​2016, o ano que a ciência brasileira tentará esquecer
Mas será possível sonhar com algo melhor quando medidas como a PEC 55 vão diminuir consideravelmente o orçamento disponível para a pesquisa no país? Crédito: Quinnanya/ Flickr

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Tecnologia

​2016, o ano que a ciência brasileira tentará esquecer

Mas será possível sonhar com algo melhor quando medidas como a PEC 55 vão diminuir consideravelmente o orçamento disponível para a pesquisa no país?

Ninguém foi poupado. Não importa seu time, filiação partidária ou seu favorito no Masterchef, este ano que acaba foi terrível. Mas a pesquisa brasileira sofreu golpes particularmente duros, especialmente a partir da gestão Temer. Já que 2016 provou que tragédia pouca é bobagem, fizemos uma retrospectiva só com os piores momentos da ciência nacional – embora os próximos anos não sejam nada promissores.

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A PEC não poupa ninguém

Se houve algo de razoavelmente democrático nestes meses de gestão Temer, foi a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 55, que irá causar estragos em diversas áreas do Estado brasileiro. Ao condicionar qualquer aumento de verba à taxa da inflação, condenou a ciência nacional a manter um orçamento que já era muito baixo: em 2015, o extinto Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (mais sobre isso abaixo) teve sua menor verba em sete anos (R$ 4,6 bilhões). E esse cenário deve perdurar pelos próximos 20 anos.

Saudosa maloca

Temer também decidiu acabar com a moleza dos cientistas (contém ironia, ok?) e fundiu o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação à pasta das Comunicações. Entidades importantes como Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foram contra a ideia, mas não adiantou. Além de perder autonomia, a ciência tem de dividir o já minguado dinheirinho com outra pasta, com prioridades e (por que não?) uma visão de mundo muito diferente.

Tesoura nervosa

A PEC não foi a única fonte de infortúnios. Os cortes foram generosos. Sem fazer alarde, o CNPq tesourou em agosto 20% das bolsas de iniciação científica) oferecidas a estudantes do ensino médio e da graduação. Pesquisadores do CNPq acusaram o governo de reduzir em até 30% a verba destinada às bolsas de produtividade.

Viagem cancelada

O Ciência Sem Fronteiras se viu cercado por limitações. Os estudantes de graduação não poderão mais participar do programa, uma vez que o governo restringiu a concessão das bolsas aos pós-graduandos. Foi uma grande baque, já que 70% dos benefícios é concedido aos graduandos. Em junho, alunos do doutorado que já estavam no exterior afirmaram que a Capes cortou bolsas sem justificativa. Mas o governo nega que vá extinguir o programa.

Apertem os cintos

Uma vez aprovada a PEC 55, as perspectivas são ainda piores. Os parcos recursos disponíveis serão disputados a tapa. As áreas de pesquisa com maior sintonia com o mercado e os interesses do governo terão prioridade na hora de passar o chapéu. As ciências humanas certamente sofrerão (ainda mais); um bom indício é a reforma do ensino médio, que acabou com as disciplinas sociologia e filosofia. O pior ainda está por vir.

Diogo Antonio Rodriguez é jornalista e editor do meexplica.com. Na coluna Motherboard Destrincha, ele resume os assuntos mais intrincados da ciência e da tecnologia. Siga-o noTwitter.