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Música

Esse Cara Resenhou Mais de 900 Filmes do Metal

A intenção no começo era fazer 666 resenhas, mas como nos Heavy Metal Movies, algo muito grave aconteceu e a experiência resultou em algo totalmente inesperado.

Conan o Bárbaro. Galáxia do Terror. Juventude Assassina. Doce Vingança. Nem todos esses filmes têm metal na trilha sonora nem mostram metaleiros na tela, mas como diz o escritor Mike "McBeardo" McPadden: "A gente sabe quando está vendo um filme heavy metal". Desde terror, ficção científica e fantasia até documentários sobre rock, desde o trash até o pornozão, o completo e divertido livro de McPadden, Heavy Metal Movies, deita e rola no sangue, nos peitos de fora e nos monstros saídos dos filmes mais escrotos que já existiram. A história pessoal do McPadden é igualmente fascinante: o que começou como um persistente interesse pela sordidez cinematográfica que se espalhava nas telas dos cinemas antigos e das casas de massagem da rua 42 acabou se transformando numa carreira na pornografia, passando por um desvio pelo abuso de drogas e álcool, e uma vida inteira obsessão por tudo o que tiver barulho, gente pelada e violência. Eis aqui como as coisas aconteceram.

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Noisey: Em termos de gêneros cinematográficos, em Heavy Metal Movies você fala de todos: terror, ficção científica, shows, documentários, animação, até mesmo alguns filmes que nunca foram lançados. Então o que torna um filme "heavy metal"?
Mike McPadden:Essa é a grande questão. Detesto ficar repetindo que "eu reconheço um quando vejo", mas é isso. A melhor analogia que me ocorre é esta: você olha pra um Chihuahua e depois para um Dinamarquês. Mesmo sendo muito diferentes, sabe que ambos são cães. Ou como quando você ouve Slipknot, depois Bathory, depois Poison. Você sabe que de alguma forma os três são heavy metal. Meu trabalho é isolar esse gene e apontá-lo em cada resenha. E segue fazendo o mesmo mais 666 vezes, ou o dobro disso, como eu fiz.

Então o plano inicial era escrever 666 resenhas de filmes?
Sim, essa era a jogada. Mas depois eu simplesmente continuei. Não sei o número exato de resenhas que entraram no livro, acho que são 900 e poucas. E tem mais umas 400 que ficaram de fora.

Na introdução do livro você explica que busca esse tipo de filmes desde que era criança. Sendo que agora está na casa dos quarenta, poderia ter escrito esse livro há muito tempo. Por que escolheu fazer isso agora?
Que ótima pergunta. Sabe, desde que me entendo por gente venho tentando escrever um livro sobre filmes. Mesmo quando não estava realmente tentando, era algo que eu tinha na cabeça. Quando era jovem minha Bílblia eram uns livros chamados Cult Movies, de Danny Peary. O primeiro foi lançado em '82 e durante os anos 80 saíram os seus derivados. Esses livros me levaram a pensar como escritor e a me empenhar para conseguir me comunicar dessa forma. Eu sentia uma atração natural por filmes, principalmente os menos convencionais, que tinham escapado à atenção geral. Ao mesmo tempo sou fanático por rock, principalmente nas suas formas mais extremas. Eu escrevia bastante sobre música para o New York Press, que era um jornal semanal nos anos '90.

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Então, por que justo agora? Tenho 45 anos, sou um ex-punk que sempre gostou muito também de metal. Em The Sound of the Beast, o Ian Christe [fundador do Bazillion Points] escreveu que o "o metal engoliu o punk e seguiu em frente". Com a explosão do metal nos século 21, meu interesse se focou mais do que nunca nesse gênero porque surgiu muita coisa nova e com muitas variações esquisitas. Sempre tive interesse em escrever sobre isso, também. As duas coisas se fundiram, pra mim, quando li um livro incrível chamado Destroy All Movies, uma história completa do punk no cinema, lançado pela Fantagraphics no final de 2010. O editor é um sujeito sensacional chamado Zack Carlson. O livro hoje está esgotado e é vendido por centenas de dólares na Internet. Mas ele é diferente do meu por ter sido escrito por uma equipe, se não me engano foram sete pessoas resenhando durante sete anos, tentando achar cada aparição de qualquer forma de punk rock em um filme ou trilha sonora. Eu consegui encontrar o livro na Quimby's Bookstore em aqui em Chicago, pois eu estou sempre por lá, e pensei: "Preciso escrever a resposta metal pra este livro". Foi o que aconteceu.

Como você disse, Destroy All Movies teve uma equipe por trás, portanto tem menos chances de ter deixado escapar algum filme. Você escreveu Heavy Metal Movies sozinho. Não teve receio de esquecer algo?
Ah, sim! Ainda tenho. Até o último minuto, quando a Bazillion Points estava prestes a mandar o livro pra impressão, eu pensava "Merda! Não escrevi sobre Fantomas!". Mas aí era tarde demais, então a resenha de Fantomas vai ficar pro segundo volume. Mas se eu voltar a escrever um livro com esse escopo, será com a ajuda de um time de pessoas. Eu, minha esposa e minha saúde mental não vamos passar por isso de novo! [risos] Na verdade estou trabalhando num livro sobre comédias sexy para adolescentes dos anos 70 e 80. Zack Carlson, o editor de Destroy All Movies, estava originalmente trabalhando nisso com um monte de outros caras. Tiveram uma ideia perfeita para o título, que é Bonerz! (“ereções”, em inglês) mas não deram conta do projeto e o abandonaram, me deram o título e falaram "vai com Deus".

