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Música

Cada Presidente Tem o Rock (ou Forró) que Merece

Nesta curta história da democracia brasileira, há sempre um som que nos lembra dos representantes máximos do Estado de Direito.

Foto por Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Analisando o período curtinho da democracia no Brasil, vemos que realmente é muito mais gostoso não ter ditadura porque assim dá para xingar o presidente abertamente. Dá até para fazer sucesso com uma musiquinha meio tanga-frouxa com quem merece.

Aproveitamos esse lance aí das manifestações anti-tudo-que-está-aí-mas-principalmente-o-PT-corrupto do próximo domingo (16) para olharmos para os nossos presidentes passados. Notamos que há sempre um rock ou um forrozinho que nos recorda dos representantes máximos do Estado de Direito brazuca.

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O Plano Cruzado lançado por Sarney floresceu a economia? Os Ratos de Porão indicaram em 1987 com “Plano Furado” que “essa farsa engoliu, o povo se fodeu e o Brasil faliu”. O milagre econômico perdurou a década de 1980? “Se Caísse Uma Chuva de Alimentos Não Enchia a Panela da Pobreza”, do compositor pernambucano Ivanildo Vilanova, já deprime com o título.

O golpe militar de 1964 foi bom para o Brasil? O Camisa de Vênus cantou que “o presidente João Goulart falou na TV que a gente ia ter muita grana”, mas que de um dia para o outro “foi dado um alerta” e que “ninguém saía de casa e as ruas ficaram desertas”. Projetos de inclusão social foram uma marca do governo FHC? “Hitler, FHC, capitão do mato: bacharéis em em carnificina, mestrado em holocausto”, comparou o Facção Central em 2000 em “Discurso ou Revólver”.

Eis o legado do atual governo e de outros presidentes com uma ou outra forçãozinha de barra:

Dilma Rousseff (2011- 2018)

Dilmãe anda tão impopular que nem música própria tem, só um versinho adaptado em uma música do Lobão (Dilmaaaa/ Dilmaaaaa/ Dilmaaaa bandida), mas é impossível ouvir os primeiros versos de "A Garota Super Brasil" sobre uma menina que "já foi ativista", "já foi militante" e "não é mais grevista" e não lembrar da mezzo mineira, mezzo gaúcha presidenta. Dilma era uma das ativistas do movimento estudantil de Belo Horizonte no fim da década de 1960 e acabou presa pelas autoridades. Solta, foi para Porto Alegre e virou amiga de Leonel Brizola, e daí para a presidência.

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Júpiter Maçã, porém, explica que a letra foi inspirada numa musa francesa. "A música foi feita para Laetitia Sadier, do Stereolab. Embora ela seja francesa, ela é Super Brasil e fã de artistas brasileiros. Ser Super Brasil está na essência dela", disse Júpite,r que conheceu a artista, junto com os outros componentes da banda, em 2000, no Rio de Janeiro. "A postura dela é feminista, mas não de boutique. Ela sobe no palco, cita Rimbaud e quebra três teclados", concluiu.

Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011)

De sindicalista barbudão salvador da pátria retratado na música "Luiz Inácio e os 300 Picaretas", d'Os Paralamas do Sucesso, Lula virou engravatado apreciador de uma boa pizza em "Tratadus Pilantrae", faixa de uma banda de Osasco que sentencia que a "revolução virou um pastelão sabor mensalão".

Lula falou em 1993 que o Congresso só tinha os picaretas e gerou revolta dos parlamentares, mas aguçou a criatividade Herbert Vianna.

Fernando Henrique Cardoso (1995-2003)

Aposentado da presidência da República, FHC resolveu assumir que o THC não é tão ruim assim e que o tráfico de drogas mata milhões ao redor do mundo, principalmente no Brasil. Para tentar emplacar uma pauta moderninha liberal, o ex-presidente excursiona o mundo defendendo a legalização da erva junto a outros ex-poderosos chefões da América, como Bill Clinton e César Gavira, como forma de diminuir o poder das organizações criminosas.

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Itamar Franco (1992- 1995)

A música do presidente topetudo que segurou a bronca do Brasil em meio caos deixado por Collor poderia ter sido a gloriosa "Oh, Minas Gerais", de Tonico e Tinoco. Poderia, mas, como bom tiozão embriagado num bom carnaval, Itamar entrou para a história ao ser flagrado ao lado de uma modelo sem calcinha.

"Num determinado momento ele me puxou para ver a Vila Isabel passar, ali em frente ao camarote, aí começamos a sambar eu, o presidente e minha irmã de uma maneira natural", lembrou a ex-musa Lilian Ramos, famosa por ter deixado a periquita para fora para uma reportagem no SBT. Itamar ganhou, então uma marchinha.

Fernando Collor de Mello (1990-1992)

CoLLor conseguiu ser o primeiro presidente a valer do Brasil após a redemocratização. E o que ele fez com isso? Tratou a economia e a política igual criança mimada quando ganha um presente caríssimo do papis: joga no chão e não dá o devido valor. O caçador de marajás foi homenageado por Mao, ex-vocalista dos Garotos Podres. O punk compôs uma canção sobre Fernandinho, um rapazote que "agora só passa a mão nas poupanças das velhinhas". Uma honra.

José Sarney (1985-1990)

"Vossa Excelência", hit dos Titãs com os versos "filho da puta, bandido, corrupto, ladrão", poderia ser uma música adequada para o ex-presidente, ex-deputado, ex-senador e ex-governador do Maranhão José Sarney. Sorte do político que Amado Edilson o enalteceu com fabuloso forró. "Vou falar de um homem importante, muito rico e popular", francamente!.

Tancredo Neves (eleito, mas morreu)

Primeiro presidente brasileiro civil após 21 anos de ditadura militar, Tancredo não tomou posse porque morreu após uma crise de diverticulite. Os versos de "Coração de Estudante", de Milton Nascimento, foram tocados à exaustão enquanto o país o velava. "Já podaram seus momentos", "desviaram seu destino" e "há de se cuidar do broto para que a vida nos dê flores" fizeram milhões de lágrimas rolarem em todo o país.

Em comícios pelas Diretas Já!, e ao posterior Muda Brasil, Tancredo Já!, o político animava o povo com "Menestrel das Alagoas", "Vai Passar", "O Bêbado e a Equilibrista" e "Travessia".