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Música

Entrevistamos o Cara que Fez um Filme para ‘Paul’s Boutique’, dos Beastie Boys

Adam Yauch nunca conseguiu seguir com seu plano de lançar um video para cada track de Paul's Boutique então esse cara fez isso por ele.

“Homeboy, throw in the towel / Your girl got dicked by Ricky Powell” [Mano, joga a toalha / Sua namorada foi enrabada pelo Ricky Powell”]. Faz exatos 25 anos desde que estas imortais palavras foram proferidas pelos Beastie Boys– e a autoestima de Ricky Powell nunca mais foi a mesma. Paul’s Boutique era uma celebração da mudança e da diversidade, não só em suas batidas variadas e suas letras intrincadas, mas no jeito que se produziam discos de hip hop. É uma obra de arte genuína. Não tenho que te dizer para escutar o disco – mas eis mais um motivo para revisitá-lo: em seu aniversário, Paolo Gilli presenteia os fãs de Beastie Boys com um acompanhamento visual para o álbum.

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Paolo, filho de um médico italiano radicado em Heidelberg, Alemanha, ouviu o disco pela primeira vez aos 12 anos de idade, quando este foi lançado. Paolo chorou a morte de Adam Yauch, e assim que soube que MCA queria lançar um filme para acompanhar o lendário álbum, recrutou seu amigo Fabio Suanno para tornar este plano uma realidade. Estes são dois caras que curtem mesmo Paul’s Boutique.

É um tributo adequado se considerarmos que o filme acrescenta uma nova dimensão a um álbum conhecido por suas camadas esfumaçadas. Os grânulos do cinema setentista, sincronizados com as batidas preguiçosas te farão sentir como se estivesse assistindo um filme em um cinema pornô da 42nd Street, como deveria ser.

Falei com Paolo, que mora em Turim, via Skype, sobre como foi fazer Paul’s Boutique: A Visual Companion.

Paul's Boutique - A Visual Companion - Trailer from SM&A Prod. on Vimeo.

Noisey: O filme é uma interpretação literal das letras?

Paolo: Não. Quando você ouve o disco novamente, há muito das letras que está aberto a interpretação. Pode-se usar imagens de filmes em algumas, mas há outras em que só se falam coisas sem sentido. Não há narrativa. Então no caso dessas nós pensamos em coisas diferentes. O que fizemos foi para incorporar quase tudo de 1989, a época de Paul’s Boutique. E não é tanta coisa assim. Temos a apresentação no Soul Train, algumas no Yo! MTV Raps, e a festa de apresentação à imprensa, coisas que podem ser vistas no YouTube. Logo, queríamos deixar tudo com cara de que poderia ter acontecido em 1989, porque a ideia do MCA era ter um clipe pra cada faixa.

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Mas eles nunca fizeram isso…

O disco não foi muito bem no lançamento. Àquela altura, eles tinham quatro ou cinco clipes, que usamos de base para o filme inteiro. Daí tentamos preencher os espaços em branco. Tentei criar algo diferente pra cada faixa.

Por que você acha que o disco não deu certo logo no lançamento?

Penso que as pessoas simplesmente já tinham uma imagem formada dos Beastie Boys. Não foi tão mal com os críticos. A maior parte do público gostava daquela pegada deles de caras de fraternidade, e a cerveja, e as garotas, o que é ok e tal. Mas aquilo era uma piada do primeiro disco. Então eles ouviram aquilo e esperavam um License to Ill 2 e receberam Paul’s Boutique, que era algo completamente diferente.

Com o que você trabalha normalmente?

Trabalho com inserção de dados na parte administrativa de um hospital, nada muito empolgante.

Quanto do seu dia era dedicado ao filme?

Eu o escrevi há alguns anos atrás. O amigo que me ajudou, Fabio, que fez toda a edição, mora em outra cidade, a duas horas de distância. Então nós nos encontrávamos a cada dois meses e trabalhávamos em cada faixa 48 horas por vez. Nos últimos seis meses, quando estávamos tentando encerrar tudo, nos encontrávamos uma vez por mês. Se você fizesse uma linha do tempo, provavelmente daria cerca de um mês de trabalho.

Pôster por Derek Langille

Quais as questões legais por trás disto? Alguém entrou em contato você? Você acha que poderia se meter em alguma encrenca?

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[Risos] Sempre nos perguntam isso. Não sei se você ouviu a versão reconstruída de Paul’s Boutique que foi lançada há alguns anos atrás pelos DJs Cheeba, Moneyshot e Food. Eles remontaram o disco usando os samples originais e jogaram na internet, e deu tipo um milhão de downloads. Falei com eles e eles me disseram só pra me certificar de que o filme seria gratuito e de que não houvesse nenhum lucro. E resta torcer pra que ninguém das grandes corporações fique puto, digo, estamos usado material protegido por direitos autorais, só espero que não chame muita atenção.

Por que você acha que desenvolveu essa relação com o disco quando ele saiu?

Naquela época, no começo dos anos 1990, tinha muita coisa boa. Eu sempre deixava esse álbum de lado e ele voltava até mim. Talvez sejam as batidas e os samples, porque meu inglês não era dos melhores naqueles dias. Agora consigo falar com você, mas antes, eu lia as letras no encarte e entendia alguma coisa, mas o que me pegava mesmo era a música. E nunca ouvi nada parecido com aquilo depois. Os Beastie Boys e os Dust Brothers fizeram algo ali, não sei te responder. O normal é que você fique entediado depois de ouvir algo mil vezes, então não sei.

Você pensou em fazer este tipo de trabalho com algum outro disco?

Falei sobre isso com o Fabio, se algum dia daríamos continuidade ao projeto. Conversamos sobre talvez fazer algo com o terceiro disco do NWA, Niggaz4Life. Tem uma narrativa excelente ali, mas acho que renderia algo mais próximo de um filme pornográfico. O que curto do Paul’s Boutique é que tudo rola nos anos 70, a melhor época do cinema.

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É, as batidas de Paul’s Boutique são tão enevoadas, combinando perfeitamente com a granulagem do cinema dos anos 70.

Exatamente. E tem muitas batidas dos anos 70, então acho que combina com esse clima.

Pôster por Jim Mahfood

Qual a mensagem principal que as pessoas devem retirar deste disco? As histórias todas são sobre dar rolês e quebrar coisas, mas há algo além disso?

O MCA lançou uma faixa chamada “Year and a Day” e esse é o MCA que ele se tornou depois. Penso que o disco deve ser visto como um ponto de mutação na música. Porque ninguém havia feito aquilo até então e ninguém poderá fazê-lo novamente. Você não teria como comprar 300 samples agora. Isso mudou tudo pra eles e, musicalmente, é um ponto sem retorno. Realmente vejo este disco da mesma forma que vejo o Dark Side of the Moon. É importante pro hip hop mas também pra música como um todo.

Qual a sua parte favorita do filme?

Com certeza é “Car Thief”. É uma puta faixa. Se me lembro bem, essa foi a primeira que os Beasties ouviram dos Dust Brothers e pediram a eles pra trabalharem no disco todo. Também calhou de ser a que tem mais referências a drogas. Estou curioso pra ver como as pessoas reagirão.

Aos interessados, outro cara lançou “ForWhomtheCowbellTolls”, uma crônica de 25 anos do disco. É uma boa época pra ser um esquisitão obcecado por música.

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Tradução: Thiago “Índio” Silva