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Quando você era menino, seu método para decidir quais filmes iria ver consistia em escolher os que Leonard Maltin definia como "bombas" no Movie Guide. Como você entendeu que se o Leonard Maltin odiava um filme, você provavelmente iria gostar?
[Risos] Sim, dizia "BOMBA!" em letras maiúsculas. Nada contra o Len, porque ele é o único que ainda mantém viva a memória de Os Batutinhas, e eu aprecio isso. Mas quando eu era bem jovem, me sentia atraído por filmes de monstros e todo aquele mundo bizarro. Meus avós tinham em casa um livro do Leonard Maltin, então comecei a procurar coisas que me interessassem, por exemplo, tudo o que tivesse a palavra "Frankenstein" no título. E percebi que o autor havia marcado esses filmes como bombas. Por natureza, eu sabia que seriam as coisas melhores. Claro que também tinham os títulos mais interessantes, como Donzelas de Fogo Vindas do Espaço ou As Criaturas Incrivelmente Estranhas que Deixaram de Viver e se Tornaram Zumbis Confusos. Leonard e sua equipe escreveram um guia muito útil. Providenciaram um serviço muito valioso, talvez sem se dar conta.

Desde o início dos anos 90 até o início dos 2000, você publicou um zine chamado Happyland. Estilisticamente, ele foi de muitas formas o precursor de Heavy Metal Movies.
Trabalhei nele inconstantemente durante uma década. Publiquei sete edições nos primeiros três anos e depois parei por um tempão. E aí aconteceu o 11 de setembro e parecia mesmo que o mundo iria acabar então eu achei melhor fazer alguma coisa. Publiquei três edições gigantes de Happyland. Era um daqueles típicos zines de ódio dos anos 90, feitos com xerox e grampeador.

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Minha inspiração direta foi um cara chamado Richard Sullivan, que publicava um zine chamado Gore Gazette. Era bem parecido com outro zine chamado Sleazoid Express, publicado por Bill Landis, que já morreu. Bill fazia a cobertura do que passava nos cinemas da rua 42, entre 1980 e 1986. Eu não percebia na época, mas o Sleazoid Express era realmente o sub-esgoto daquela cultura. Não chegava até a imprensa mainstream mas era excelente, porra.

E com relação ao tom, quais influências você citaria?
Howard Stern era uma das minhas principais influências na época. Não o Howard Stern de hoje, de America's Got Talent, mas sim a ideia de se comunicar de forma muito direta e muito obscena, mas com um grande senso de humor. O Happyland era sobre isso: ficar doidão, usar drogas, ir aos cinemas da rua 42, ver shows de bandas e tirar sarro das pessoas.

É por isso que você usava um pseudônimo, porque tirava sarro das pessoas?
Não, eu só achei que "Selwyn Harris" era um nome legal. E aqueles foram as duas últimas salas de cinema que permaneceram abertas: a Selwyn e a Harris. Sou super fã de pseudônimos em geral. É como comparar Iggy Pop com James Osterberg.

Você foi o principal autor do site Mr. Skin nos últimos 11 anos. Como você entrou na industria pornô?
Através do Happyland. O slogan do zine era "as comoventes aventuras de um garoto e seu pinto". Era sobre shows de mulher pelada, transar, trepar, sobre a obscenidade de Nova York por volta de '91. Uma amiga minha era recepcionista na New York Press e levou o zinepra lá. O diretor de arte na época, Michael Gentile, havia trabalhado na revista pornô Hustler e achou Happyland engraçado pra cacete. Assim comecei a escrever como freelancer para a Press e o Michael enviou cópias do zine para o editor da Hustler na época, Allan MacDonell, que aliás escreveu um ótimo livro sobre o assunto chamado Prisoner of X. O Allan me chamou e me ofereceu trabalho como freelancer. Em '93 me mudei para Los Angeles e fui editor de entretenimento da Hustler por três anos. Mas a Hustler é um péssimo lugar pra trabalhar.

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Você também trabalhou duas semanas na Troma, a usina de files D por trás de O Vingador Tóxico. O que aconteceu?
Depois da Hustler trabalhei em algumas outras revistas pornôs como Genesis e High Society. Também tinha um problema seríssimo com álcool e drogas. Quando me reabilitei entrei em pânico pensando que ninguém iria me empregar por causa do meu currículo. Mas eu havia escrito artigos sobre a Troma. Odeio a porra da Troma e espero que isso fique claro no livro. Odiava na época e sigo odiando agora. Até gostava do Vingador Tóxico quando estava no colegial, mas não suporto mais nada do que eles fizeram. Depois que se tornaram a Troma atrapalhada, no estilo "somo trash!", pensei que tinham mais é que se foder. Mas eu tinha escrito alguns artigos sobre a Troma pra Genesis, então eles me deram um trabalho de merda. Era do nível mais baixo, rastreando cópias dos filmes. Era tão ruim quanto parece e eu caí fora depois de duas semanas. Foi algo estúpido de se fazer, mas eu não aguentava nem mais um minuto. Uma vez o co-fundador da Troma, Lloyd Kaufman, me pediu para ser o ghost-writer da sua autobiografia. Eu aceitei e, juro por Deus, o contrato dizia "pela quantia de zero dólares".

Que babaca.
[Risos] Não dava pra acreditar naquilo. Parecia uma piada dos Simpsons. Então não fiz. Mas o cara que acabou sendo o ghost-writer do livro se chama James Gunn, e hoje é um diretor estabelecido em Hollywood. Então, ops. Mas também nunca fui pago pelas duas semanas que trabalhei na Troma. Na verdade, meu pagamento foi nunca mais ter que falar com aquela gente.

J. Bennett até hoje não terminou de ver O Vingador Tóxico.

Heavy Metal Movies está disponível para pré-encomenda na Bazillion Points.