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Música

O Bishop Allen Compartilha a Nova "Why I Had To Go" e Conta o Que Fez em Cinco Anos de Hiato

O Bishop Allen é fruto daquele bode pós-faculdade, mas parece que seu sucesso também deu um bode, aí eles pararam. Agora, depois de novos ares, voltam com um trampo mais sintetizado.

Fotos de Matt Petricone

Bishop Allen foi uma banda nascida do tédio. Naquela fase da vida de bode pós-faculdade, Justin Rice e Christian Rudder começaram a experimentar com um 4-track na sala de estar. De repente, a diferença que separava suas músicas das que faziam os músicos de verdade não pareceu tão grande, e eles mergulharam sem pensar duas vezes no projeto de fazer um twee indie pop descarado. Pouco tempo depois, a dupla tinha um disco de estreia, um projeto monstruoso de um ano de duração, no qual lançariam um EP por mês – e de repente – um contrato de disco com o selo novato Dead Oceans. Em 2009, após uma sequência de três discos de sucesso, eram mais atraentes do que nunca – e daí meio que sumiram da face da Terra.

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Corta para cinco anos depois, e o twee saiu completamente das graças do mainstream. Em outros tempos, o indie pop soava novo e florescia, estimulado por blogueiros de quarto, hoje as publicações profissionais do mainstream e as maquinações de conglomerados de gravadoras espancaram o gênero até a morte. Ainda assim, o mais novo disco do Bishop Allen, Lights Out, que será lançado em 19 de agosto pela Dead Oceans, parece uma espécie de cápsula do tempo. Pende pouco mais para o lado sintético que os trabalhos anteriores, mais baseados em elementos acústicos, mas as letras com sabor de conversa e o som rápido e esperto permanecem.

É só ouvir "Why I Had To Go", o segundo single do disco, que o Noisey está lançando abaixo, para sentir o gosto de um pop tranquilo, com toques de nostalgia. No disco não há qualquer vestígio de EDM, tédio ou estilizações trabalhosas – coisa rara, considerando os pops de todos os tipos sendo lançados em 2014. Então o que diabos eles andaram fazendo na meia década de hiato? E por que voltar agora? Conversei com Justin Rice, que ligou de seu apê – em Kingston, Nova York, mais especificamente – para revelar a história do novo disco da banda, e conversar também sobre Joan Didion, os B52s, e sua antiga banda punk, os Pissed Officers.

Noisey - Por onde vocês andavam? Qual é a história por trás do hiato de cinco anos?
Justin Rice: O nosso plano era de que fosse um ano só, porque precisávamos dar uma paradinha. Quando você começa a pegar impulso como banda, cada passo seguinte parece realmente inevitável. É ótimo entrar nesse ritmo, e é dele que a pessoa precisa – mas também torna mais difícil se concentrar em qualquer outra coisa na vida. Quando você não está em turnê, está sempre enfurnado em algum lugar, tentando escrever músicas novas. O problema que estou percebendo agora é que, se você interrompe esse ciclo, acaba destruindo seu próprio ritmo, e é muito difícil fazer as coisas entrarem em movimento novamente.

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Mas você usou esse tempo para se focar mais em coisas pessoais?
Nesse meio tempo, eu e Darbie (Nowatka, hoje Rice), que também está na banda, nos casamos, e nos mudamos do Brooklyn para Upstate New York. Christian teve uma filha e vendeu uma empresa que ele havia criado, e escreveu um livro que vai sair em setembro. Também fiz trilhas sonoras para vários filmes. Quando você tira uma folga assim, as outras coisas vão entrando na sua vida, e elas é que começam a tomar ritmo. Para conseguir dar uma nova partida no motor dessa banda, foi necessário fazer uma escolha consciente de parar com as outras coisas, para que eu pudesse me dedicar a ela outra vez.

Hoje estamos lançando a faixa "Why I Had To Go", e essa música parece em parte se tratar disso que você está falando.
Sim, esse foi o meu experimento com o Ableton Live. É uma ótima ferramenta para compor música, porque não faz a sincronia linearmente, e o loop é instantâneo. Eu estava só aprendendo a usar o programa, colocando melodias em camadas, uma em cima da outra. Mas aí, um dia, peguei o trem de Kingston e desci para Nova York, enquanto isso a melodia instrumental na minha cabeça. Estava pensando sobre o que voltar significava para mim, e as palavras todas começaram a vir. Saltei do trem na Grand Central, andei até o Bryant Park, e fiquei lá sentado por cinco horas, escrevendo letras no meu notebook.

É literalmente uma música sobre ir e voltar de Nova York, mas também é sobre a sensação de ser um pouquinho mais velho, e olhar o passado – a ambivalência que você sente. Como você meio que tem carinho por aqueles momentos passados, mas também sente um pouco de nostalgia, e dá até uma encolhida de medo. Sente vontade de voltar à cidade, e de ver todo o pessoal que cresceu contigo, mas, ao mesmo tempo, meio que não quer também. Dá uma certa felicidade por não ter que viver mais essas coisas.

