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Música

Conversamos com Derek FKA Jamel Prodigy, o Professor de Vogue da FKA twigs

As aulas de Derek foram a inspiração da música "Figure 8", então falamos com ele sobre o sucesso crescente do vogue e o verdadeiro significado da sigla FKA.

Em agosto, FKA twigs lançou seu atordoante EP e curta-metragem M3LL155X. É uma obra de arte inacreditável, uma obra que, como afirmamos na época, vai ficando cada vez melhor quanto mais você assiste. O vídeo investiga estágios da condição feminina: gravidez, submissão sexual, empoderamento sexual, envelhecimento. Aborda também o amor de twigs pelo voguing, com uma cena contando com um time de voguers incríveis.

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Como ex-dançarina profissional (veja "Video Girl"), essa forma de arte é uma parte essencial da apresentação de twigs em tudo, desde seus vídeos, passando por seus shows ao vivo e chegando até às letras das músicas. Ela usa a dança para comunicar várias de suas ideias, e sem essa forma de expressão, ela seria um tipo de artista totalmente diferente.

A coreografia em seus shows é linda; as emoções evocadas, viscerais; não tenho vergonha de dizer que me fizeram chorar. Twigs vê os dançarinos como seus colaboradores, e não como elementos secundários, e ela lhes dá destaque individual. Durante sua turnê Congregata, twigs saiu do palco durante vários, permitindo que voguers como Benjamin Milan e Deshaun Wesley tomassem a frente da apresentação. Além de parecerem insanamente maneiros – será que alguma dessas pessoas tem ossos no corpo? – cada dançarino recebeu uma plataforma para brilhar.

Uma das faixas de destaque de M3LL155X, "Figure 8", foi revelada um pouco antes, com Zane Lowe na Beats 1. Descrita por Lowe como um "estouro absoluto", twigs disse que a faixa foi inspirada por suas aulas de vogue com o dançarino Derek Prodigy, com o termo "figure 8" servindo como metáfora para os movimentos de mão incessantes do vogue. "Isso é foda pra caralho", respondeu Lowe.

Derek é foda pra caralho. Nascido Derek Auguste, o nome artístico dele é, na verdade, Jamel Prodigy, referindo-se a si mesmo como Derek FKA Jamel Prodigy, com o FKA significando "forever known as" ["para sempre conhecido como"] (ele nos disse que os veículos de imprensa regularmente noticiam errado o nome de FKA twigs como "formerly known as" ["anteriormente conhecida como"], enquanto que tanto ele quanto twigs "são para sempre").

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Auguste nasceu no Bronx, foi criado no Harlem, e está na dança desde criança. Quando adolescente, na escola de dança, muitas vezes não conseguia ser escalado para os papéis principais por causa de sua altura (ele se descreve como "verticalmente prejudicado"). Com a confiança abalada, Auguste descobriu no vogue uma rota de fuga, uma maneira de dançar sem sofrer pressões profissionais. Ele é um voguer dedicado desde os 17 anos, primeiro se juntando à House of Blahnik, e depois à House of Ebony, que posteriormente se tornou a House of Prodigy.

Até pouco mais de um ano atrás, Auguste havia desistido da dança como profissão, se dedicando ao vogue apenas nas horas vagas. Estava trabalhando em marketing de restaurantes quando conheceu twigs no Vogue Knights, um baile na cidade de Nova York. Auguste não a conhecia, mas concordou em lhe dar aulas. Eles se encontraram no estúdio no dia seguinte, e desde então colaboram frequentemente um com o outro.

Auguste desde então se apresentou com twigs no Congregata, participou de seu vídeo "Glass and Patron" (abaixo), e trabalha como coreógrafo e como uma espécie de mentor de vogue. Ele largou seu emprego diurno, e agora ensina vogue no Broadway Dance Center, onde nos encontramos. Ele é incrivelmente cálido e efusivo, me cumprimentando com um enorme abraço. Auguste é apaixonado por sua arte, e fala com velocidade, como se precisasse desesperadamente pôr as palavras para fora. Falamos sobre twigs, sobre apropriação, e sobre a cultura do vogue.

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Derek FKA Jamel Prodigy com FKA twigs no set de "Glass and Patron"

Noisey: Como você descreveria o seu estilo de vogue?
Derek Auguste: Muito confiante, muito afiado e sério. Não costumo mudar minhas expressões faciais, porque se eu fizer isso, perco minha concentração e tudo sai dos eixos. Esqueço uma expressão ou quebro a fluidez de uma expressão. Então fico com uma cara bem séria.

Você se apresentou no Congregata, que foi o show mais incrível que vi na minha vida. Como foi que aquilo aconteceu?
O Congregata foi um conceito criado pela twigs, mais ou menos na época em que ela veio para Nova York e começou a fazer workshops. Congregata, em latim, quer dizer congregar, ou reunir. Então nós queríamos prestar homenagem a todos os estilos de música e dança que foram uma inspiração para ela. Para a maioria das pessoas artísticas, a arte é um esforço colaborativo, e muita gente na verdade não presta homenagem àqueles que lhes ensinaram alguma coisa, mas com twigs não é assim. Ela colocou todos os seus amigos juntos e organizou o espetáculo. Basicamente todos nós pudemos nos apresentar não só como dançarinos, mas como artistas de destaque no show. Então essa foi a maneira dela de nos demonstrar respeito.

