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Música

Um Monte de Som Ruim e Um Bom Sobre os Protestos no Brasil

Do pop ao rap, passando pelo BRock, compilamos o pior da música brasileira de protesto versão 2.0

Foto por Raphael Tognini

Nem bem o gigante tirou a remela dos olhos, as novas músicas “de protesto” começaram a pipocar interwebz afora. E a gente não tá falando das batucadas da Fanfarra do M.A.L. que embalaram as lutas do MPL paulistano do primeiro ao último ato, mas sim da turma que chegou atrasada no bonde e queria sentar na janela dando tchauzinho.

E, bicho, a turminha de “neo-Chico Buarques” dá saudade até do Geraldo Vandré. E aí você pode começar um baita mimimi, dizendo que este tal de Lester do Bangue é um cara acomodado, que não vai pra rua e que acha que as coisas devem ficar assim mesmo, mas olha, não é isso. Mas havia em mim uma felicidade dormente por nunca ter imaginado o Latino e o RPM fazendo o “hino dos protestos no Brasil”. E tem nego que chamou até o PSTU de “oportunista”.

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Mas nem tudo está perdido: ficamos felizes em descobrir o PH Lima, MC de funk do Rio, que lançou o classe “Rap do Bandido”, dedicado à dupla mais amada das terras cariocas: Sérgio Cabral e Eduardo Paes. Pinte a cara de verde e amarelo, coloca a bandeira do Brasil no ombro e vem com a gente:

O som legal

PH Lima – “Rap do Bandido”

Todo mundo deve se lembrar do clássico “Rap da Felicidade”. “Eu só quero é ser feliz / Andar tranquilamente na favela onde eu nasci / E poder me orgulhar / E ter a consciência que o pobre tem seu lugar”. É meio nessa onda que o PH construiu seu funk. Um recado direto, bem dado e bem cantado. Ele constrói muito bem uma narrativa que começa num esquema meio spoken word, com PH falando os versos, numa espécie de introdução, que conta a história de um bandido que mata, que expulsa bombeiros. Mas, ó a virada no enredo, o tal bandido não é o cara que porta fuzil - afinal, tem homem mau que vira homem bom. Quem é ele? “O bandido, o bandido, o bandido, o bandido se acha o tal/ O nome do bandidoôô/ É Sérgio Cabral!”.

Os sons mala

Latino - “O Gigante”

É o Latino, então a gente já vai imaginando alguma coisa ruim. Mas olha, vou relevar aqui que eu curtia o cara, viu? Quando tinha uns 13 anos, tentava imitá-lo dançando e tudo, porém acho que isso era por causa daquela saudosa época do rabinho de cavalo “me leva, baby, me leva”. Engraçado que aqui a introdução parece que vai ser uma baita música política - dentro dos limites - mas no final das contas é um pouco de tudo e acho que acaba sendo sim o hino de todas as manifestações contra tudo. O som do Latino não difere muito da turma do “contra tudo isso que tá aí”: sem foco, sem sentido, só no embalo.

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F292 - “Minha Missão”

As imagens do começo do clipe, devo confessar, são boas. É uma compilação, principalmente das tretas que aconteceram em São Paulo na “Batalha da Consolação”, mas depois tem um flyer com um trecho de “Geração Coca-Cola” do Aborto Elétrico e dá vontade de chorar. E a música, ah, a música, ela é tão ruim quanto subir do Terminal Parque Dom Pedro II até a Praça da Sé com o Choque marchando atrás de você e jogando bomba.

Seu Jorge, Gabriel Moura e Pretinho da Serrinha - "Chega"

Galera, não era sobre os vinte centavos mesmo, mas ó, foi mal cortar sua brisa, mas também não era a respeito da corrupção ou de tudo. Era sobre o quanto esses vinte centavos excluía uma boa parte da população do transporte público e o modo como toda essa política é gerida. Quando pintaram a cara, o lance desvirtuou de um modo bizarro. "Diga não ao vandalismo". Não é querendo fazer apologia, entretanto, sempre acreditei que vandalismo é esperar mais de quarenta minutos um ônibus na periferia e depois ter que ficar mais meia hora para embarcar no terminal (claro, todos os veículos aqui ilustrados estão superlotados). "Chega", diz Seu Jorge. Chega de falar besteira e vai estudar, turma.

RPM - “Primavera Tropical”

Eu fiquei abismado quando vi que tinha essa música do RPM. Achei que eles tinham acabado junto com aquelas rádios que seu tio escutava nos anos 90 enquanto lavava o golzinho quadrado num domingo de manhã. Eu não sei o que aconteceu - talvez seja até proposital -, mas parece que a música está numa qualidade ridícula e nem sendo lo-fi o RPM fica legal. “Amanhã vai ser maior… Amanhã vai ser maior…”, esperemos que a qualidade musical também esteja inclusa nesse pacote.

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Thiago Correa - “Brasil em Cartaz”

Música com sacadinha, sabe como é? Não valia um tuíte e maluco acha que vale uma canção. Segundo a descrição do vídeo, o som foi feito com as frases dos cartazes e aí que mora o problema. Algumas coisas bizarras como “agora colocaram Mentos na geração Coca-Cola”, “me chama de Copa e investe em mim” e por aí vai. A música em si é ruim pra caralho e por citar Legião Urbana, o esquema é voltar dez casas no jogo da canção de protesto.

ConeCrewDiretoria - “Pronto Pra Tomar o Poder”

Eu respeito o corre de todo mundo dentro do rap. Não ouço Cone Crew porque na minha cabeça o som não é pra mim, mas longe de ficar falando “vendidos”, “modinha”. Já diria o Brown: “cada um no seu corre” ou melhor, “quem sou eu pra falar de quem cheira ou quem fuma? Nem dá, eu nunca te dei porra nenhuma”. Mas nessa música, o lance simplesmente não ficou bom. Tem dia que a galera acerta, mas tem dia que você acorda, não caga e por isso fica o dia inteiro com uma sensação estranha. A Cone não é a única da turma do rap carioca a escorregar. O Iky Castilho chega legal com o sample esquema Portishead em “Soldados”, mas de resto é mais do mesmo, e esse lance de “fumo maconha, logo sou libertário” é meio que completamente errado (UPDATE: 1 pessoal avisou aqui que som do Iky é de janeiro deste ano. Mas o vídeo se utiliza das manifestações. O que é mais oportunismo - fazer uma música sobre as manifestações ou se aproveitar delas para ressuscitar um som que já rolou? Vocês decidem). Já o Xará repete tanto o refrão em “Meu Império” que a música fica mais parecendo trilha sonora de fundo enquanto você trabalha do que uma “Dedo na Ferida”.

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Liink & Gordo – Filhos da Revolução

Há uma fita que me preocupa muito. Não sou governista, nem votei na Dilma, etc. Mas aí a turma chegar num rolê de impeachment, anti-partido, é osso. O pessoal na rua é importante, porém desde que exista uma pauta clara, se não é só uma forma de dar um rolê e voltar com as coxas assadas pra casa. Saca só o título (que sendo ou não alusão ao Renato Russo, me deixou triste) e a rima meio forçada sobre oxigênio e gás lacrimogênio. Não bateu também. Próximo som, DJ.

Fabio Brazza – “Acorda”

E assim atingimos o fundo do poço. O lance aqui é tão caricato – incluindo o olho roxo pintado – que nem se alguém disser que é piada eu boto fé. Brazza inaugura oficialmente o “rap da Veja”, aquele que critica a Globo, mas se informa completamente a partir dela. Se não se cuidar, numa dessas o menino ganha um olho roxo de verdade. #DescansaBrasil