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Música

Roubadas na Estrada: Marcão, Batera do Dead Fish e do Ação Direta

Coletamos um apanhado de perrengues atravessados pelo músico ao longo de décadas de uma vida dedicada ao underground.

Marco Melloni, o “Marcão”, está há milianos no rolê do rock underground, tocando bateria em bandas como o Dead Fish e o Ação Direta. Se grupos com bem menos tempo de vida, a exemplo do KroW e do Black Drawing Chalks, já colecionam umas histórias cabulosas de Roubadasna Estrada, então imaginem vocês o quanto de perrengue esse maluco já passou em viagens para tocar Brasilzão afora? Foi pensando nisso que liguei pra ele, na certeza de que brotariam de seus relatos impagáveis infortúnios para a nossa série. Na mosca! E pra falar a verdade, os causos são tantos que foi preciso fazer aquela peneira.

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Tem de tudo. Desde a fatídica situação de viajar numa Topic socada de gente, instrumentos e demais equipos, passando pelas mancadas básicas de tomar migué em cachê ou ser escalado pra tocar depois do headliner num festival, até desabamento de palco e surto de caganeira no meio do show. Selecionei abaixo alguns trechos dessas histórias, encaradas com notável bom humor pelo músico. O que, no fim das contas, não deixa de ser uma verdadeira aula sobre como sublimar as adversidades em nome daquilo que mais importa: manter a chama acesa. É isso aí. Viva o rock!

O que: Três horas e meia de aperto numa van
Quando: 2010
Onde: De Santiago a Val Paraíso, Chile
Com quem: Dead Fish
“Bom, amigo, quando se tem uma banda independente, um dos perrengues mais comuns é esse lance de viajar em busão de linha e carro lotado. Um rolê especialmente desconfortável foi em 2010, que passei com o Dead Fish, indo de Santiago a Val Paraíso (Chile). Estávamos nós do DF e os caras do Shaila, uma banda muito boa da Argentina, esperando uma van que nos levaria até Val Paraíso. Eis que chega a tão sonhada van, uma Topic amarela, completamente destruída na lataria, mas apresentando condições mecânicas ainda intactas. Foi muito osso porque éramos em cinco no DF, daí juntou mais os seis negos do Shaila, o motora e a mulher dele. Fora isso, ainda tinha mais coisa tomando espaço: cabeçote de guitarra e de baixo, muitas peças de bateria e as malas e mochilas. Só sei que encaramos três horas e meia de viagem, um monte de gente sem poder se movimentar direito, com aquele equipamento todo, num aperto fodido. Mas não posso negar que essas coisas sempre acabam sendo engraçadas. Esse episódio em particular foi uma das viagens de van mais engraçadas de todas que fiz. Demos muita risada de tudo aquilo e os caras do Shaila foram falando besteira o caminho todo. Foi foda.”

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O que: Esvaziando a pista
Quando: 2011
Onde: Porão do Rock, Brasília
Com quem: Dead Fish
“Uma vez, no Porão do Rock, eu achei muito estranho a organização escalar o Dead Fish para tocar depois do Raimundos. Afinal, os caras eram mainstream, não parecia provável que o público para ambas as bandas seria equivalente. Mas, beleza, pagamos pra ver. Na hora do show deles tinha umas 25 mil pessoas, e no nosso, umas 5 mil. Puta mancada fazer isso conosco. Mas, quer saber? Por mim ok, ficou lá quem realmente queria ver nosso show. Só que achei uma grande cagada do festival colocar a banda da casa antes da gente.”

O que: Oito cuecas num quarto pequeno e um banheiro sem porta
Quando: 2010
Onde: Não lembra
Com quem: Dead Fish
“Teve a vez que ficamos hospedados num hostel muito zoado, que não oferecia as condições mínimas de conforto. Simplesmente escalaram oito marmanjos pra dividir o mesmo quarto de, no máximo, uns 30 metros quadrados e com um banheiro junto. Não tinha porta, só uma divisória de papelão, que só servia para delimitar o espaço onde começava o banheiro mesmo. Ainda por cima, o negócio sequer fechava até o teto. Todos éramos testemunhas dos momentos ridículos uns dos outros. Moral da história: um monte de cuecas peidando e cagando e todos compartilhando um delicioso odor de merda e chulé [risos].”

O que: Show numa oficina mecânica
Quando: 2001
Onde: Piracicaba
Com quem: Ação Direta
“Uma roubada sempre recorrente, com a qual já me fodi muito, é essa história de aceitar receber o cachê depois do show. Direto dá merda. Aliás, mês passado mesmo tomamos uma dessas. Mas teve uma que foi foda. Fomos tocar no interior de São Paulo, quando chegamos no lugar do show, a (in)grata surpresa: o pico estava lacrado pela prefeitura. Aí, de última hora, os organizadores nada organizados arrumaram um outro lugar pro show rolar, uma oficina mecânica. Claro que nunca deixamos de tocar, mesmo nessas condições. Só que, no final do show, o cara veio pagar a gente com uma garrafa pet de 600ml! Dentro da garrafa, havia uns 90 reais, tudo em notas amassadas. Quase enfiei no cu dele a garrafa com a grana.”

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O que: Caganeira danada durante um show
Quando: 2012
Onde: Bar Opinião,Porto Alegre
Com quem: Dead Fish
“Cheguei em Porto Alegre com a banda para um show no Opinião. Estava ansioso, pois aquela seria minha primeira vez nesse bar tão falado de Porto Alegre. Fomos almoçar umas 15h e depois passamos o som. Até aí, tudo certo. Era só ficar no hotel aguardando a hora do concerto. Até que, perto de umas 19h, eu começo a me sentir meio estranho, com umas dores no corpo e uma caganeira desenfreada. A situação se complicou quando comecei a vomitar também. Aí fodeu geral! Fui piorando, piorando, tomei alguns remédios, mas nada fez efeito. Enfim, hora do show, eu amarelado, todo cagado e vomitado, mas mesmo assim falei: "Vamos lá ". Consegui tocar três músicas e pedi pro meu roadie, o André Pastura, tocar umas duas músicas enquanto eu fosse ao banheiro cagar pela décima vez e vomitar pela décima oitava vez. Voltei, toquei mais uma e sai da batera, dessa vez definitivamente sem condições de tocar. O problema é que tinha pelo menos umas 900 pessoas no pico querendo ver a banda. Graças ao empenho e dedicação do meu grande camarada André o concerto continuou até o fim. Foi ali que fiquei saquei que o moleque sabia tocar todas as músicas do set list, o que acabou salvando o show.”

O que: Desabamento de palco
Quando: 2010
Onde: Vitória, Praia Tênis Club
Com quem: Dead Fish
“O Dead Fish é de Vitória, mas nessa época nós já estávamos residindo em São Paulo, e viajamos para tocar na terra natal da banda, onde os shows eram sempre especiais. Cara, esse fato que vou contar não teve graça nenhuma. Na real, foi um perigo fodido que passamos. A casa estava lotada e o clima era perfeito para um grande concerto. Começamos a tocar quando, no meio da primeira música, acredite, o palco quebrou no meio! Eu fiquei espremido na parede com a batera inteira me amassando, e a outra parte da banda do outro lado com monitores caixas e amplificadores, tudo caído em cima deles. Por incrível que pareça ninguém saiu ferido, nem da banda nem do público. O show demorou uns 45 minutos pra continuar. O pessoal da casa, nossa equipe e nós da banda fizemos um mutirão, retiramos os escombros e terminamos o show sem palco mesmo, no chão. E por sinal foi um puta show!”

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