Você poderia me contar um pouquinho sobre como foi filmar o clipe de "Glass and Patron"?
Foi frio. [Risos].

Pois é, onde aquilo foi filmado?
Foi filmado numa floresta de Londres. Estava fazendo muito frio naquele dia. Mas, na verdade, ao trabalhar com twigs, você sente uma energia maternal nela. Ela me vê como um mentor, como um irmão mais velho, mas ela é tipo a minha irmã. Ela simplesmente deixava todo mundo muito à vontade. Nós rimos muito, e vogueamos, e mantivemos nossos corpos quentes para que não congelássemos, mas foi tudo muito divertido. Ficamos no set de filmagem por umas 22 horas. Mas ela trabalha muito duro mesmo. Há muitos dos meus amigos que fizeram workshops de vogue com muitos artistas performáticos, artistas da música. Se você está no set com vários artistas de grande destaque, o normal é que os dançarinos não os vejam até que eles cheguem no set. Mas twigs ficou no camarim com a gente, se divertindo e vogueando, e isso tornou muito melhor a experiência.

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Continua abaixo…

Eu estava lendo um artigo no The Guardian sobreParis Is Burning em que você foi entrevistado, e você mencionou Madonna, e como ela meio que se apresentava como a Mãe do Vogue. Como você diria que a representação que twigs faz do vogue mudou?
Muita gente, ao menos hoje em dia, acha que "gay está virando o novo preto". Todo mundo quer ser alternativo. O que era tabu no passado hoje é algo de que todos querem participar. E eu só quero compartilhar minha arte quando é com pessoas que são simplesmente tipo, o mercado está aberto agora. Na época, ela [Madonna] na verdade não homenageou, digamos, Jose Extravaganza da maneira que deveria. Sim, ele estava bem ali do lado dela, mas eu queria que se falasse mais do assunto. Twigs permite que eu tenha uma voz. O fato de você estar me entrevistando agora, acho que isso é algo que ela gostaria que eu fizesse. Ela não gostaria de passar a impressão de que é a mãe do vogue. Twigs compreende que ela ainda é uma estudante, e que está aprendendo.

Então, o que você acha da representação em geral? Minha impressão é de que o vogue está tendo um momento cultural, como noMagic Mike XXL. O que você acha de ele se tornar mais mainstream?
Mais uma vez, gosto do fato de que ele está sendo reconhecido e legitimado. Contudo, é cultura pop, está virando cultura pop. Todas essas coisas que vêm da minha comunidade estão virando cultura pop, e acho que isso se dá porque estamos ficando mais populares, estamos sendo mais reconhecidos. Já não era sem tempo que as pessoas da comunidade LGBTQ fossem reconhecidas como seres vivos plenos. É uma boa sensação, a de me ver mais na televisão. Então eu adoro, contanto que isso se traduza em autenticidade. Algumas garotas, quando me veem na rua, falam "oi querida!", e para mim isso não é uma ofensa, porque muita gente não tem consciência, é assim que elas acham que se deve cumprimentar um homem que é abertamente gay.

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Eca.
Contudo, gostaria que fosse um pouco mais autêntico. Se é assim que você realmente fala, então fale, mas se não vem de você, não fale. O importante é ser transparente e autêntico. Então, se for uma coisa autêntica, eu vou adorar, se for alguma estratégia de marketing – "vamos colocar uns voguers aí, os viados vão adorar!".

É um tanto nojento.
Exato.

Ensaiando com twigs. Todas as fotos cortesia de Derek FKA Jamel Prodigy

Então, você está no vogue faz 16 anos, em Nova York. O que a cena tem de diferente hoje em dia, em comparação com a época em que você estava começando?
Integração. Está muito mais integrada. A cultura está se tornando internacional agora, e há muitas mulheres que estão surgindo na cena. Muitos países estão se abrindo – há casas na Suécia, na Rússia – então isso é uma coisa que eu adoro. Antigamente era uma cultura muito underground, que vinha de sermos ostracizados no mundo lá fora, de modo que criamos nossas próprias celebridades e estrelas e lendas e afirmações. Ver agora que isto está sendo reconhecido é uma grande mudança. Porque naquela época você nunca veria alguns dos talentos da comunidade dando aulas no Broadway Dance Center, ou vogueando no palco com Madonna. No máximo uma ou duas pessoas, mas agora todo mundo está fazendo. A maioria dos meus colegas está conseguindo seu sustento com o vogue, e naquela época era só uma coisa legal de se fazer. Fomos ensinados que o vogue era underground. Não era uma carreira. Não fui ensinado a levar minha arte a sério. Então encontrar a twigs, uma criadora autêntica, ver que ela aprecia a minha arte; foi isso o que me fez abandonar meu trabalho no escritório. Eu sou um intérprete, e sou um criador, então é bom demais poder simplesmente dançar.

Derek Auguste está trabalhando num show próprio, uma combinação de dança com artes visuais, cuja estreia está agendada para o ano que vem.

Jocelyn Silver é escritora e mora na cidade de Nova York. Siga-a no Instagram, porque ela na verdade não usa o Twitter.