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Música

'Ivete', o novo disco do Wado, é um tiquinho de Moraes Moreira com um pouco de Carlinhos Brown

O cantor tá pagando um pau pra música baiana e até o nome faz alusão ao axé.

Wado no lixão. Foto: Alzir Lima

Hoje é aniversário do Wado. Ele completa 39 anos exatamente nesta terça (5). Inclusive, parabéns aí, chapa.

Mas o Noisey não é o Vídeo Show e não é de praxe ficarmos dando um salve pros artistas que celebram suas primaveras. O motivo deste texto é outro, o Wado acaba de soltar Ivete, o seu nono disco solo e um tributo descarado à música baiana. Sacou agora a referência do nome, pimpão? Não teremos que explicar a piada, né? Ele dá o papo sobre o processo de criação. “O pilar do disco é de 85 pra 90. O espírito é homenagear esse axé do meio dos anos 80 pra frente, que é aquele som mais político e orgulhoso de raça.”

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O cantor, e a banda que o acompanha há mais de oito anos, deram uma mergulhada com snorkel nos sons da Bahia e buscaram nos blocos afros, no samba reggae, na música baiana da década de 1970 e no axé a sonoridade do álbum. “O disco poderia ser Margareth, Carlinhos, poderia ser Caetano também”, ele comenta.

“Um disco que foi importante pra gente fazer este trabalho foi o primeiro disco solo do Moraes (Moreira), que tem ali o lance da guitarra baiana”. Ele menciona também o DVD do Caetano Veloso Noites do Norte Ao Vivo e se rasga em elogios a Margareth Menezes. A Margareth é uma rainha africana, acho que ela faz um dos sons mais nobres do axé.”

Mas não espere do cantor catarinense/alagoano nada parecido com um cover de axé 90, a esquisitice indie e os pormenores característicos na obra de Wado estão lá bem de boa. “Não é a coisa pura, sou eu mexendo com aquilo”, enfatiza. Um desses momentos mais nítidos é na faixa “Samba de Amor”, talvez a que fuja mais da Bahia, é um samba torto mais comum na obra do cantor, mas há uma cortada na frequência dos sons graves depois do refrão que dá aquela agonia “gostosa” que você acostuma depois de um tempo. Há ainda “Amanheceu” e “Nós”, duas faixas que ainda trazem um lance mais rock, referências das últimas safras e dos intercâmbios em Portugal. O disco, é bem verdade, acaba com aquela melancoliazinha rivotril, mas não é algo que te faça desanimar depois de sete sons animados e dançantes.

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Capona bonita do disco. Arte: Dorgi Barros/Panan

O álbum de 10 faixas traz algumas coisas improváveis para quem acompanha a trajetória de Wado: há muitas versões. Ele fez uma releitura de “Um passo a frente”, de Moreno Veloso. “A ideia é jogar o Moreno Veloso dentro do Ásia de Águia”, ele brinca. Em “Terra Santa/Jesus É Palestino” ele traz um trecho de “Ralé”, canção que fez sucesso com a Timbalada e é composta por Carlinhos Brown, Gerônimo Santana e Alain Tavares.Tem ainda uma bela reconstrução de “Filhos de Gandhi”, de Gilberto Gil. “Eu acho essa música linda e na minha memória a versão clássica é do disco Gil & Jorge, que tem uma versão imensa de mais de 12 minutos. Pode existir, mas eu nunca vi essa música com arranjo de banda. Eu queria compilar os melhores momentos daquela versão e pegamos os momentinhos que achamos mais inspirados e montamos uma canção pop com batera, baixo e guitarra.”

1977, álbum de Wado lançado ano passado, tinha um clima mais roquista e invernal, menos Brasil e não foi necessariamente um sucessão. Ivete traz Wado de volta ao nordeste, às referências mais percussivas e ao balanço. O que pode parecer uma forçação é na verdade o mais natural para o cantor e para sua banda, que é toda de Alagoas e composta por Vitor Peixoto, Rodrigo Peixe, Dinho Zampie e Bruno Rodrigues, desde as antigas, e China Cunha e Luciano Brandão. “Pra gente que toca junto há oito anos, estamos no nordeste, fazer um disco de axé é só tocar, não é pensar muito. É o que a gente ouve há muitos anos”. Ao ser perguntado sobre a produção é categórico. “Esse disco não foi produzido, ele foi feito.”

Ouça Ivete com exclusividade no Noisey:

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