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Houve uma época, no início dos anos 2000, em que o indie pop, o twee e o folk eram super populares, e ao mesmo tempo faziam sucesso de crítica. Agora, parece que muitas dessas bandas são menosprezadas logo de cara. Você sentiu essa mudança ou reação?
É claro que leio as publicações, mas preciso ter uma perspectiva mais ampla das coisas. Minha vontade é dizer que não leio a imprensa porque essa é realmente uma coisa saudável de dizer e fazer. Você não escreve a música esperando que vá lucrar em cima de um modismo, ou fazer sucesso de crítica. Escreve porque tem ideias que fazem sentido em forma de música. E senta e trabalha nelas até que através de sua lógica interna cheguem à forma final, seja lá qual for.

É claro que é devastador quando você sente que houve uma mudança de rumo, tipo “ah, agora mais nos criticam que nos aplaudem”. Mas, nesse ponto, minha perspectiva das coisas é muito limitada. Meio que passei os últimos cinco anos sentado quieto, sem fazer nada. Também sinto que, quando estava rolando, algumas pessoas realmente curtiam a coisa, mas sempre teve aqueles que achavam um lixo total.

Mas antes de terem esse som indie pop, você e Christian tiveram uma banda punk, certo?
Tecnicamente, nos conhecemos nas aulas de Inglês em Harvard, mas ficamos amigos mesmo quando topamos num show do Jawbreaker. O que nos aproximou foi o gosto em comum por Misfits, Black Flag e coisas do tipo. Então começamos uma banda punk chamada Pissed Officers. A coisa era um pouco insana. A gente achava que estava tocando um rock épico, tipo Stiff Little Fingers ou coisa parecida. Mas tudo o que a gente fazia era tocar as músicas na maior velocidade possível. E tínhamos um baterista muito atlético, então o nosso set era rapidíssimo – tipo 17 músicas em sete minutos. Na verdade eram umas rajadas curtas de ruído branco. Uma música era chamada "Be Nice to Bikes." Achávamos que era uma música direta, engraçada que ficava na cabeça de quem ouvia, e no fim a coisa soava só como um "BLERGH".

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Foi por isso que mudaram para um outro tipo de som, e foram na direção do indie pop? Vocês sentiam que as letras e os significados estavam se perdendo?
Não, não. Nunca foi uma coisa consciente. Quando nos conhecemos, estávamos só fazendo as coisas de um jeito totalmente intuitivo. Anos depois, estávamos dividindo apartamento e os dois tínhamos empregos. No tempo livre, a gente sentava na sala do apartamento e gravava. No fim das contas, o Bishop Allen surgiu porque estávamos brincando com esse 4-track. Começamos a gravar montes de músicas, e talvez umas duas ou três delas, quando a gente ouvia de novo, pareciam coisa de uma banda de verdade, algo que as pessoas ouviriam. E isso foi empolgante!

O que mais te inspira, em termos musicais? Diga algumas bandas que você anda ouvindo esses tempos, velhas ou novas.
Quanto aos artistas que estou sempre ouvindo e aos quais sempre volto, tem Talking Heads, David Bowie, Fleetwood Mac. Gosto muito também de Lee Hazelwood e Nancy Sinatra. Mas tem um monte de bandas novas que gosto muito. Acabei de comprar um disco do Hospitality, e é excelente. E esse disco que acabou de sair pela Dead Oceans, do Strand of Oaks, é muito bom. Esses dias ouvi também todas as músicas dos B52s, e pirei naquele disco deles, Whammy.

Para você, como esse disco se compara com seus primeiros trabalhos? É uma continuação, ou uma mudança?
Sinto que é bem diferente. Muitas das texturas que usamos no passado eram acústicas e derivavam da música folk. Neste agora, a paleta de sons que usamos foi mais elétrica, e incluiu muita coisa sintética. Sinto que sempre foi ótimo, em termos de aprendizado, gravar um disco para compreender um instrumento, de modo que a lógica que nos levou a gravá-lo foi a mesma, mas a paleta que usamos na prática foi diferente. Geralmente tem-se alguma ideia de qual é o espírito por trás do disco, e no caso desse, era para ser algo mais informal, tipo uma conversa, e excluir os fingimentos. Queria ter uma relação muito direta com as letras, e com o estilo vocal, de modo que o sentimento fosse o de conversar com alguém que você conhece. Queria captar esse tom que muitos dos grandes ensaístas americanos têm. Como Joan Didion, por exemplo. Não é uma coisa rebuscada, e tem insights, mas é algo do qual é possível compartilhar.

Caitlin também é fã de Joan Didion, especialmente de "On Self-Respect". Ela está no Twitter - @harmonicait

Tradução: Marcio Stockler