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Música

Treze anos depois, o Sneaker Pimps vai lançar um disco novo

O novo trampo não tem nome nem data de lançamento, mas o vocalista Chris Corner diz que a banda quer voltar às raízes e “focar na essência daquilo que eu e o Liam criamos”.

Divulgação.

Você nem deve se lembrar, mas, entre a ressaca da morte do grunge e o oba-oba durante o crescimento do britpop, um outro estilo floresceu na segunda metade da década de 90. Foi o auge do triphop, que trazia para o mainstream batidas de dub e hip-hop encharcados por sons climáticos e vocais femininos charmosos. Em 2016, completam-se 20 anos do primeiro lançamento de um dos principais nomes do movimento, o Becoming X dos ingleses do Sneaker Pimps.

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Em 1997, a Folha de S.Paulo apresentava aos brasileiros o disco assim: "Grande álbum de triphop, sem aquele experimentalismo, que às vezes chega a incomodar".

A comemoração poderia passar com as típicas reedições de luxo do disco feitas para tiozões endinheirados, mas parece que o aniversário irá além disso. Parados desde 2003, os Sneaker Pimps preparam uma volta, incluindo o lançamento de material inédito. Parecia um retorno improvável dada a natureza do seu fim e o rumo tomado pelas carreiras de seus principais integrantes. E a gente foi tentar sacar o que realmente se passa nos bastidores da banda.

A curiosidade dos fãs foi provocada em 14 de dezembro de 2015 em um tuíte no perfil oficial da banda. Ele dizia: "Oficialmente trabalhei hoje em uma música nova do Sneaker Pimps. 2016 será interessante!"

O autor da mensagem era Liam Howe, um dos fundadores dos Pimps. Ali, estava claro que ele havia voltado a trabalhar com a outra metade importante da banda, o vocalista e compositor Chris Corner.

A comoção entre aqueles que acompanharam a banda nos seus dias de glória se justifica. O Sneaker Pimps nunca foi muito bom ao promover transformações. Depois da turnê de Becoming X, a vocalista Kelli Dayton ganhou um belíssimo pé na bunda. Mesmo com o disco tendo vendido mais de um milhão de cópias, o grupo decidiu que seria melhor se Corner, até então guitarrista, assumisse os vocais — e até aqui não há indicação de que Dayton estará no retorno.

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Anos depois, o fim da banda também aconteceu de sopetão, com uma mensagem no site da banda. O material que estaria no quarto álbum do grupo foi parar na carreira solo de Chris Corner.

Para quem não associou nomes ainda, Chris Corner seguiu como IAMX e tocou o barco como artista independente. Desde 2004, são seis discos lançados e uma base sólida de fãs principalmente na Europa, o que fez com que ele se mudasse para Berlim, onde morou até 2014. Enquanto isso, Liam Howe se tornou um produtor de respeito, pondo a mão em 19, da Adele, e Born to Die, da Lana Dey Rey.

Chris Corner. Divulgação.

Corner e Howe, porém, voltaram a trabalhar juntos em 2012, durante a produção de Unified Fields, quinto disco do IAMX. Howe ajudou a produzir, compor e tocar algumas das canções do disco. O produtor também aparece nos agradecimentos de Metanoia, trabalho mais recente do IAMX, lançado em junho de 2015.

Mas, enfim, o que podemos esperar desse retorno? O próprio Corner dá a letra em entrevista exclusiva para o Noisey: "Queremos voltar às raízes e focar na essência daquilo que eu e o Liam criamos", diz.

Isso significa músicas inéditas. Os dois se encontraram para sessões de gravação no último mês de maio e, pelo menos, oito novos sons já foram registrados segundo as redes sociais dos artistas. Em uma dessas postagens, Corner mostrava uma foto de seu desktop com um folder batizado de Sneaker Pimps 4. Movido pela minha incontrolável curiosidade, só posso perguntar: MANO, O QUE TEM AÍ DENTRO?

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"Muitas músicas novas, 'cool sounds' empolgantes e algumas vozes novas", diz. Ele não fala claramente, mas não é difícil imaginar a participação de Janine Gezang, desde 2006 vocalista e tecladista da banda que o acompanha nos shows do IAMX.

O fato é que, talvez, Corner estivesse sentindo falta de trabalhar com outras pessoas. Na época de Unified Fields, ele havia declarado que compor e produzir sozinho o estava fazendo andar em círculos e se comer de dentro para fora, o que não era algo "bom".

Para a gente, ele repetiu a angústia de trampar solitariamente: "Compor para o IAMX é uma experiência mais singular e intensa. Sinto que posso dizer absolutamente qualquer coisa e isso é muito libertador. Mas, às vezes, pode ser um pouco isolado, e carregar o fardo da arte pode ser pesado demais. Colaborar com outras pessoas pode ser mais leve e mais divertido e pode tirar você da sua própria mente. As duas situações têm pontos fortes".

Ainda não há data para o lançamento do novo material e nem sabemos como isso será feito, mas Corner abre uma possibilidade para uma iniciativa que já teve muito sucesso com o IAMX. Em seus dois últimos discos, ele recorreu ao financiamento coletivo na plataforma Pledgemusic. Unified Fields superou a meta em 817%, enquanto Metanoia passou o valor pedido em 214%.

"As duas campanhas no Pledge tiveram um sucesso chocante para uma banda independente como o IAMX. Foi uma maneira de ficar mais perto dos fãs, de manter a liberdade criativa e de mandar a indústria corporativa da música se foder. Eu consigo com certeza imaginar recorrer novamente ao financiamento coletivo no futuro", diz ele.

Há duas décadas, o Sneaker Pimps teve seus discos lançados pela Virgin. Saiu até no Brasil (ê saudades de quando os discos saíam por aqui!). Mas o futuro ainda é incerto. E o mundo corporativo a que se refere Corner continua a existir até em volta dele. Para negociar esta entrevista, as pessoas que tomam conta da carreira dele permitiram apenas uma pergunta citando nominalmente o nome dos Sneaker Pimps. No resto, tivemos que dar nossos pulos. Também negaram qualquer contato com Liam Howe.

Enquanto se prepara para a reunião dos Pimps, Corner ainda trabalha para botar na estrada uma nova turnê do IAMX no segundo semestre. Afirma que o Brasil está na lista, mas que uma visita depende de dinheiro e política. Diz: "Tenho muito interesse na arquitetura de Brasília e adoraria conhecer a cidade".

Agora, é esperar para ver onde isso vai parar. O certo é que 20 anos depois Becoming X não terá um aniversário silencioso. Ainda bem.

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