade para refletir sobre meu eu interior, e comecei a experimentar coisas novas numa tentativa de, como dizem por aí, “me encontrar”. Ou seja: finalmente fiz minha primeira viagem para um festival de música e comecei a participar de sessões de meditação budista. Também fiz uma tentativa de curta duração de ser vegan. A próxima coisa na minha lista era ioga nua.

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Ouvi falar em ioga nua quando topei com o Instagram @nude_yogagirl. Sempre adorei ioga — não só porque é um negócio que parece impressionante, mas também é um bom método de se fortalecer, ser mais flexível e ter mais equilíbrio. Quando estou num tapete de ioga, me sinto em contato comigo mesma.

Mas como estar nua e vulnerável afeta tudo isso? Eu queria descobrir por mim mesma.

Não demorei muito para encontrar e me matricular numa aula perto de casa, e assim que li a descrição da sessão na página de eventos do Facebook, fiquei empolgada e pronta pra tentar. Olha isso e me diz se você também não ficaria: “Vamos tocar sensibilidades profundas do nosso corpo, mente e espírito: podemos nadar nos sucos da vida abaixo das 'máscaras' que usamos todos os dias”.

A aula consistia de quatro mulheres e uma instrutora, com idades entre 25 e 35.

E assim, alguns dias depois, aqui estou, sentada num estúdio de ioga em Kreuzberg, sul de Berlim. São 19h45 e ainda estou totalmente vestida e tomando nervosamente meu chá. Somos cinco mulheres, incluindo a instrutora, com idades entre 25 e 35 anos. Os tapetes colocados no chão estão num semicírculo — por razões óbvias, você não quer sentar atrás de alguém quando vocês estão fazendo ioga peladas. Num canto do enorme espaço branco tem uma coleção de luzes e estátuas de Buda, o cheiro pesado de incenso tomando o ar. Essa atmosfera tipo Zen parece um pouco forçada, mas tudo bem, eu aceito.

Estou sentada no meu cobertor de ioga. A mulher do meu lado esqueceu o dela, então empresto minha toalha. “Tudo bem mesmo?”, ela pergunta, sabendo o que vai fazer em cima dela em breve. Sim. Um pouco constrangida, ela coloca o tecido sobre o tapete do estúdio que ela acabou de tirar da prateleira. Está escuro lá fora. Fechamos a cortina, então só a luz vermelha de um prédio do outro lado da rua é visível. Fecho os olhos e escuto os sons xamânicos eletrônicos saindo de um pequeno sistema de som. Só consigo pensar em que estarei muito pelada daqui a pouco.

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Por enquanto, nossa instrutora Danielle está usando leggin de estampa de oncinha e polainas rosas. Ela me diz que ioga nua a ajudou a conhecer melhor seu corpo, e ela descobriu um novo orgulho em suas curvas. Com ajuda das aulas ela espera passar “o poder transformativo da ioga nua” para outras mulheres.

Alguns momentos depois, é hora do show. “Vocês podem se despir lentamente”, diz Danielle. Não sei por onde começar. Decido tirar minha jaqueta primeiro, depois minha camiseta, meu sutiã esportivo, calça de ioga, meias e calcinha. As outras parecem tirar a roupa em segundos, enquanto eu lentamente removo cada camada.

Quando termino, só consigo dar um sorriso envergonhado. Não tenho nada para me esconder, e a situação de repente parece muito bizarra. Por que tem um monte de estranhas peladas em tapetes de ioga mesmo? Automaticamente, meus olhos começam a correr em volta, notando tatuagens, marcas de nascença de formatos estranhos e mamilos de tamanhos e cores diferentes.

Comecei a apreciar meu corpo mais e mais conforme a sessão corria.

“Passem as mãos pelo seu corpo”, instrui Danielle. “Perceba a sensação da sua pele.” Vou ficando rapidamente confortável conforme a sessão corre, mas a aula dela é bem difícil, então logo meu sorriso embaraçado se torna um olhar de pura determinação. Quando percebo, estou totalmente imersa no momento, sem me importar nada com esticar meus membros nus ao lado de estranhas. É só durante a pose do bebê feliz — você se deita de costas com as mãos segurando os pés enquanto abre as pernas no ar — que lembro quanto estou expondo para minhas novas amigas.

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Muitos colegas de ioga reagiram com raiva quando eu disse que ia experimentar ioga nua, considerando isso uma modinha do Instagram para minas brancas privilegiadas. E mesmo sendo uma suposição totalmente injusta, tem muito mais coisa na ioga nua que isso. Como Danielle explica, a prática também é sobre conhecer melhor seu corpo e ter um relacionamento saudável com ele. E apesar de atrair muitos pervertidos e voyeurs nas redes sociais, não é uma coisa sexual — uma conclusão a que você rapidamente chega quando se vê nua e quase dando um mau jeito nos músculos tentando uma pose impossível. Considerando quantas mulheres no mundo estão infelizes com seus corpos, descartar imediatamente esses exercícios que visam melhorar a confiança como modinhas me parece bastante simplista.

Notei que as poses parecem mais intensas quando você está pelada. Elas também parecem diferentes. Você consegue ver como seu estômago se move e muda durante cada virada, como seus músculos tensionam e os tendões se esticam. Também estou muito mais consciente das imperfeições do meu corpo.

A sala está a uns 25º Celsius — Danielle ligou o aquecimento no máximo para não acabarmos congeladas. Uma camada fina de suor se forma por todo meu corpo. Quando fazemos uma pose sobre a barriga, deixo uma marca no meu tapete que me lembra uma pintura de Yves Klein. Algumas das outras mulheres soltam um suspiro quando fazem certas poses — o que é perfeitamente normal na ioga, mas de repente parece um pouco estranho que nenhuma de nós esteja vestida. Surpreendentemente, não ligo que nossa instrutora nos toque para corrigir nossa postura.

Duas colegas de ioga mostrando o pouso sobre a cabeça.

Durante a pose de relaxamento final, Danielle nos diz para colocarmos as meias, significando — por um momento — que somos cinco mulheres, fazendo a pose Savasana, de costas, com os braços e pernas esticados, peladas, só de meias.

Depois colocamos de novo nossas roupas. Volto a vestir minha calça de ioga, colocar meu tênis e minha jaquetona que me protege do inverno de Berlim. Mas algo mudou. Pode parecer brega, mas me sinto mesmo mais em sintonia com o mundo ao meu redor, seja lá o que isso significa. Me sinto bem e, mais incrível, sexy. Deve ser os sucos da vida fazendo efeito.

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